Tráfico de animais contribui para extinção de espécies
Ter animais silvestres como bichos de estimação é crime. Papagaios, periquitos e passarinhos estão entre os mais visados. O comércio ilegal ocasiona desequilíbrios ecológicos
O tráfico de animais silvestres é uma das principais ameaças à biodiversidade brasileira e pode provocar a extinção de diversas espécies a médio e longo prazo. No Brasil, as aves são os animais mais capturados e vendidos no mercado negro, segundo dados da organização não governamental WWF.
Segundo entrevista dada ao Portal do Brasil, a Coordenadora de Avaliação do Estado de Conservação da Biodiversidade (Coabio/ICMBio), Rosana Subira, disse que o comércio ilegal ocasiona desequilíbrios ecológicos e sofrimento aos animais. "Cada espécie tem uma função ecológica. Tirar uma espécie da vida livre abre uma lacuna, porque não haverá outra para desempenhar aquele papel", afirmou.
Para combater o tráfico de aves, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave/ICMBio) implementa constantemente Planos de Ação (PANs). "Em muitos destes Planos, um dos principais problemas é justamente o tráfico. Por isso, ações estratégicas são pensadas e implementadas junto com os órgãos fiscalizadores das diferentes esferas (federal, estadual e municipal)", explicou a médica-veterinária e analista ambiental do ICMBio, Patrícia Serafini.
As espécies mais visadas no tráfico de animais são os psitacídeos (papagaios e periquitos), passeriformes (passarinhos), dendrobatídeos (rãs venenosas e coloridas), primatas e lepitópteros (borboletas).
"Houve recentemente no Parque Nacional de Itajaí (SC) duas apreensões: uma de 800 borboletas e outra de 13 mil indivíduos. Ambos os casos foram enviados ao Centro Nacional de Pesquisa e Conservação do Cerrado e Caatinga (Cecat/ICMBio) para identificação das espécies", disse Marília Marini, coordenadora-substituta de Planos de Ação do ICMBio (Copan/ICMBio).
Animais silvestres precisam de cuidados especiais
Na maioria das vezes, quem compra as espécies silvestres tem a intenção de cuidar delas como animais de estimação. No entanto, segundo Rosana Subira, são necessários cuidados muito especiais.
"O bem estar do animal silvestre não depende apenas do cuidado, carinho e boas intenções do comprador. Um animal silvestre criado como doméstico além de sofrer com a solidão, tem dificuldades para se reproduzir. Pode sofrer por ficar preso em espaço físico reduzido e comer alimentos inapropriados. Isso expõe as espécies a doenças que em seres humanos podem não ser tão graves, como a gripe, mas que para eles são fatais", destacou a coordenadora de Avaliação do Estado de Conservação da Biodiversidade (Coabio/ICMBio).
O tráfico de animais começa quando as espécies são retiradas da natureza e vendidas em feiras livres. Normalmente, o transporte é feito por meio de caminhões, ônibus interestaduais e até carros particulares, o que pode provocar estresse nos animais, principalmente nas aves, que em alguns casos arrancam as próprias penas.
"As aves passam a ter inúmeros problemas comportamentais e nutricionais e não contribuem para a manutenção da sua população de origem por terem perdido seu potencial reprodutivo ideal. Estamos falando do nosso maior patrimônio, no caso a biodiversidade, engaiolada e sem possibilidade de exercer seu potencial para a manutenção dos ecossistemas naturais", comentou a analista ambiental do ICMBio, Patrícia Serafini.
Serafini também destacou que ter animais silvestres como bichos de estimação é crime ambiental, segundo a Lei nº 9.605/98, que proíbe a utilização, perseguição, destruição e caça de animais silvestres. Para os infratores, a lei prevê prisão de seis meses a um ano, além de multa. "Se a população não comprasse animais silvestres de origem ilegal, o tráfico não existiria. É preciso que todos se conscientizem que a nossa biodiversidade é o maior e mais exclusivo patrimônio que possuímos", finalizou.
Não compre animais silvestres
Para denunciar o tráfico de animais silvestres, entre em contato com a Linha Verde do Ibama, pelo número 0800-618-080 ou pelo email [email protected].
Sobre os PANs
Os Planos de Ação Nacionais para a Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção ou do Patrimônio Espeleológico (PANs) são instrumentos de gestão que tem como principal objetivo a troca de experiência entre os atores envolvidos, no sentido de agregar e buscar novas ações de conservação, reunindo e potencializando os esforços na conservação, e racionalizando a captação e gestão dos recursos para conservação das espécies ou ambientes focos dos planos de ação.
Os planos de ação buscam identificar, a partir das ameaças que põe em risco as espécies, quais instrumentos de gestão devem ser orientados ou otimizados, visando um efeito benéfico direto. Suas ações abrangem de forma objetiva a interferência em políticas públicas, o desenvolvimento de conhecimentos específicos, a sensibilização de comunidades e o controle da ação humana para combater as ameaças que põe as espécies ameaçadas em risco de extinção.
Para garantir que o plano de ação tenha maior êxito na implementação, o processo contempla a participação multilateral, visando o estabelecimento de um pacto envolvendo diversos segmentos do governo, organizações não governamentais ligadas à conservação, especialistas em conservação de espécies, representantes das comunidades locais ou das autoridades locais, quando apropriado, o setor privado (por exemplo, representante de empresas florestais, mineradoras ou operadores de turismo) e outras partes chave interessadas.
O Instituto Chico Mendes conta também com o apoio do Projeto Probio II/MMA na elaboração e implementação dos planos de ação.