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Lama Cirúrgica: acusados usavam codinome 'frango' para oferecer propina a médicos

Segundo uma das testemunhas, os planos de saúde não sabiam que os produtos eram reprocessados

Redação Folha Vitória
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Foto: Reprodução TV Vitória
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Novos depoimentos de testemunhas arroladas ao Ministério Público do Espírito Santo (MPES), no caso das investigações da Operação Lama Cirúrgica, apontam que os produtos reprocessados eram vendidos para planos de saúde.

De acordo com os depoimentos, as propinas pagas por Marcos Stein, um dos diretores da empresa Golden Hospitalar, eram chamadas de "pagamento de frango" internamente entre os sócios.

Nos autos, uma das testemunhas diz que os médicos tinham um acordo com o diretor de um percentual de 20% em cada procedimento. Elas também disseram que Marcos instruía os médicos a pedir produtos que somente a empresa Golden teria.

"A partir daí, as cirurgias somente eram autorizadas para a Golden, pois os médicos faziam o pedido aos convênios, dizendo que o paciente teria que utilizar esse produto, e o convênio se sentia na obrigação de autorizar para a empresa Golden. O diretor comercial era mais exaltado e comentava que estava 'separando e levando o frango para o pessoal'", disse um ex-funcionário da empresa.

PLANOS PAGAVAM POR MARCAS MAIS CARAS E MÉDICOS USAVAM MAIS BARATAS

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Além do uso de produtos reutilizados, ex-funcionários da Golden Hospitalar contaram que médicos usavam produtos hospitalares de marcas inferiores às que eram liberadas para uso pelos convênios. O valor chegava a ser cinco vezes mais barato que o preço dos produtos indicados ao plano.

"Em vez de ser utilizado o produto autorizado, era utilizado um de baixo custo, como, por exemplo, o equipo de 4 vias, que trabalha com sistema gravitacional, e o valor dele era de R$ 8,00, e o equipo de irrigação bomba, que custava em torno de R$ 100,00, nesses casos era autorizado o de R$ 100,00 e utilizado de R$ 8,00", conta outro ex-funcionário.

Os depoimentos foram colhidos na última sexta-feira (15) e divulgados nesta terça (19) pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJES). Os depoentes são ex-funcionários da empresa Golden e confirmaram o reuso de materiais hospitalares. Segundo um deles, os planos de saúde não sabiam que os produtos eram reprocessados.

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Parte do depoimento de uma das testemunhas confirmou o reprocessamento, mesmo sabendo que isso era proibido, o que era orientado pelo próprio fabricante na embalagem do produto e conforme nota técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A testemunha também confirmou que fazia o trabalho de reprocessamento, pois era empregado da empresa, e salientou que os diretores da Golden tinham ciência do reprocessamento e de que a prática era proibida. Mesmo assim, segundo o depoimento, os produtos reprocessados eram comercializados para planos de saúde.

Uma outra testemunha afirmou já ter participado de cirurgias realizadas pelo médico Rodrigo Souza Soares, preso em caráter provisório pelas investigações da operação, e que os materiais voltavam para a empresa Golden após os procedimentos, com determinação do acusado Marcos Stein.

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O médico ortopedista Rodrigo Souza Soares é suspeito de envolvimento no esquema de reutilização de materiais hospitalares descartáveis em cirurgias ortopédicas, investigado durante a operação Lama Cirúrgica. Ele é o único réu que permanece preso por envolvimento no esquema, suspeito de falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais e estelionato.

A reportagem entrou em contato com o advogado de Marcos Stein, Raphael Americano Camara, que também representa o réu Gustavo Deriz Chagas no processo. Raphael afirmou que prefere não se manifestar sobre o caso devido a um acordo de delação premiada firmado entre seus clientes e a Justiça. Segundo o advogado, qualquer declaração no momento poderia atrapalhar o andamento do processo.

Lama Cirúrgica

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A operação teve início em janeiro do ano passado. Uma quadrilha que aplicava golpe na comercialização de materiais hospitalares foi desarticulada no Espírito Santo. Marcos Roberto Krollin, o sócio dele, Gustavo Deriz Chagas Stein e Thiago Wain foram detidos no dia 16 de janeiro por policiais do Núcleo de Repressão as Organizações Criminosas e a Corrupção (Nuroc).

A Operação Lama Cirúrgica investiga empresas e profissionais responsáveis pela reutilização de materiais descartáveis em cirurgias ortopédicas. A suspeita é de que pelo menos 52 pessoas tenham sido operadas com materiais que deveriam estar no lixo, apontou o Ministério Público Estadual.

O reprocessamento de produtos é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Além de ser infração sanitária, a prática pode elevar os riscos de infecção ao paciente, bem como acarretar falhas na utilização do produto, perda de desempenho, retenção de corpo estranho, intoxicação, entre outros.

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Em maio de 2018, a reportagem da Rede Vitória exibiu uma matéria exclusiva que mostrou que o médico Eduardo Araújo Ramalho, 35 anos, especialista em Ortopedia e Traumatologia e investigado na operação, continuava exercendo as funções no Hospital São Camilo, localizado em Aracruz, região Norte do Espírito Santo.

Segundo funcionários do hospital, o médico não faz mais parte do quadro clínico da unidade. No entanto, a reportagem da Rede Vitória apurou que ele segue atendendo em uma clínica particular na cidade.

O Conselho Regional de Medicina no Espírito Santo (CRM-ES) informou que está apurando os fatos, para verificar se há indícios de infração ao Código de Ética Médica. Como os procedimentos tramitam em sigilo, o Conselho disse não pode dar detalhes da apuração.

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