Logística emergencial é estratégica em calamidades
Seja pelo modal aéreo, rodoviário ou multimodal, operações estratégicas precisam ser bem planejadas para um resultado positivo no atendimento humanitário e na retomada econômica
Estudo da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS) estima que 94% da atividade econômica do estado foi afetada com as enchentes desde o dia 29 de abril de 2024. Nove em cada dez indústrias (cerca de 48 mil companhias) estão em cidades atingidas e levarão, pelo menos, três anos para se recuperar. Outro dado preocupante da FIERGS é em relação à malha viária, que aponta cerca de 97 pontos de bloqueio em 53 rodovias estaduais e aproximadamente 60 bloqueios em rodovias federais.
O Aeroporto de Porto Alegre (Salgado Filho), principal do Rio Grande do Sul (RS), segue inoperante por tempo indeterminado, segundo a concessionária Fraport. As operações ferroviárias seguem parcialmente interrompidas. Um significativo prejuízo ao setor de transporte e logística, fundamental também para escoar produtos de primeira necessidade nesta situação de emergência. A utilização de rotas alternativas com multimodais tem sido uma das características da logística emergencial no caso do RS. Mas muitos ainda são os desafios diante da atual situação, seja no atendimento à questão humanitária ou no restabelecimento da produção local.
Quem fala sobre o tema é o especialista em logística emergencial, natural de Caxias do Sul (RS), Marcelo Zeferino, que também é CCO da Prestex.
Como a logística emergencial tem atuado em calamidades como a do RS?
Marcelo Zeferino: A logística emergencial se dá em diversos momentos. Neste primeiro, trata-se muito mais de um atendimento emergencial, priorizando levar itens básicos de sobrevivência à população, da maneira que for possível. O que está acontecendo no Rio Grande do Sul é uma situação praticamente de guerra, na qual estão mobilizados os mais diversos órgãos, além de diferentes frentes e todo recurso possível. Em relação à logística, é preciso ter planejamento do que mandar, como mandar e quando e para onde mandar para não sobrecarregar com itens que não conseguirão ser armazenados ou escoados. Mas que na hora que sejam necessários, esses recursos estejam em fácil acesso. O planejamento dessas etapas de logística é fundamental. No momento seguinte, será necessário um planejamento estratégico logístico para reconstrução do estado, uma vez que praticamente todos os bens das indústrias e iniciativas de atendimento prioritário e secundário foram destruídos.
Haverá reflexos na cadeia produtiva nacional?
Marcelo Zeferino: Sem dúvidas. A cidade de Porto Alegre tem localização estratégica no Brasil. É uma porta de entrada para todos os tipos de produtos, bens e serviços da indústria da transformação. Além da questão humanitária, que é prioridade, a situação de calamidade deverá refletir por alguns anos em vários pontos da cadeia produtiva também de outras regiões do Brasil. Um exemplo recente, são as indústrias automotivas no ABC paulista e do Interior de São Paulo que já estão diminuindo e, em alguns casos paralisando mesmo, a produção de suas fábricas, por conta da falta de peças que eram fabricadas no RS. A logística estratégica emergencial B2B será de extrema importância nesta fase de restabelecimento também.
Marcelo Zeferino: Antes das enchentes era deslocamento para se fazer no mesmo dia pelo modal aéreo. Hoje, não. Para transportar alguma coisa para Canoas, com a situação atual, precisa pousar no aeroporto de Caxias do Sul, planejar uma rota alternativa e ver onde vai receber, então minimamente precisa de 24 horas ou até 36 horas para este transporte. Já no modal rodoviário, no passado, se fazia em 36 horas com tranquilidade. Hoje, leva-se cerca de 72 horas e ainda assim não é certo. Precisa avaliar também a capacidade de recebimento do local.
Marcelo Zeferino: O Salgado Filho possivelmente ficará inoperante por vários meses. Há algumas opções, mas que também são desafiadoras. Temos o aeroporto regional de Caxias do Sul (Hugo Cantergiani), que é a via mais próxima de Porto Alegre, mas o problema lá são as condições climáticas que interferem bastante, com atrasos e cancelamentos frequentes dos voos. Temos também a Base Aérea de Canoas, localizada na região metropolitana de Porto Alegre e que foi autorizada recentemente a receber alguns voos comerciais de passageiros e de cargas. O desafio da base aérea é a falta de infraestrutura para carga e descarga de grandes mercadorias. Quem trabalha com logística no Sul ficará refém disso. Não há outro aeroporto no estado que suporte voos como Porto Alegre suportava. Passada a situação de calamidade, precisaremos de planejamento estrutural para minimamente enfrentar situações como esta.
Como a Prestex, que trabalha em logística emergencial aérea B2B no transporte de cargas, tem feito para contornar esta situação?
Marcelo Zeferino: Como empresa, nascida em Caxias do Sul (RS) e atuante em todo o Brasil, estamos primeiramente ajudando com doações e envio de materiais emergenciais dentro do possível. E como atuantes em logística emergencial no mercado, seguimos entendendo as necessidades de cada empresa e desenhando uma estratégia específica que atenda de forma ágil e segura as individualidades das cargas transportadas. É um quebra-cabeça que a gente vem montando para suprir as mais variadas necessidades, seja da indústria de medicamentos, de alimentos, peças, maquinários, bebidas, vestuários e tantas outras que fazem parte da indústria de transformação.