Grand Parc: relatório aponta graves erros de construção que teriam causado o desabamento
Relatório preliminar da MCA Estruturas aponta que diversas falhas de execução foram determinantes para o desabamento da área de lazer do condomínio Grand Parc Residencial Resort
Um relatório técnico preliminar da MCA Estruturas, realizado por dois engenheiros e um especialista em sistema de propulsão, aponta que diversas falhas de execução na montagem do posicionamento das armaduras e cordoalhas (cabelos de metal) foram determinantes para o desabamento da área de lazer do condomínio Grand Parc Residencial Resort, localizado na Avenida Nossa Senhora dos Navegantes, em Vitória .
O acidente aconteceu no dia 19 de julho e levou à morte o porteiro Dejair das Neves, de 47 anos, além de ter ferido quatro pessoas - entre elas o síndico Fernando Maques.
Uma das causas apontadas no relatório é o rompimento de cabos que teria acontecido antes do desastre, devido à corrosão causada por erosão. Nesse caso, segundo o relatório técnico, se alguma cordoalha rompesse, o projetista e a construtora deveriam ser notificados imediatamente, o que não aconteceu.
Outro motivo para o ocorrido teria sido o mau posicionamento de parte das armaduras e das cordoalhas nas lajes. Também foi detectada a ausência de proteção de cabos em alguns trechos, na junta de concretagem.
A piscina do empreendimento também teria sido determinante para o fato. Segundo o relatório, verificou-se que materiais para limpeza da piscina, como cloro - extremamente nocivo ao concreto -, eram armazenados de forma inadequada. Segundo imagens feitas pelos técnicos, há nas lajes dessa região trincas e pontos de infiltração visíveis.
Em relação à ausência de vergalhões e cordoalhas em ao menos uma das faces dos pilares de apoio da laje, o documento preliminar aponta que “tais erros comprometeram fatalmente a estrutura das lajes nesses trechos, reduzindo de forma drástica a capacidade de resistência da laje”.
Nas visitas, realizadas entre os dias 2 e 10 de agosto, foram encontrados ainda restos de materiais da época da obra e “gambiarras”, como passagens elétricas e tubos de instalações hidráulicas.
Na conclusão, os peritos afirmam que "toda essa sequência de anomalias, patologias, erros e vícios de construção generalizados na laje do PUC/Lazer, somados ao rompimento de cabos, foram determinantes para o desabamento da estrutura".
O outro lado
A construtora Cyrela taxou o relatório de "prematuro", tendo em vista que o laudo da Polícia Civil ainda está em curso.
"Na data de ontem (20/08) foi estranhamente noticiada a existência de um laudo elaborado de forma privada pela empresa MCA, responsável pelo cálculo estrutural do edifício Grand Parc, o qual além de parcial, é prematuro, na exata medida em que os peritos oficiais, a pedido da autoridade policial, estão realizando exame detido sobre todos os elementos necessários e elaborarão laudo imparcial. Para tanto, a Cyrela, empresa incorporadora do edifício Grand Parc, tem contribuído irrestritamente com a apresentação de todos os documentos necessários e informações de seu conhecimento. Além disso, tem prestado toda a assistência às famílias dos moradores, estando à disposição de todos para o que for necessário", disse a construtora por meio de nota.
A Incortel, construtora sócia da Cyrela, também se manifestou e se disse perplexa com o relatório da MCA. Confira a nota da empresa na íntegra:
"A empresa recebeu com perplexidade a divulgação do relatório opinativo da MCA Tecnologia de Estruturas, considerando que, neste momento, tramita uma medida judicial para produção de provas, cujos trabalhos encontram-se em andamento, e que garante amplo direito de acompanhamento das partes envolvidas e interessadas na apuração dos fatos. Somente o perito nomeado pela justiça poderá apresentar laudo técnico sobre este assunto e somente o juiz que conduz a questão poderá, em face de todos os relatórios apresentados, concluir a respeito do mesmo.
A MCA não se manifestou.