JULGAMENTO DO CASO MILENA GOTTARDI

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Defesa pede que réus do caso Milena Gottardi não se aproximem de Dionathas durante julgamento

Dionathas Alves Vieira é acusado de ser o executor do assassinato da médica, ocorrido em 2017. Segundo advogado, objetivo é preservar a integridade física do réu e evitar que ele sofra interferência de terceiros em seu depoimento

Rodrigo Araújo

Redação Folha Vitória
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Foto: Divulgação
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O advogado Leonardo da Rocha de Souza, que defende os réus Dionathas Alves Vieira e Bruno Rodrigues Broetto no caso do assassinato da médica Milena Gottardi, pediu à Justiça para que, durante o júri popular, que começa na próxima segunda-feira (23), Dionathas não tenha contato com os acusados de serem os mandantes e intermediadores do crime.

O motivo do pedido, segundo o advogado, é preservar a integridade física do réu, acusado pelo Ministério Público Estadual (MPES) de ser o executor do assassinato, além de permitir que ele possa esclarecer à Justiça todas as circunstâncias do crime, sem a interferência de terceiros.

"O depoimento dele tem sido determinante para o esclarecimento dos fatos. Ele sabe que está mexendo com pessoas poderosas e muito perigosas. Ao longo do processo, já houve tentativa de coação contra o Dionathas e oferecimento de vantagens durante as audiências", alegou Leonardo de Souza.

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Sobre a estratégia a ser utilizada durante o julgamento, o advogado afirmou que, no caso de Dionathas, a ideia é falar toda a verdade sobre os fatos.

"Desde que assumi o caso, falei com ele que, em um processo criminal como esse, nem sempre a negativa da autoria é a melhor alternativa. Ele então resolveu colaborar e disse que estava disposto a dizer toda a verdade. Na sexta-feira (19), vou visitá-lo e vou reforçar essa orientação, de que ele não fale nem mais nem menos do que a verdade. E que a Justiça condene os verdadeiros culpados", afirmou.

Já com relação a Bruno, a tentativa será de provar que ele não teve envolvimento com o assassinato de Milena Gottardi. De acordo com a denúncia do MPES, Bruno foi o responsável por roubar a moto utilizada por Dionathas para matar a médica.

"O caso do Bruno é um grande desafio, já que, em crimes dessa natureza, há uma tendência natural pelo linchamento público. As pessoas, em seus julgamentos, acabam colocando tudo no mesmo pacote, fazendo um combo. Então vou procurar individualizar a conduta de cada um. Assim, o conselho de sentença verá facilmente a inexistência total de provas seguras que possam levar à condenação do Bruno", destacou Leonardo de Souza.

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Dionathas e Bruno estão presos no Centro de Detenção Provisória de Guarapari. Ambos foram denunciados pelo crime de feminicídio. Dionathas também responde por fraude processual.

Foto: TV Vitória
Leonardo da Rocha de Souza afirmou que a intenção foi preservar a integridade física de Dionathas e evitar que ele sofra interferência de terceiros em seu depoimento

O advogado Leonardo Gagno, que faz a defesa do ex-policial civil Hilário Frasson, ex-marido de Milena Gottardi e acusado de ser um dos mandantes do assassinato, comentou o pedido feito pela defesa de Dionathas.

"As informações do Dionathas são fantasiosas. O intuito dele é o de se vitimizar. Por isso, ele está denegrindo a imagem dos demais réus. Ao passar essa falsa mensagem, Dionathas está buscando minimizar a culpa que recairá sobre ele", declarou Gagno.

A reportagem do Folha Vitória também tentou contato com os advogados de defesa de Esperidião Carlos Frasson, pai de Hilário e também acusado de encomendar o assassinato de Milena Gottardi, e de Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho, apontado como um dos intermediadores do crime. No entanto, não houve retorno.

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Já o advogado Alexandre Lyra Trancoso, responsável pela defesa de Valcir da Silva Dias, outro acusado de intermediar o crime, preferiu não dar declarações.

Como será o julgamento do caso Milena Gottardi

O júri popular dos seis acusados de envolvimento no assassinato de Milena Gottardi começará às 9 horas da próxima segunda-feira (23). Ele será realizado no Fórum Criminal de Vitória, no Centro da capital, e será presidido pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória, Marcos Pereira Sanches.

>> Entenda como vai funcionar cada etapa do júri do caso Milena Gottardi

O julgamento, segundo o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), pode, inicialmente, ter a duração de uma semana. As etapas dos trabalhos podem durar mais tempo, devido ao número de réus e de testemunhas. Serão 29 ao todo, sendo 19 convocadas pelas defesas dos acusados e dez pela acusação. 

Quem são as testemunhas do processo:

Ministério Público

1 - Aline Coelho Moreira Fraga
2 - Maria Isabel Lima dos Santos
3 - Lícia Maria Araújo Maia
4 - Investigador PCES Igor de Oliveira Carneiro
5 - Delegado PCES Janderson Birschner Lube
6 - Marcelle Gomes da Cruz
7 - Fernanda Coutinho Lopes Raposo
8 - Ana Paula Protzzner Morbeck
9 - Douglas Gottardi Tonini

Assistente de acusação

1 - Shintia Gottardi de Almeida

Defesa réu Hilário

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1 - João Guilherme Souza Pelição
2 - Rodrigo Alves Alver
3 - Tarcísio Fávaro
4 - Moisés da Silva Soares
5 - Arnaldo Santos Souza

Defesa réu Esperidião

1 - Valdemir Nascimento Lima
2 - Paulo Renato Magvesky
3 - Luciano Nunes Bermudes
4 - Maria Arlinda Bermudes Palauro
5 - José Ferreira Campanholi

Defesa réu Dionathas

1 - Juliana Pábula Brozeguini Batista
2 - Paola Laghasse
3 - Diana Aparecida Pereira
4 - Myller Maradona Pereira Amorim
5 - Julianny Pereira Soares

Defesa réu Bruno

1 - Douglas Miranda Santana
2 - Pedro Carlos Nieiro
3 - Maria das Graças Coelho Nieiro
4 - Claezi Demonei dos Santos

*Os réus Hermenegildo e Valcir não arrolam testemunhas

Relembre o assassinato de Milena Gottardi

O assassinato de Milena Gottardi aconteceu na tarde do dia 14 de setembro de 2017 e ganhou grande repercussão no Espírito Santo. A vítima atuava como pediatra oncológica no Hospital das Clínicas, em Maruípe, Vitória.

Quando saía de um plantão, acompanhada de uma amiga, a médica foi abordada, no estacionamento do hospital, por um homem armado, que chegou a anunciar um assalto.

Milena e a amiga chegaram a entregar os pertences ao suposto assaltante. Quando elas se dirigiam ao carro, o criminoso atirou três vezes em direção à pediatra, atingindo a mesma na cabeça e na perna, e fugindo posteriormente. A médica foi socorrida e internada em um hospital, mas morreu no dia seguinte.

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A Polícia Civil agiu rápido e, dois dias após a médica ser baleada, dois suspeitos de envolvimento no crime foram detidos: Dionathas Alves Vieira, acusado de ser o executor do crime, e Bruno Rodrigues Broetto, apontado pela polícia como o responsável por conseguir a moto utilizada por Dionathas no dia do assassinato.

A prisão dos suspeitos aconteceu praticamente ao mesmo tempo em que o corpo de Milena era sepultado em Fundão, município onde a médica nasceu e foi criada e onde grande parte de sua família ainda mora.

Com a prisão da dupla, a polícia começou a desvendar o crime e provar que Milena não havia sido vítima de um latrocínio — como fez parecer o autor dos disparos — mas sim de um crime de mando. Faltava, no entanto, chegar aos mentores do assassinato.

Para conseguir as provas necessárias, a Polícia Civil conseguiu, junto à Justiça, que as investigações corressem sob sigilo. Isso porque o principal suspeito de encomendar a morte de Milena era o ex-marido dela, o então policial civil Hilário Antônio Fiorot Frasson, que atuava como assessor técnico do gabinete do Chefe da PC, Guilherme Daré.

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A ideia da Secretaria de Estado da Justiça (Sesp) era justamente impedir que Hilário tivesse acesso às provas obtidas pela Delegacia Especializada em Homicídios Contra a Mulher (DHPM), que conduzia o inquérito.

A prisão de Hilário aconteceu no dia 21 de setembro, exatamente uma semana depois do assassinato de Milena. Ele foi preso na Chefatura da Polícia Civil e encaminhado para um anexo da Delegacia de Novo México, em Vila Velha, onde ficam os policiais civis que são presos.

Mais cedo, no mesmo dia, a polícia havia prendido o pai dele, Esperidião Carlos Frasson, apontado como o outro mandante do crime, e Valcir da Silva Dias, acusado de ser um dos intermediadores do assassinato.

Segundo a polícia, o outro intermediador foi Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho, que foi preso no dia 25 de setembro.

Todos os seis suspeitos de envolvimento no assassinato de Milena Gottardi foram autuados pela Polícia Civil, que concluiu o inquérito referente ao crime no dia 18 de outubro. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público Estadual (MPES), que, no dia 27 de outubro de 2017, denunciou os seis indiciados à Justiça.

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A denúncia foi aceita no dia 1º de novembro daquele ano pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória, Marcos Pereira Sanches, que decretou a prisão preventiva dos seis acusados — que até então cumpriam prisão temporária. Caso sejam condenados, eles poderão pegar até 30 anos de prisão.

Hilário, Esperidião, Valcir, Hermenegildo e Dionathas foram denunciados pelos crimes de homicídio qualificado, feminicídio e fraude processual. Já Bruno responde pelo crime de feminicídio.

Entenda a participação de cada réu no caso

As investigações concluíram que Hilário e Esperidião encomendaram o assassinato de Milena Gottardi por não aceitarem o fim do casamento entre ela e o então policial civil. Para isso, eles teriam contratado Valcir e Hermenegildo para dar suporte ao crime e encontrar um executor.

Ainda segundo a polícia, Dionathas Alves foi o escolhido para executar o "serviço" — como os envolvidos se referiam ao assassinato da médica. Para isso, ele receberia uma recompensa de R$ 2 mil.

Foto: Arte/ Júlio Lopes

Dionathas teria usado uma moto, roubada pelo cunhado Bruno, para seguir de Fundão até Vitória e matar Milena.

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O veículo foi apreendido em uma fazenda em Fundão, no mesmo dia em que Dionathas e Bruno foram presos. O executor confesso do assassinato disse à polícia que o crime foi planejado durante cerca de 25 dias.

O inquérito, no entanto, aponta que o planejamento do homicídio começou pelo menos dois meses antes do crime. Segundo as investigações, os seis acusados de envolvimento na morte de Milena Gottardi trocaram 1.230 ligações e formaram uma rede de comunicação antes e após o crime.

Depoimentos de quatro suspeitos de envolvimento do crime detalharam como foi o planejamento do assassinato da médica.

De acordo com informações da Secretaria de Estado da Justiça, Hilário Frasson está preso na Penitenciária de Segurança Média I; Esperidião Frasson, no Centro de Detenção Provisória de Viana II; Valcir, no Centro de Detenção Provisória de Vila Velha; Hermenegildo, no Centro de Detenção Provisória da Serra; e Dionathas e Bruno, no Centro de Detenção Provisória de Guarapari.

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