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Após cinco anos em queda, mortes no trânsito têm alta de 23% em 2017

Com isso, a violência do trânsito provocou um impacto econômico de R$ 199 bilhões no ano passado, ou 3,04% do Produto Interno Bruto (PIB) do País

Estadão Conteudo

Redação Folha Vitória
audima
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O Brasil voltou a registrar aumento no número de mortes relacionadas ao trânsito. Em 2017, foram 41.151 vítimas de acidentes envolvendo veículos automotores, ante 33.547 em 2016, uma alta de 23%. O dado, obtido com exclusividade pelo Estado via DPVAT (seguro obrigatório de automóveis), interrompe uma sequência de cinco anos na queda da letalidade nas ruas, avenidas e estradas do País. A última alta, observada em 2012, havia sido de 5% - um salto para 60.752 óbitos na ocasião.

Com isso, a violência do trânsito provocou um impacto econômico de R$ 199 bilhões no ano passado, ou 3,04% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. O valor corresponde ao que seria gerado pelo trabalho das vítimas, caso não tivessem se acidentado, segundo dados do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (Cpes), órgão da Escola Nacional de Seguros. O fator que mede a perda da capacidade produtiva é chamado de Valor Estatístico da Vida (VEV), ou seja, o quanto cada brasileiro é capaz de produzir em vida.

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De acordo com os dados do DPVAT, o número de mortes em 2017 seguiu na contramão das estatísticas totais com cobertura do seguro, que registra apenas os casos com óbitos e sequelas permanentes. Nos últimos três anos, o volume de acidentes caiu pela metade, saindo de 763,4 mil em 2014 para 384 mil no ano passado.

A explicação, para especialistas, é que a última recessão econômica afetou as vendas e reduziu o fluxo de automóveis nas ruas - o que colaborou para a redução dos acidentes. Com menos dinheiro no bolso, o brasileiro inflou a frota de motocicletas, mais baratas e, ao mesmo tempo, mais vulneráveis.

Assim, ao longo do ano passado, 90,5% das vítimas do trânsito estavam na fase economicamente ativa e mais de 74% dos acidentes envolveram motocicletas, fazendo com que 59% dos acidentados fossem os próprios condutores. "Nossa experiência nesse ramo aponta que a moto, quando envolvida em um acidente, tem potencial de gravidade maior e, algumas vezes, as cidades não estão preparadas para lidar com a expansão desse modal", aponta o superintendente de Sinistros da Seguradora Líder, Arthur Fróes, responsável pelo DPVAT.

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O professor Carlos Alberto Bandeira Guimarães, do Departamento de Transportes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), concorda. Para ele, a questão também envolve a falta de fiscalização. "Nas cidades do interior, nos Estados do Norte e Nordeste, é comum ver cenas de pessoas dirigindo motocicleta de chinelos, sem capacete, às vezes até sem documento de habilitação", afirma.

O especialista aponta que as maiores variações observadas nos acidentes de 2017, em comparação com o ano anterior, foram no Nordeste e no Centro-Oeste, com alta de 30% no número de casos fatais ou com invalidez permanente. A Região Sudeste apresentou um crescimento de 23%, com destaque para dois Estados - Rio de Janeiro (34%) e São Paulo (20%).

"A motocicleta, apesar de passar a imagem de ser um veículo mais simples, exige a carteira A e, na realidade, demanda muito mais técnica para ser conduzida. Mas é comum ver moto passando entre os corredores de carros, cruzando passarelas de pedestre, na contramão. E um acidente leve de motocicleta pode ter consequências graves. Não tem medidas (obras viárias) que resolvam isso."

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Diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, Dirceu Rodrigues Alves destaca que essa falta de fiscalização acontece em áreas com uma alta densidade de motos. "Temos aí a facilidade da aquisição dessas motocicletas. É um veículo mais barato, de grande mobilidade e muita utilidade em várias áreas: de tocar o gado a fazer comércio. E há oferta muito grande nessas regiões (Norte, Nordeste e Centro-Oeste)."

Garupa

No Recife, a técnica em enfermagem Maria Augusta Bezerros, de 26 anos, conhece bem a história. Em junho do ano passado, ela saía de uma festa na garupa do então marido quando passaram em um cruzamento com o semáforo amarelo. Um carro em alta velocidade bateu na lateral da moto.

Maria Augusta passou três meses no hospital e ainda hoje sofre com as consequências do acidente. "Quebrei a tíbia, a fíbula e fiquei com sequelas: tendinite, artrite, artrose, derrame na circulação e um pequeno cisto no tornozelo esquerdo", conta. A pernambucana recebeu R$ 4,5 mil do seguro DPVAT. Atualmente, impossibilitada de trabalhar, recebe auxílio-doença e, segundo ela, o laudo médico pede aposentadoria por invalidez.

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"A motocicleta, que é a solução de muitos transtornos no trânsito, está tirando de circulação uma boa parte da população economicamente ativa", afirma a economista do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (Cpes) Natália Oliveira. "Ainda não temos uma consciência para a utilização desse veículo. Faltam educação, fiscalização e respeito", diz.

Segundo estudo do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), o País tinha 13,2 milhões de motos em circulação no ano passado, 39% mais que há oito anos, em 2009.

Procurado, o Ministério da Cidades não se pronunciou sobre o estudo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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