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Trajetória de Cariê Lindenberg foi marcada por ética empresarial e jornalística e amor à música

Empresário e fundador da Rede Gazeta morreu nesta terça-feira (06), após complicações de uma pneumonia

Redação Folha Vitória
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Foto: Guilherme Ferrari
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“Ele tinha os olhos verdes, bem vivos, quando olhava pra gente parecia ler pensamentos...era profundo! Ele gostava de gente, era muito humano.” A declaração sobre o fundador da Rede Gazeta, Carlos Fernando Monteiro Lindenberg Filho, o Cariê, que morreu nesta terça-feira (06) após complicações de uma pneumonia, é do jornalista, consultor em comunicação e assessor da Findes, André Hees, 54, que passou a maior parte da vida profissional na empresa. E a opinião dele não é diferente de muitas pessoas que conviveram com o empresário. 

Pelos relatos de quem conheceu de perto o trabalho de Cariê Lindenberg, é fácil afirmar que a trajetória dele foi marcada pelo trabalho, pela humildade e pelo profissionalismo, além de uma constante busca por ética na vida empresarial e no dia a dia dos jornalistas. Cada ex-colega de trabalho, como eram chamados por Cariê, destaca a maneira coerente e leve que ele mantinha na vida profissional e pessoal.

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Muito emocionado ao falar do empresário, Hees, ressaltou que, apesar de ter como formação o Direito, Cariê era jornalista na alma, ele não era só o dono do jornal, ele circulava pela redação, ouvia as pessoas, gostava de ouvir as opiniões dos jornalistas, ele acompanhava as informações. 

“Ele conhecia muita gente e passava as informações para nós, jornalistas. Ele ligava ou ia lá na redação. E, muitas vezes, dava retorno, tanto para elogiar como também para fazer alguma crítica. Muitas vezes o vi escrever de próprio punho um editorial para o jornal, pegava um papel A4, uma caneta e escrevia”, relembra.

Compromisso com a sociedade

Entre as muitas lições que aprendeu nos anos de convívio com Cariê, o jornalista ressalta o compromisso sincero com o leitor, com a sociedade. Segundo Hees, ele realmente se preocupava com a verdade e levou isso pra dentro de A Gazeta. 

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“Ele se preocupava com a função social do jornalismo, tinha uma preocupação sincera com o Espírito Santo e com o Brasil e levou isso para dentro da redação e para nós. Era um homem à frente do seu tempo, bem humorado, humano, sem preconceito e tinha uma grande inquietude, amava o que fazia. Acredito, de verdade, que ele foi um homem realizado”, exalta.

Nada de patrão

Apesar da serenidade, o jornalista Álvaro José dos Santos Silva relata que deixar Cariê irritado era fácil. "Bastava chamá-lo de patrão. Ele odiava isso, pois gostava de tratar cada funcionário por igual e, por isso, todos éramos colegas de trabalho dele", descreveu o ex-colega de trabalho.

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O jornalista conta que esteve à frente da editoria de Esportes do jornal por cerca de 20 anos e, durante todo este tempo, era muito comum a presença de Cariê na redação. "Ele era uma ótima pessoa. Evidentemente, ele era empresário e gostava de defender a empresa, mas também defendia o emprego de cada um", destacou.


Foto: CEDOC TV Gazeta
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O jornalista Rubinho Gomes, que esteve ao lado de Cariê em momentos importantes da Rede Gazeta, lembra com carinho de várias etapas de transformação nos meios de comunicação promovidas pelo empresário, como modernizações ocorridas e expansão do espaço físico que era sede da empresa. "O predinho de dois andares na Rua General Osório se transformou em um edifício de 15 andares", citou.

"Em 1975, nos últimos andares do Edifício A Gazeta são instalados os estúdios, redação e áreas técnica e comercial da TV Gazeta, depois que Cariê ganhou a concorrência para implantar a afiliada da TV Globo no Estado e tirou Plinio Marchini do jornal A Tribuna para comandá-la ao seu lado", disse o jornalista.

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Rubinho Gomes relata que trabalhou com Cariê em períodos que somam 25 anos. Primeiro, como editor do extinto Jornal das Sete. Posteriormente, nos anos 80, ele volta a empresa como editor executivo de A Gazeta. O tempo de trabalho fez com que ele conhecesse, até mesmo, o gosto musical de Cariê.

"Era comum nosso gosto pela música, sobretudo bossa nova. Lembro da inauguração dos dois prédios em Bento Ferreira, em Vitória. No primeiro, lembro que ele usava os estúdios aos domingos para jam sessions com seus amigos músicos, como Jorginho Saadi, Afonso Abreu e tantos outros. O segundo foi para abrigar a gigantesca impressora Newslinner, que rodou os jornais A Gazeta e Notícia Agora, de saudosa memória. Cariê realmente é o personagem histórico mais marcante na história da comunicação do Espírito Santo", destacou.

Anticorrupção

O historiador Fernando Achiamé concorda com Rubinho Gomes. As inovações na comunicação e no jornalismo praticados no Estado foram pautadas por uma crescente postura  a partir do seu convívio no cenário político. 

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"Ele auxiliou o segundo mandato do pai, que era o governador do Espírito Santo entre 1952 e 1959. O jornal A Gazeta, que era um jornal partidário, foi até adquirido pela família em 1949 e começou a passar por um processo de modernização com o trabalho de Cariê. Foi se transformando cada vez mais num veículo impresso independente com o passar dos anos", aponta. 

A partir do jornal, o conglomerado da Rede Gazeta foi aparecendo com a chegada da emissora de televisão, as rádios e o jornal online. "Assim como feito no jornal, ele deu um caráter eminentemente empresarial para todos os veículos. Assim, a rede foi se fortalecendo e se firmou como atividade eminentemente jornalística", explica. 

Achiamé diz que essa postura foi fundamental na história capixaba recente. "Conseguiu fazer uma linha de frente a um grupo escuso, do crime organizado na chamada 'Era Gratz', a partir das matérias de denúncia e investigação do jornal. Isso acabou mobilizando tanto as instituições de investigação como toda a sociedade civil. Fica esse legado", considera.

Bossa nova

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O homem antenado com os negócios também cultivava um lado amante da música. E deixou sua marca. Ele frequentava uma turma no Rio de Janeiro que, lá no final dos anos 50, estava acalentando o nascimento de um ritmo que seria chamado de bossa nova e que colocaria o Brasil para sempre no mapa internacional da música. 

Foto: Reprodução
Da esquerda para direita, Cariê Lindenberg, Edson Dias, compositor Roberto Menescal,  Ugo Marota, famoso vibrafonista carioca, e o pianista Pedro Alcântara

O psiquiatra Edson Dias, de 72 anos e amigo do empresário há 40, esteve presente nos últimos quatro anos nas reuniões de sábado que Cariê promovia em sua casa, sempre com boa música. 

MPB, bossa nova e jazz eram constantes. "Cariê foi amigo íntimo de Tom Jobim e de grandes nomes que estariam na história da música nacional. O parceiro de Tom Jobim, o pianista Newton Mendonça, que com ele compôs 'Desafinado', teve tal carinho com Cariê que botou no filho o nome de Carlos Fernando", relembra. 

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O "capixaba filho do governador", como a turma da bossa falava, sempre manteve ligação com artistas do quilate de Sylvinha Teles, Roberto Menescal, Maysa, entre outros.

"Hoje (terça-feira), pela manhã, Roberto Menescal me telefonou. Estamos até agora sob o efeito da notícia. Difícil aceitar que a gente não vai ter mais aquela figura que foi uma das mais encantadoras que eu conheci. Igual à música que ele tanto apreciava e que tanto contribuiu para se tornar cada vez mais conhecida e amada", reforça. 

Conheça a trajetória de Cariê Lindenberg 


13 DE SETEMBRO DE 1935

Em 13 de setembro, nasce, no Rio de Janeiro, Carlos Fernando Monteiro Lindenberg Filho, o Cariê, filho de Carlos Lindenberg e Maria Queiroz Lindenberg.

• 1958

FORMAÇÃO EM DIREITO

Cariê se tornou bacharel em Direito pela PUC-Rio em 1958, mas sempre fez questão de dizer em várias entrevistas que jamais pensou em ser advogado. À época, seu pai, Carlos Fernando Monteiro Lindenberg, exercia um de seus dois mandatos como governador do Espírito Santo.

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"Não que eu não me forçasse a alguma coisa. Mas até os meus 28, 29 anos, eu praticamente vivia de mesada do meu pai. Mas eu não encontrava nada. Fiz cursinho, me tornei bacharel em Direito pela PUC-Rio em 1958, mas jamais pensei em ser advogado. Talvez um assessor jurídico, mas ir brigar em um Tribunal nunca foi do meu feitio ", contou em entrevista para A Gazeta em 2018.

• 1959

FUNCIONÁRIO PÚBLICO

Amigo e confidente político do pai por toda a vida, Cariê tem participação ativa na campanha do pai, Carlos Lindenberg, para o segundo mandato no governo. Após a eleição ele atuou como oficial de gabinete do governador.

Foto: Acervo A Gazeta

• 1960

AGÊNCIA DE PUBLICIDADE

Depois do governo, Cariê foi para uma empresa chamada Eldorado Melhoramento, que se desdobrou em Plano Engenharia e na Eldorado Publicidade (primeira agência de publicidade do Estado). Segundo contou durante uma entrevista, ele estava empenhando em fazer a empresa dar certo quando recebeu o convite do tio, Eugênio Pacheco de Queiroz, então presidente de A Gazeta, para assumir a diretoria comercial do jornal A Gazeta.

NOVA GESTÃO

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Cariê participa da gestão do jornal A Gazeta desde 1962 quando se torna diretor comercial. Desde então, a empresa jornalística toma um novo impulso, se organiza em bases empresariais e transforma-se em uma grande rede de Comunicação.

”Sou do tempo em que o jornal era quase que uma coisa artesanal. Tivemos que organizar a empresa, dar o nome do cargo a cada um dos funcionários, colocar a função de cada um, tirar da redação o vício – que eles não consideravam assim – de não informar nada de inconveniente sobre os nossos anunciantes importantes. A autocensura foi difícil tirar. E depois teve o aspecto de organização interna, como suspender os adiantamentos quinzenais, que eram trocados por vales, e começar a fazer os pagamentos a cada 15 dias. O jornal só evoluiu para o momento de construir a televisão porque ficou absolutamente claro que, se nós não fizéssemos isso, alguém faria e nós iríamos perder aquela situação hegemônica que nós tínhamos’’, detalhou Cariê em entrevista.

• 1966

SEM PARTIDOS

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Quando Cariê chegou à empresa, o jornal A Gazeta era um veículo que expressava no Estado a opinião de um grupo político, o PSD. Em várias entrevistas, o empresário contou como foi participar da guinada dentro da linha editorial do veículo.

‘’A Gazeta foi comprada por um conjunto de pessoas, numa ‘vaquinha’, para o apoio político ao PSD. O jornal tinha um vínculo real com o partido. Para nos vermos livres dessa situação era difícil, por isso foi necessária a extinção dos partidos, em 1966, para a gente começar um trabalho de afastamento, de isolamento e independência ideológica e político-partidária. Fizemos um primeiro teste convidando o Esdras Leonor, do jornal O Diário, e que era contrário ao PSD, para ser o editorialista, o jornalista de política. Começamos a partir daí consertando. Mas meu pai [Carlos Lindenberg] era uma pessoa muito simples e centrada e aceitou bem [a nova linha editorial].”

• 1969

MODERNIZAÇÃO

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Em dezembro de 1969, o jornal A Gazeta inaugura a sua nova sede, na Rua General Osório, 127, no Centro de Vitória, em um prédio de 13 andares (Edifício A Gazeta). Na nova sede, A Gazeta instala uma moderna rotativa Goss Comunity, a primeira impressora offset do Espírito Santo, que permite maior velocidade de impressão (16 mil exemplares por hora) e a adição de cores nas edições.

Foto: Acervo Instituto Carlos Lindenberg


• 1971

A GAZETA GANHA TELEX E TELEFOTO

No dia 13 de outubro de 1971, começa a funcionar, em A Gazeta, o primeiro telex instalado em jornal no Espírito Santo. O jornal passa a receber, em tempo real, notícias nacionais através das agências Jornal do Brasil e Estado, e internacionais através da UPI, United Press International e da France Press. As notícias de esportes são recebidas através da Sport Press. Também são instalados os sistemas de radiofoto e, em seguida, de telefoto permitindo o recebimento de fotos das agências Jornal do Brasil, Globo e Estado (nacionais) e Reuters (internacionais).

Foto: Acervo Instituto Carlos Lindenberg

•1976

TV GAZETA ENTRA NO AR

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Um investimento de 17 milhões de cruzeiros coloca no ar, em 11 de setembro de 1976, a TV Gazeta, Canal 4, afiliada à Rede Globo de Televisão. Ao iniciar as suas atividades, a TV Gazeta é sintonizada em dois terços do território do Espírito Santo sem a necessidade de retransmissores graças à torre de transmissão instalada no Morro da Fonte Grande, em Vitória. Os estúdios e as áreas comercial, técnica e administração da TV Gazeta são instalados no 13º andar do Edifício A Gazeta, no Centro de Vitória. Para operar a emissora é criada a empresa A Gazeta do Espírito Santo Rádio e TV Ltda. Em pouco tempo, a TV Gazeta passa a ter o seu sinal captado em todos os municípios do Espírito Santo.

• 1978

PEDRA FUNDAMENTAL

É lançada, no dia 11 de setembro de 1978, data do 50º aniversário da empresa, a pedra fundamental que marca o início de construção da nova sede do jornal A Gazeta e da TV Gazeta no bairro de Bento Ferreira, em Vitória. O novo prédio, um “projeto inédito no país”, por abrigar todos os veículos de comunicação do grupo empresarial apoiados por uma única área corporativa, como definido pelo arquiteto Carlos Alberto Vivacqua - possui 11,4 mil m² já com a previsão de instalação da rádio FM que entra em operação em 1979.

Foto: Acervo Instituto Carlos Lindenberg

• 1979

A RÁDIO E A REDE GAZETA

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É inaugurada a Rádio Gazeta FM (92,5 Mhz) no dia 1º de fevereiro de 1979. A nova emissora compõe o portfólio do grupo de comunicação que, um ano depois, passa a se denominar Rede Gazeta de Comunicações e, mais tarde, Rede Gazeta.

Foto: Acervo Instituto Carlos Lindenberg

• 1983

"CASA NOVA" EM BENTO FERREIRA

A Rede Gazeta (jornal A Gazeta, TV Gazeta e Rádio Gazeta FM) deixa, em 16 de fevereiro de 1983, o Centro de Vitória para ocupar uma nova sede à Rua Chafic Murad, no bairro de Bento Ferreira, viabilizando a expansão dos negócios. O novo prédio possui os mais modernos equipamentos de produção do jornal e das emissoras de rádio e TV e abriga também as dependências administrativas e a área comercial. A Área Industrial do jornal ganha uma moderna impressora rotativa Harris que amplia a velocidade de impressão para 50 mil exemplares por hora, a capacidade de produção de cadernos com cores e a quantidade de páginas. Logo após a mudança, entra no ar a Rádio Gazeta AM.

A nova sede é ampliada em 1999 quando é construído o novo Parque Gráfico da Rua Carlos Moreira Lima.

• 1996

LANÇAMENTO DE SITE

A Rede Gazeta lança o portal Gazeta Online, no dia 23 maio. Também entrou no ar a Rádio CBN (1250 AM).

• 1999

PARQUE GRÁFICO

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A Rede Gazeta inaugura o seu novo parque gráfico, com a impressora Newsliner, usada nos principais jornais de todo o mundo.

• 2001

AUTOR DE LIVROS

Desde que se aposentou, em 2001, Cariê passou a escrever todos dias. “Leio cinco jornais diariamente, e, a qualquer ideia nova, sento para escrever. Quando deixei A Gazeta, fiquei com o tempo ocioso e resolvi passar para o papel fatos curiosos e coisas que me incomodam”, contou Cariê, que lançou os livros "Vou Te Contar", “Eu e a Sorte”, “O Galinha e Elas”, “Bis + cinco”, “Pingos e Respingos”, “Memórias Cariocas & Outras Memórias” e “Muito Longe do Fim”.

Foto: Divulgação
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