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Lama Cirúrgica: Médico investigado ainda atende em hospital público em Aracruz

Uma reportagem exclusiva da Rede Vitória mostra que o médico atende pelo SUS e ainda mantém uma clínica particular na cidade

Redação Folha Vitória
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A Operação Lama Cirúrgica fez parte de uma grande investigação da Polícia e do Ministério Público do Espírito Santo (MPES) que revelou que médicos reutilizavam e superfaturavam materiais usados em cirurgias para a realização de operações na Grande Vitória. 

Uma reportagem da Rede Vitória, exibida com exclusividade pelo Balanço Geral|TV Vitória, nesta segunda-feira (14), mostra que pacientes continuam sendo atendidos por um dos médicos denunciados no esquema. O único que não está preso. 

Eduardo Araújo Ramalho, 35 anos, é médico especialista em Ortopedia e Traumatologia. Investigado na Operação Lama Cirúrgica, ele continua exercendo as funções no Hospital São Camilo, localizado em Aracruz, região Norte do Espírito Santo. Na cidade, ele ainda mantém uma clínica particular.

A operação resultou em nove pessoas denunciadas por diversos crimes, como estelionato, falsificação e organização criminosa. Quatro dos nove réus são médicos, que respondem, entre outras coisas, por terem utilizado materiais cirúrgicos reprocessados em, no mínimo, 52 operações. Três deles estão presos no Centro de Detenção Provisória de Viana. Eduardo responde em liberdade e ainda trabalha normalmente.

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Desde o ano passado, a prefeitura de Aracruz repassa mensalmente quase R$ 2 milhões para a instituição, que atende 280 pessoas por dia, de maneira gratuita, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

A busca de informações sobre o trabalho do médico começou ainda pelo telefone. A produção da Rede Vitória entrou em contato com o hospital, que confirmou o horário de atendimento do médico no local. Diante da confirmação, a reportagem seguiu em direção ao hospital. No pronto-socorro ortopédico do SUS foi possível obter novas pistas sobre a rotina do médico. Uma enfermeira informou que ele só chega na instituição às 16 horas.

Enquanto a equipe de reportagem aguardava a chegada do ortopedista, o único médico de plantão especialista na área vai embora. Isso acontece às 15h55. Durante quase uma hora, a emergência ortopédica do maior e único hospital filantrópico do município fica sem médico. Em meio ao descaso, uma neta busca atendimento para o avô de 94 anos.

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Eduardo Ramalho chega para assumir o plantão somente às 16h45. Imagens obtidas com exclusividade pela equipe da Rede Vitória não deixam dúvidas: o médico continua trabalhando normalmente.

Quem busca atendimento no consultório não faz ideia dos crimes que o doutor pode ter cometido. "Eu achava que esse caso já havia se encerrado", comenta uma paciente. "Tinha que ser banido para não estar mais atendendo', opina outro.

Há poucos quilômetros do hospital, mais uma constatação. Não é só pelo SUS que alguém pode ser atendido pelo médico. Eduardo Ramalho é sócio de uma clínica particular, no centro de Aracruz. No local, os agendamentos seguem sem nenhuma restrição. O que foi facilmente constatado pelos repórteres da TV Vitória.

Na clínica, também foi possível descobrir que ele segue conveniado à um dos maiores planos de saúde do país. O que chama atenção é que, segundo o Ministério Público, as operadoras também eram enganadas pela esquema fraudulento que visava lucros financeiros. Os planos de saúde pagaram muitas vezes por materiais desnecessários, reutilizados e adulterados.

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Na internet, Eduardo exibe orgulhosamente a foto de formando. Oriundo de uma família de médicos, já realizou cirurgias também na Grande Vitória, nos hospitais São Lucas, Santa Rita e Metropolitano. Segundo a denúncia, ele cometeu dezessete crimes em, no mínimo, 10 cirurgias no período de novembro de 2016 a novembro de 2017. São eles: dez estelionatos, pois enganava pacientes e planos de saúde com o intuito de obter vantagem financeira; seis crimes por vender, distribuir ou entregar produtos falsificados, corrompidos, adulterados ou alterados para os pacientes; e também integrou uma organização criminosa. A pena total pode chegar a 94 anos.

Criminalistas ouvidos pelo jornalismo da Rede Vitória concordam que não há impedimento legal para que o médico continue trabalhando. Mesmo que seja em hospitais públicos. Afinal, Eduardo ainda não foi condenado.

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Muitas dúvidas ficam soltas: por que Eduardo é o único médico réu na operação lama cirúrgica que permanece solto? Por que ele continua atendendo? Será que houve omissão por parte de quem deveria fiscalizar as condutas médicas? Falha de comunicação? Do ponto de vista ético, os pacientes não teriam o direito de saber por quem estão sendo atendidos?

Questionados, MPES e o Tribunal de Justiça (TJES) não deram explicações sobre a liberdade do médico. O corregedor do Conselho Regional de Medicina (CRM) Thales Gouveia Limeira falou sobre providências. "Estão surgindo as primeiras informações na mídia. O CRM já juntou materiais a respeito e isso está sendo apurado em uma sindicância", disse.

Quando perguntado se é ético que médicos, mesmo denunciados por crimes graves, continuem trabalhando, o corregedor tentou explicar. "Não vou me manifestar sobre casos isolados ou particulares de algum médico. A conduta na Justiça Criminal é diferente da conduta ética", afirmou.

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A decisão da Justiça sobre o médico ainda é uma incerteza. Enquanto isso, o pintor Edmilson Soeiro, 55 anos, um dos pacientes das cirurgias consideradas criminosas pelos investigadores, espera por uma resposta. Ele sente, há anos, dores no ombro para realizar seu trabalho diariamente. "Falei para minha esposa que talvez onde foi realizado minha cirurgia, ele já tenha utilizado um material bom. Mas eu fiquei chateado. Jamais esperaria que meu nomes estivesse nisso daí", disse.

Desde o dia da cirurgia, o pintor nunca mais voltou ao consultório. Ele afirma que ainda precisa de cuidados médicos, mas a desconfiança impede que o retorno seja ao especialista que o operou. Para sentir tranquilo, o que ele mais quer é ouvir a opinião de outro profissional. "Uma nova ressonância para ver como está e se o serviço está bem feito", afirma.

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Procurado pela reportagem, o Hospital São Camilo informou que conhece as investigações e que a partir de hoje o Doutor Eduardo Ramalho está afastado temporariamente de todas as funções no hospital. A instituição reforçou que suas cirurgias estão suspensas desde as primeiras notícias da operação.

A Prefeitura de Aracruz disse que apenas repassa os recursos ao Hospital São Camilo e que não interfere na administração da unidade.

O doutor Eduardo Ramalho também foi procurado, mas ele não quis se manifestar e pediu para que falássemos com o advogado dele, dr. Marco Antônio Gama Barreto. A defesa afirma que o cliente é inocente e reforçou que o fato de alguém ser processado não faz dele culpado.

Também procuramos os planos de saúde. A Unimed Vitória disse que o médico ainda é franqueado à Unimed Piraqueaçu e que, após a reportagem, abriu uma sindicância para apurar os fatos.

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