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Geral

'É importante utilizarmos essa oportunidade para falar abertamente sobre suicídio'

Daniela Reis e Silva

Redação Folha Vitória
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Daniela Reis e Silva é psicóloga e terapeuta do luto Foto: Arquivo Pessoal
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Com tantos prazos, entregas, estímulos e consumo de informação, o ser humano tem sido cada vez mais afetado por distúrbios de ordem psicológica. Transtornos relacionados à depressão e ansiedade têm aparecido com frequência em alertas da Organização Mundial da Saúde.

Os assuntos passam a chamar mais atenção de veículos de notícia e figurar em filmes, séries para a televisão, livros e discussões nas redes sociais. No entanto, é possível que a comunicação se apresente de maneira equivocada e o serviço acabe se tornando um incentivo para quem pensa em por fim às possibilidades. 

A relação acabou se tornando tão grave que o tema se tornou tabu e a Organização Mundial da Saúde definiu um manual para profissionais da mídia, que faz parte de uma série de manuais destinados a grupos sociais e profissionais específicos.

O Folha Vitória conversou com a psicóloga e terapeuta do luto Daniela Reis e Silva, Mestre em Psicologia, especialista em Intervenções Sistêmicas com Famílias e Especialista em Perdas e Luto para tratar do delicado tema.

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Folha Vitória: Distúrbios de ordem psicológica e biopsicossocial afetam adultos, adolescentes e até crianças cada vez mais cedo. Conseguimos identificar uma razão para isso?
Daniela Reis: É difícil estabelecer um motivo aparente para o aumento de depressão, ansiedade e outros problemas como esses. Os casos tem aumentado, mas a gente não sabe se é porque estamos mais atentos, pela própria globalização, pela liquidez dos nossos tempos, pela pressão de ter sucesso em curto prazo, são muitos os elementos que contribuem. A forma de combater isso é falar abertamente, esclarecer que esses são problemas reais, dismistificar a busca de ajuda psicológica e psiquiátrica. Ainda existe preconceito, mas qualquer um de nós pode precisar de um atendimento desse.

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F.V: Recentemente esses assuntos passaram a ser mais discutidos, tomaram espaço nos jornais, livros, em séries de TV e redes sociais. O que essa divulgação pode acarretar?
D.R: O problema é como isso tem sido feito. Emissoras de televisão divulgam matérias que viralizam e isso acaba trazendo problemas significativos como o aumento do interesse daquilo que pode causar o dano. Mas é superimportante utilizarmos essa oportunidade para falar abertamente sobre suicídio, sobre depressão, sobre comportamento adolescente que tem apresentado riscos a essa população. A divulgação irresponsável pode ser negativa porque pode estimular quem acompanha a seguir os passos de um protagonista ou daquilo que aparece em jogos.

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F.V: Existe uma população de maior risco em relação a esses estímulos vindos de produções audiovisuais e redes sociais, por exemplo?
D.R: Esse tipo de produção afeta principalmente adolescentes, população extremamente vulnerável pelo próprio fator da adolescência. Por vezes o comportamento adolescente pode ser confundido com um comportamento suicida. Quando se percebe uma mudança de comportamento significativa é importante chegar junto, conversar sobre o que está acontecendo. Mas vivemos uma geração de pais que não conversam muito com os filhos. É frequente encontrarmos famílias inteiras que estão absortas cada uma em seu dispositivo eletrônico, o que não permite que se tenha conversas sobre o que acontece com cada um deles. É preciso falar abertamente. Mas essas coisas afetam também crianças, por sua curiosidade. Pessoas enlutadas por suicídio, que relatam mal estar ao observar algo que lembre o trauma, pessoas adultas em depressão. Isso afeta qualquer um, porque não é fácil lidar com esse tema. E não só suicídio, a gente vê cenas aterrorizantes cada vez mais comumente.

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F.V: Esse distanciamento pode ser provocado pela tecnologia, por um aumento nas relações a partir de redes sociais, por exemplo?
D.R: As relações por meio das redes sociais por um lado aproximam distâncias, mas por outro, as pessoas acabam se isolando, impedindo a convivência, o olho no olho, a troca de afeto. Com a ênfase atual na importância da privacidade e da individualidade de crianças e adolescentes, muitos pais não supervisionam suas atividades, o que pode facilitar o acesso à conteúdo impróprio desde a mais tenra idade. É importante que os pais acompanhem as atividades dos filhos possibilitando conversa franca que permita a transmissão de importantes valores, com a definição de limites claros do que é permitido, sem tanta permissividade.

F.V: O que pode ser feito para melhorar essas relações, identificar e ajudar quem precisa?
D.R: A melhor forma de ajudar é conseguir identificar se realmente a pessoa está afetada por algo. E não é esse algo que faz isso, mas um conjunto de fatores que leva a um quadro de depressão ou transtorno que possa caracterizar um comportamento suicida. A partir dai estar por perto e conseguir conversar sobre isso e encaminhar para tratamento quando necessário. E principalmente reforçar e melhorar a rede pública de saúde mental para que a gente possa ter acesso fácil e tratamentos eficazes. Por isso é mais do que necessária a divulgação disso com responsabilidade, com o cuidado que é determinado pela OMS.

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