JULGAMENTO DO CASO MILENA GOTTARDI

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Hilário bebia muito e gastava demais para manter alto padrão de vida, diz irmão de Milena

Em seu depoimento, nesta quinta-feira, Douglas Gottardi afirmou que a médica sofria com os excessos do ex-marido no uso de bebidas alcoólicas e nos gastos

Rodrigo Araújo , Marcelo Pereira

Redação Folha Vitória
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Foto: Divulgação
Hilário Frasson é acusado de ter encomendado o assassinato da ex-esposa, Milena Gottardi
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O irmão da médica Milena Gottardi, assassinada a tiros em setembro de 2017, foi a última testemunha de acusação a prestar depoimento no júri popular dos seis acusados de participação no homicídio. 

A oitiva de Douglas Gottardi Tonini começou por volta das 9h25 desta quinta-feira (26) e durou quase seis horas, terminando às 15h17. Além da acusação, ele respondeu aos advogados de defesa de todos os réus.

Em seu depoimento, Douglas confirmou que a irmã sofria no casamento pelo fato de Hilário Frasson, ex-marido de Milena e acusado de ser um dos mandantes do crime, estar cada vez mais dependente de bebida alcoólica e não conseguir parar de gastar dinheiro para manter o alto padrão que possuía quando era assessor do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES).

A testemunha contou que, na época em que Milena foi estudar especialização médica em São Paulo, o pai de Hilário, Esperidião Frasson, também acusado de encomendar o crime, fez uma doação em dinheiro para os dois filhos: Hilário e Luciana. O dinheiro havia sido adquirido por meio da venda de um terreno.

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A irmã de Hilário utilizou o dinheiro para comprar um terreno em Timbuí, distrito de Fundão. Já o ex-policial civil, segundo Douglas, não tinha controle sobre os gastos e sobre a bebida. 

De acordo com a testemunha, Hilário bebia todos os dias e chegou a lhe dizer uma vez: "Se eu não virar alcoólatra agora, não viro nunca mais".

Douglas relatou que, na época, Milena ligou para o sogro, dizendo que Hilário estava usando o dinheiro da doação do pai para pagar dívidas que ele havia adquirido por beber demais. A vítima disse ainda que o dinheiro não estava chegando até ela, para ajudá-la a custear a vida em São Paulo.

A informação foi trazida à tona pelo irmão de Milena após a defesa de Esperidião contestar a declaração de que a médica bancava grande parte dos luxos de Hilário e que o pai dele não ajudava nesse custeio.

Ao depor para a defesa de Hilário, Douglas Gottardi disse que Milena incentivava constantemente o marido a procurar ajuda profissional, de um psicólogo ou psiquiatra, por exemplo, devido a seus quadros de depressão e de descontrole com a bebida. "Mas ele não dava continuidade aos tratamentos", relembra.

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O depoimento de Douglas não foi acompanhado pelos réus. Zilca Gottardi Tonini, mãe dele e de Milena, esteve no salão do júri para assistir à oitiva do filho. No entanto, ela deixou o local quando os advogados de Hilário começaram a fazer perguntas à testemunha.

Relação com Esperidião

O advogado de Esperidião também perguntou a Douglas como era o relacionamento dele com o sogro de Milena. 

Foto: Facebook/Reprodução
Douglas Gottardi prestou depoimento por quase seis horas nesta quinta-feira

O irmão da médica disse que o convívio com acusado era esporádico, já que Esperidião morava num sítio em Timbui. Disse ainda que a irmã nunca havia se queixado de alguma grosseria por parte do sogro.

Douglas relatou que, depois que o pai dele e de Milena morreu, em 2001, passou a cuidar do sítio da família. Segundo ele, Hilário ajudava levando funcionários para manutenção ou outra obra. 

No entanto, Douglas frisou que todo o serviço feito no local não era gratuito e que ele pagava tudo para Esperidião.

A testemunha ressaltou ainda que, após obter a guarda definitiva das sobrinhas, mantém a visita delas aos avós paternos, apesar de se sentir desconfortável e também por causa da opinião contrária de sua mãe. 

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"Faço isso por causa de Milena, que, na época da separação, não queria afastar as crianças dos primos e dos avós", afirmou.

Leia também: Irmão de Milena chora ao falar que sobrinha pediu a volta da mãe como presente de aniversário

Separação: Hilário teria feito "teatro" no dia de sair de casa

O irmão da vítima também lembrou que, no dia em que Hilário teve de sair do apartamento que vivia com a médica para que Milena retornasse com as crianças, o cunhado telefonou para ele, para que ele o ajudasse a fazer as malas.

A testemunha disse que, quando chegou ao local, as malas já estavam prontas. E Hilário, segundo ele, começou a ter um ataque de nervos, chorando e se agarrando à cama do casal, ao guarda-roupa e dizendo que não teria mais nada.

"Para mim, tudo aquilo foi teatro, pois as malas já estavam prontas. Ele queria dirigir, mas eu não deixei. Foi no carro comigo, botou a arma que carregava entre as pernas. Pensei que ele iria fazer alguma loucura comigo. Dirigi até a minha casa e não pedi que ele entrasse. Ele foi para um hotel", relatou.

Perdão à família de Milena

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Por sua vez, o advogado de Dionathas Alves Vieira, acusado de ser o executor do assassinato de Milena, e Bruno Rodrigues Broetto, apontado pelo MPES como o responsável por fornecer a moto para Dionathas cometer o crime, aproveitou o momento para pedir perdão a Douglas e Zilca, em nome de seus clientes. 

Leonardo da Rocha Souza disse ainda que espera que a justiça seja feita e que os verdadeiros culpados sejam punidos.

O advogado perguntou a Douglas se ele conhecia Bruno, mas o irmão de Milena disse que nunca tinha ouvido falar do rapaz.

Douglas diz que e-mail de Milena é falso

Durante o depoimento, um dos jurados pediu que Douglas respondesse sobre o e-mail apresentado pela defesa de Hilário, que teria sido enviado por Milena e que, segundo os advogados do réu, comprova que a médica pensava em reatar o relacionamento, além de dizer que estava se sentindo confusa no momento em que entrou na Justiça contra o marido. 

O irmão da vítima disse que, na época em que o e-mail teria sido enviado, estava com Milena, dormindo no apartamento para onde ela foi após sair de casa. 

Ele afirma que a médica não teria condições de ter enviado a mensagem no dia 5 de abril de 2017, data atribuída ao e-mail, pois naquele dia não viu a irmã se aproximar de celular ou notebook.

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"Além disso, o e-mail que recebi dela no dia 12 de setembro era de outro endereço", completou. Na mensagem enviada ao irmão, a médica anexa a minuta do pedido de separação com Hilário.

Promotor avalia depoimento de Douglas

Para o promotor Leonardo dos Santos, que avaliou o término dos depoimentos das testemunhas de acusação, esses testemunhos só fortalecem que a condenação é necessária. 

"Além disso, elas incluíram elementos que não havia nos autos, como o relacionamento entre Hilário e a filha mais velha, o tratamento agressivo de Hilário com dona Zilca. E também como a agressividade de Esperidião e Hilário só aumenta à medida que a decisão de Milena se fortalece em querer a separação. 

Foto: Marcelo Pereira / Folha Vitória
Para Leonardo dos Santos, os depoimentos das testemunhas reforçam a tese da acusação

O promotor também comentou sobre uma declaração de Douglas, que acredita que Hilário possa ter forçado Milena a ter relações sexuais com ele na época em que os dois estavam em processo de separação.

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"Um ponto que se destaca é a repugnância de Milena em relação a Hilário frente ao que aconteceu da noite do dia 5 para o dia 6 de março de 2017, após a festa de aniversário dela, em que Hilário bebeu muito. Algo muito grave aconteceu naquele dia, segundo o relato do Douglas, porque, a partir desse dia, ela passou a ter nojo do Hilário. Pode ter ocorrido uma violência sexual, um estupro ou uma tentativa. A partir daí, ela fica com mais vontade de se separar, passa a ter nojo de Hilário, mais do que raiva", comentou.

Leonardo dos Santos também falou sobre o e-mail apresentado pela defesa de Hilário, como sendo de autoria de Milena Gottardi.

"A questão do e-mail apresentado pela defesa foi rechaçada também pelo Douglas. Essa prova foi totalmente desmontada pelo irmão de Milena ao dizer que o e-mail que recebeu era outro. Não era o que Milena usava para se comunicar com ele", declarou.

Defesa de Hilário contesta depoimento

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Sobre a desconfiança de Douglas de que Hilário teria forçado Milena a ter relações com ele, o advogado de defesa do réu, Rodrigo Bandeira de Mello, explicou que tal argumento se trata de uma percepção de um irmão zeloso, visto que Milena teria falado com ele que estava com nojo de Hilário. 

Foto: Iures Wagmaker/Folha Vitória
Rodrigo Bandeira de Mello contestou alguns pontos do depoimento de Douglas Gottardi

No entanto, segundo o advogado, entre ter repulsa e ser obrigada a fazer sexo à força há uma grande diferença. 

"Por isso, é importante ressaltar que foi claramente uma dedução do irmão, uma vez que não existe nenhuma outra evidência no processo que comprove esse fato imaginário. Não há nem mesmo uma fala sequer da própria Milena ou mesmo das amigas confidentes e testemunhas sobre esse assunto", afirmou.

O advogado de defesa disse ainda que respeita a família de Milena Gottardi, mas afirma que o que foi dito pelo informante foi o que ele acha, algo oriundo da cabeça dele. 

"Ademais, o informante já prestou dois depoimentos e nunca relatou tal fato. É um achismo dele, sem qualquer indicativo nos autos", completou.

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Sobre o e-mail, Leonardo Gagno, também advogado de defesa de Hilário, explicou que a mensagem foi transmitida do endereço eletrônico da Milena para o do seu cliente.

“Há dois anos, foi feita uma ata notarial para comprovar que a mensagem foi retirada do e-mail do Hilário, para onde ela foi enviada por Milena. Lembrando que ele foi preso semanas após o crime e não tem acesso à internet. Ele me forneceu a senha e me autorizou a entrar em sua nuvem, onde está o e-mail”, afirmou o advogado.

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