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Vídeos retratam histórias contadas em cartas por mulheres vítimas de violência na Grande Vitória

A ação realizada pelo Instituto Americo Buaiz busca promover a conscientização social e dar voz as vítimas de violência de gênero

Redação Folha Vitória
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Foto: Folha Vitória
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Os relatos de violência contra as mulheres são recorrentes no Espírito Santo. Somente nos dois primeiros meses deste ano, mais de 3 mil casos de violência já foram registrados nos termos da Lei Maria da Penha, segundo a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp).

Para dar voz as mulheres vítimas de violência e encorajar denúncias, uma ação realizada pelo Instituto Americo Buaiz (IAB), com o apoio da Rede Vitória reúne relatos de nove mulheres que sofrem ou já sofreram violência. 

As histórias foram enviadas pelas próprias vítimas por meio do aplicativo Não Me Calo e do projeto Cartas à Maria da Penha, idealizado por Daniela Barreto Andolphi. 

A professora e ativista social reúne relatos para compor um livro que será enviado para Maria da Penha, vítima de violência de gênero que dá nome a lei que busca prevenir e coibir as violências contra as mulheres.

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As cartas foram interpretadas por jornalistas da Rede Vitória. Os vídeos serão exibidos durante os intervalos da programação da TV Vitória/Record TV e estão disponíveis no canal do youtube do IAB. 

No canal, lançado neste mês, também é possível assistir aos episódios do programa "Eu, Você, Nós e o Terceiro Setor". 

>> Clique aqui e conheça o canal do IAB

A gerente executiva do IAB, Paula Resende Martins, explicou que o Instituto mudou a forma de atuação e passou a apoiar entidades por eixos temáticos.  

"O primeiro eixo é o direito da mulher. Abordamos esse tema por meio do protagonismo feminino e da violência contra a mulher. O empoderamento, o protagonismo feminino ajuda a combater a violência contra a mulher. Com os vídeos das cartas, queremos divulgar e dar voz as mulheres, fazer com que as pessoas vejam e entendam o que está acontecendo. Queremos conscientizar que as vítimas não devem se calar", disse.

Entre os convidados para interpretar as histórias está Thamiris Guidoni. A editora de entretenimento do Folha Vitória e apresentadora da Agenda Cultural, no Jornal da TV Vitória, já foi vítima de abuso e se emocionou com o drama vivido pela vítima da carta que leu.

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“Nunca fui vítima de agressão física, mas psicológica sim. Ler a carta de alguém que, com toda certeza, foi aniquilada como mulher fez com que eu chegasse a uma conclusão: em determinado momento, todas nós amamos demais e, infelizmente, mais ao outro do que a nós. Agressão não é só física. Nós, mulheres, precisamos acordar e perceber que palavras destroem e podem ser uma arma quando usadas por alguém que não liga para o outro", pontuou.

Não foram apenas as mulheres que foram convidadas para interpretar as cartas. Apresentadores e repórteres, como Michel Bermudes Auer, também participaram da ação. O objetivo é transmitir a dor das vítimas pela visão masculina.

"A gente, enquanto homem, sempre olha de fora. No momento de ler a carta, foi como se, por alguns instantes, eu estivesse no corpo daquela mulher, vivendo aquela história e sentindo aquela dor. Isso mudou a forma que eu enxergo essas questões. A campanha é um exercício para gente se colocar no lugar do outro. Quando vemos uma mulher agredida, julgamos, nos perguntamos por que ela não saiu de casa? Por que deixou chegar nesse ponto? Lendo aquelas palavras, eu vi o quanto é sofrido, o quando esse grito fica entalado na garganta. Foi uma experiência transformadora como jornalista, como cidadão e, principalmente, como homem", declarou.

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Também participaram da ação os apresentadores Roberta Salgueiro, Douglas Camargo e Fernando Fully, os repórteres Thainara Ferreira e Lucas Pisa, e a chefe da redação do Folha Vitória, Daniella Zanotti.

Todas as histórias interpretadas são relatos de vítimas de algum tipo de violência de gênero. Se você é uma vítima ou conhece alguém que sofre violência, denuncie pelo Disque-Denúncia 181.

Leia abaixo uma das histórias contadas por vítima de violência na Grande Vitória

"Eu era criança e via com frequência as brigas entre meu pai e minha mãe, sempre brigas violentas. Me lembro como se fosse hoje o dia em que acordei e meu pai estava em cima da minha mãe, enforcando ela. Eu tinha mais ou menos uns 7 anos. Me lembro que eram cenas muito dolorosas. 

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Teve uma vez em que meu pai enfiou um garfo na própria mão para acusar minha mãe para a mãe dele, que sempre ameaçava minha mãe, sempre a xingava. Isso não tinha hora e nem lugar, se a comida estivesse fria quando ele chegava ele jogava tudo no chão, tanto o que ele colocasse no prato, quanto o que estava nas panelas.

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Eu vivia com muito medo dele, na verdade, era pânico. Quando eu fiz 9 anos, minha mãe resolveu dar um basta, mesmo sofrendo ameça de morte. Prometi para mim mesma que nunca deixaria um homem fazer aquilo comigo. 

Quando me casei, ele (o marido) tentou me agredir, porém eu não permiti que acontecesse, mas, infelizmente, acabei permitindo as agressões psicológicas. Começou me proibindo de estudar. Ele falava que eu estava indo para a escola para arrumar 'macho', me mandou escolher entre ele e a escola. Como eu estava grávida e não trabalhava, então fiquei com medo e sai da escola. Ele dizia que eu não iria conseguir nada sem ele. 

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Depois, começou com as minhas roupas. As blusas de alças era para seduzir os homens na rua, então, não podia. Decote nem pensar. Depois os shorts, porque se não eu iria parecer p***. Quando dei por mim, não usava mais shorts, blusas de alças e nem decotes. 

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Ele começou a falar que eu estava feia, que estava engordando e que ele não aguentava isso, que eu não era nada, e que se eu me separasse, nunca mais conseguiria ninguém porque eu estava gorda e feia. Um dia ele quis me bater, porém eu não permiti. Um dia resolvi dar um basta naquela situação depois de ver uma traição dele, na frente da minha casa. Hoje estou tentando me reerguer".

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