Mãe condenada por jogar filha na Lagoa da Pampulha diz que apanhou de delegado para confessar crime
Simone Cassiano da Silva abriu o coração para o apresentador Gugu Liberato na última quarta-feira (13) durante o programa. O crime chocou os brasileiros em 2006
Com exclusividade, o apresentador Gugu Liberato entrevistou na última quarta-feira (13), Simone Cassiano da Silva, a mãe condenada por jogar filha na Lagoa da Pampulha, em Minas Gerais. Após nove anos do caso e um longo período de silêncio, ela aceitou falar pela primeira vez a um programa de televisão sobre o crime que chocou o país.
A história da mãe que teria atirado a própria filha numa lagoa está até hoje na memória dos brasileiros. Na época, a notícia circulou os principais meios de comunicação do mundo. É difícil acreditar que dentro de um saco plástico tinha uma criança viva.
A Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, é um dos cartões postais que ficou marcado para sempre depois do dia 28 de janeiro de 2006.
Um saco plástico com pedaço de madeira visto boiando na água trazia um bebê abandonado. Após o mundo repercutir a história de Simone, ela foi a júri popular e pegou nove anos de prisão. Hoje, ela está em liberdade tocando sua vida numa cidade interiorana de Minas Gerais.
Veja como foi a entrevista:
Gugu: Eu quero saber quem é a Simone Cassiano da Silva?
Simone: É uma mulher guerreira que foi pisada, massacrada, humilhada e ninguém quis saber. Só ouviram um lado da história e a outra versão não quiseram ouvir.
Antes de ser acusada de tentativa de homicídio, Simone levava uma vida normal. Ela não possuía antecedentes criminais e criava sua filha de 10 anos. Depois do primeiro casamento, Simone conheceu Gérson e viveu um longo relacionamento até o dia de sua prisão.
Gugu: Você ficou com o Gérson por quanto tempo?
Simone: A gente ficou uns seis anos. É uma pessoa maravilhosa!
Gugu: Quando engravidou, você acreditava que a filha era dele?
Simone: Era dele!
Gugu: E não era?
Simone: É dele!
Gerson em meio a toda confusão nunca assumiu a criança.
Gugu: Vocês não fizeram o DNA?
Simone: Fizemos o DNA, Gugu, mas aconteceu muita sacanagem. O doutor Matheus foi ameaçado várias vezes.
Gugu: Doutor Matheus? Quem é?
Simone: É o meu advogado. Teve um dia que o juiz cismou que eu não poderia mais ver a minha filha Paola. Ele teve que discutir com o juiz para eu ver minha filha dentro do fórum. Não acredito em justiça porque fui criada numa família que falava pra mim que “se você não deve, não teme”. Então, eu acreditava na justiça. Mas, hoje, digo pra você que não acredito na justiça
Gugu: Você disse que o Gérson é o pai da Yara? Ele é o pai?
Simone: É. Foi sabotado esse exame [de DNA] e o juiz sabe disso. Eles fizeram isso para me ferrar. Entendeu?
Gugu: Você tem certeza?
Simone: Absoluta. É só pegar a criança, ele e eu. Ele sabe disso. Ele tem ciência disso!
Gugu: Qual o intuito de fraudarem esse exame?
Simone: Foi para me ferrar porque eles fizeram eu assinar a nota de culpa dentro da penitenciária.
Gugu: Por que dizer que ele não é o pai?
Simone: Simplesmente porque a mídia marcou em cima. Estava rolando muita coisa por fora que eu não sabia. O que aconteceu? Só que ninguém nunca viu o resultado. O único que viu o resultado foi o juiz.
Gugu: Você não tem o laudo?
Simone: Eu não tenho o laudo de nada.
Na época, Simone foi acusada de esconder a gravidez. No entanto, ela alega ter tido um problema de saúde, uma espécie de mioma que se desenvolve nas trompas. Sem os exames adequados, o problema pode ser confundido com o bebê em alguns testes.
Gugu: Não foi uma criança desejada?
Simone: Não foi programada, né? Eu descobri na hora como todo mundo. A partir daquele momento, ela foi amada, eles me levaram para a sala para fazer a curetagem normal pós-parto e eles correram com ela. Cerca de duas horas depois, voltou uma equipe médica falando “mãe, a sua filha vai morrer. Você quer vê-la antes dela falecer?” Não tinha condições de levantar porque estava tonta de remédio, com muita hemorragia, com injeção na veia e tomando soro. Mas levantei da cama, peguei o elevador e fui ver minha filha. Eu vi um ratinho, não vi um bebê. Tive uma filha de quase 5 kg e ver uma criança de 800 gramas foi um choque, mas nem por isso deixei de amá-la. Após aquele dia, eu passei a cuidar dela. Como não tinha leite, ela tomava de duas a três gotinhas por uma sonda. Ninguém me dava esperança! Depois de dar à luz a pequena e frágil Yara, sem mesmo saber que estava gravida, Simone conta que viveu longos e solitários dias na maternidade.
Gugu: A Yara ficou no CTI durante quantos meses?
Simone: Cinco meses.
Gugu: Você ia vê-la todos os dias?
Simone: Todos os dias, Gugu. Todos. Quando você entrar numa CTI, é preciso assinar um papel de entrada e saída e seus pertences ficam na portaria. Você entra numa sala e precisa passar iodo no corpo inteiro e ainda vestir uma roupa do próprio hospital. Dali, se você for tomar um lanche na rua, precisa fazer todo o procedimento novamente. Eu não saia. Ficava dias e dias olhando pra ela. Ela não se movia e nem abria os olhos. Não consigo te explicar o que eram os dedinhos dela. O pé era menor de uma moeda de um real, só via os ossinhos. Parecia um pintinho que saiu de um ovo.
Gugu: Nesse período, o Gérson estava aonde?
Simone: Na casa dele, junto comigo.
Gugu: Mas ele aceitava o bebê?
Simone: Só falava que depois que ela saísse de lá, ele não tinha estrutura para ver uma criança desse jeito.
Gugu: Você chegou a culpar o nascimento da Yara pelo distanciamento do Gérson?
Simone: Não, eu nem percebi. Estava muito focada. Naquele momento, as duas pessoas que mais me preocupava era a Paola e a Yara. O resto eu não me importava.
Gugu: Quando vocês se separaram?
Simone: A gente se separou depois que fui presa.
Yara superou todas as dificuldades que o nascimento prematuro causou e ganhou a oportunidade de ir para casa.
Gugu: Você estava sozinha ou tinha alguém?
Simone: Sozinha!
Gugu: Sozinha, você pega um táxi. O que acontece a partir daí?
Simone: Eu olhava para a Yara e chorava muito porque não acreditava que passamos por tudo aquilo e ela estava viva. Tomei aquele choque e falei [para o taxista] vou descer aqui, ligar para minha irmã e, inclusive, comprar algumas coisas que não tinha pra Yara.
Gugu: Você surtou dentro do táxi?
Simone: Não, eu simplesmente pedi para descer e saí com minha filha no colo. Estava com uma cópia da alta da minha filha e com todas as roupas dela. Então, quando estou entrando para comprar as coisas para levar pra casa tive um problema. Me deu uma crise de choro. Eu não chorei por causa da minha filha ou por causa do Gérson. Nem eu sei te explicar o motivo dessa crise, é como se fosse uma descarga de emoção daquela pressão que vive o tempo inteiro. Era um “ufa, acabou”
Gugu: A pressão de quê?
Simone: De todos os médicos falaram para você que sua filha vai morrer. Eu não tinha ninguém para falar tenha uma esperança, igual o doutor Matheus falou no dia que fui presa. Nenhum médico chegou pra mim e disse que minha filha iria sobreviver. O que aconteceu foi uma descarga, Gugu. Fiz as compras e sentei num banquinho e disparei a chorar. De repente, atravessei a rua e vi um pessoal. Não lembro da cara da mulher, mas lembro que ela tinha por volta de 1,60 e uma mexa branca na cabeça. Eu disse “toma a minha filha” e foi assim.
Gugu: Você entregou sua filha a essa mulher e foi aonde?
Simone: Entreguei e fui volta para minha casa.
Gugu: Quando chegou em casa encontrou com sua mãe ou o Gérson?
Simone: Eu não fui para a casa da minha mãe, fui para a casa do Gérson.
Gugu: Você disse o que para o Gérson?
Simone: Sentei, chorei muito com a Paola e liguei para o médico.
Gugu: O Gérson estava em casa?
Simone: Estava dormindo.
Gugu: Você não acordou ele?
Simone: Não!
Gugu: E ligou para o médico?
Simone: Sim, mas ele não atendeu. Isso me deu uma crise horrorosa de querer morrer. Não sabia o que estava me dando. Fui para o hospital e internei. Quando cheguei, o médico disse que a pressão está caindo e meus batimentos cardíacos estavam fraquíssimos. Eu tinha tomado um monte de remédios!
Gugu: Você tinha a consciência que tinha dado a sua filha?
Simone: Eu não tinha consciência de nada. Se você me perguntar aonde sua filha foi jogada, eu não sei. Nunca mais passei naquele lugar. Agora, quem pediu perícia de tudo foi meu advogado
Gugu: Quando as pessoas te acusaram de jogar sua filha na Lagoa da Pampulha...
Simone: Surtei mais de uma vez. Fui para à delegacia sozinha explicar. Se eu fosse menos burra e acreditasse menos na justiça, como acreditava porque achei que iria chegar lá, falar o que aconteceu e eles iam investigar, [não teria ido]. O delegado disse que tinha prendido a mulher que tinha jogado a filha na Lagoa da Pampulha. Que tinha feito a prisão na minha casa, sendo que eu fui a pé pra lá
Gugu: Simone, você jogou sua filha na Pampulha?
Simone: Gugu, se tivesse jogado, eu te falava. Todo mundo tem o direito de errar e acertar. Eu assumiria minha culpa. Só que não fui eu!
Gugu: Quem jogou sua filha na Pampulha?
Simone: Só Jesus para saber. Só sei que o museu tem câmera e ninguém investigou nada. Se eu fui lá, tinha que ter a minha cara nessa câmera. O cara que salvou a minha filha descreveu uma mulher totalmente diferente da minha pessoa. Sabe o que o promotor falou pra ele? Ao invés de salvar minha filha, por que não segurou a mulher que estava correndo com os chinelos na mão. Se eu tivesse no lugar, a perícia pegaria. Teria a minha digital. Por que não mandaram fazer perícia no saco que a menina foi encontrada? Se eu peguei, a minha digital estaria lá. Mas ele não fez nada, simplesmente me massacrou. Só que Deus deu o retorno a cavalo pra ele. Acabou preso e o que fez comigo, fizeram com ele
Gugu: O que ele fez?
Simone: Gugu, teve denúncias de várias presas que ele abusava sexualmente dentro da delegacia. Não foi uma, duas e três. Foram várias. Tanto que o Direitos Humanos fechou a delegacia. Ele me bateu dentro da delegacia. Me dava socos para eu confessar a imprensa. Eu falei “como vou confessar uma coisa que não fiz”
Gugu: Qual foi o seu maior erro?
Simone: O meu maior erro acho que foi a quando falei uma frase e interpretaram de outra forma. Ali, eu já tinha apanhado. Ele já tinha me dado socos no estômago dentro da delegacia. Lembro que você ligou pra ele, no seu programa do SBT. Ele riu e “mandou eu cala a boca que estou falando com o Gugu”
“Eu caí aos prantos. Ele falou com você com todo o cinismo do mundo. Não pensou em quantas pessoas estava massacrando naquele momento. Ele não procurou saber se minha filha tinha morrido ou não. Ele deu nota de culpa 121, como se fosse assassina, e falou pra imprensa que eu tinha prendido a mulher, sem ter prova alguma”.
Simone: A frase “não fui eu que joguei essa droga de menina na lagoa da Pampulha” não estava no meu depoimento.
Gugu: Mas o que repercutiu foi a frase que você falou para a imprensa.
Simone: Ali, ninguém viu a pressão que eu estava passando. Ainda falei pra eles que a verdade ia aparecer. Aquele canalha não tinha feito perícia de nada. Aliás, se o doutor Matheus não chega na hora, sabe o que tinha acontecido? Ele e outro delegado me bateriam.
Gugu: Você está dizendo que apanhou?
Simone: Eu tenho certeza. Tive hematomas pelo corpo. O doutor Matheus estava presente e ele te conta que na hora que chegou tinha outro delegado pronto para me bater. Então, eu estava jogada numa cela igual um bicho e passei a noite inteira sendo torturada. Eles me levaram para um lugar que nem sei aonde é
Gugu: Simone, só o áudio “vocês vão achar quem jogou essa droga de menina na água”. Isso foi o que?
Simone: Eu já tinha apanhado muito. Você não tem noção!
Gugu: Mas você acha que justifica?
Simone: Não justifica porque é a minha filha. Eu peço perdão pra ela qualquer dia e hora. As pessoas não sabiam que eu estava passando naquele momento.
Gugu: Você acha que isso foi o maior peso de tudo?
Simone: Sim, foi o maior peso. Eu tinha tudo a favor, mas, às vezes, uma frase na sua vida te destrói
Gugu: Por que você não queria o bebê mais?
Simone: Acho que naquele momento eu já tinha apanhado para confessar algo que não tinha feito. A imprensa inteira estava me massacrando. O mundo inteiro caiu em cima de mim. Você acha que eu queria mais ela sofrendo? Não, a primeira coisa que fiz foi tirar ela de cena.
Gugu: Não combina a Simone dos cinco meses com a do dia seguinte
Simone: Foi o que aconteceu, Gugu. Não tenho motivo nenhum para mentir. Paguei o que eles acharam que tinha que pagar. Fiz muita gente sofrer. Essa frase acabou com a minha vida. Se não tivesse saído da minha boca, talvez a coisa tenha saído diferente
Gugu: Se você tiver a oportunidade de contar a sua verdade pra ela. Vai pedir perdão?
Simone: Eu vou pedir perdão porque fui eu que dei ela, Gugu. Não foi ninguém que tomou. Foi eu que entreguei!
Depois da entrevista, Gugu Liberato convidou Simone Cassiano a voltar ao Lago da Pampulha.
Assista a entrevista
Com informações do Portal R7