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Ocupação pode ter piorado crise hídrica em Brasília

Estadão Conteudo

Redação Folha Vitória
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Mergulhada em um racionamento de água que não tem data para acabar, Brasília recebe a partir de hoje o 8.º Fórum Mundial da Água. O desafio será discutir um problema que atinge não somente a capital, mas vem assombrando o País nos últimos anos e é cada vez mais comum em vários cantos do mundo.

Enquanto cerca de 10 mil congressistas de 170 países debatem o tema "compartilhando água", o País tem em grande parte do seu território - no Semiárido do Nordeste, há sete anos, e no Centro-Oeste, há três - um quadro de crise hídrica.

Paulo Salles, diretor-presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa) do Distrito Federal, autarquia ligada ao governo distrital, diz não haver risco de faltar água no evento e que o racionamento, em vigor há mais de um ano, é "oportunidade" para discutir o problema.

"A crise hídrica é mundial, não é um problema local. Todos enfrentam dificuldades. As variações atreladas ao clima estão se concretizando", afirma. Ele admite, porém, que obras previstas que podiam ter evitado o racionamento não foram realizadas. "O racionamento ocorre porque não executaram o que estava no papel. Além da falta de investimento, houve paralisia por órgãos de controle. Temos problemas de gestão."

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Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) sugere que a escassez de água na capital federal vai além da falta de chuva ou da conclusão de obras de novos reservatórios. O trabalho analisou a evolução, desde 2000, do reservatório do Descoberto, o principal da região, que atende 2/3 da população de Brasília - 2 milhões de pessoas.

Com imagens de satélite, o trabalho constatou redução de 37% da área de espelho d'água do reservatório no período de 2016/2017 na comparação com 2013/2014, início da crise. A análise considerou o chamado ano hidrológico, que vai de outubro de um ano (início da temporada de chuvas) a setembro do ano seguinte (fim da seca).

De 2000 a 2014, mesmo em momentos de menos chuva, a área do espelho nunca ficou abaixo dos 1,1 mil hectares (mais informações nesta página). A partir de então, com uma redução mais intensa das chuvas, a área começou a diminuir, batendo um recorde atrás do outro, até chegar a 773,2 hectares no último ano hidrológico, de outubro de 2016 a setembro de 2017. O volume de chuva no período foi o menor desde 2000.

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Mas os pesquisadores do Ipam observaram outra mudança - a redução da cobertura vegetal na Área de Proteção Ambiental (APA) no entorno do Descoberto. A cidade cresceu na região. Houve um aumento de 336% de infraestrutura urbana de 2000 a 2016.

"É um efeito sinérgico entre o avanço da especulação imobiliária na região da APA e a consecutiva falta (de chuva). De fato tivemos períodos de seca expandidos, mas já tinham ocorrido outros momentos de pouca chuva no passado e nem assim o reservatório ficou tão baixo", comenta a pesquisadora Ane Alencar.

Para ela, a combinação da mudança do uso do solo com ondas de calor e de seca pode ter criado um ponto de não retorno. "Tem chovido recentemente e o reservatório está se recuperando (chegou a 66,6% na sexta-feira), mas não quer dizer que o problema acabou", diz. "O clima acaba afetando muito mais o Descoberto por causa da falta de cobertura vegetal, que poderia segurar efeitos da seca."

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Para André Lima, que foi secretário de Meio Ambiente do DF até novembro, houve ao longo do tempo um descaso com o ambiente. "Sempre se viu a questão da água como um problema de engenharia. Deixou-se a cidade crescer de forma desordenada, com ocupação em cima de nascente."

Lima defende que haja uma ação de longo prazo para recuperar o reservatório a fim de mantê-lo como um produtor de água. "(A área onde fica o reservatório) ainda é prioritariamente rural. É preciso investir em tecnologias para um uso mais sustentável. Tem muito produtor vendendo parcelas de sua terra. Vai virar tudo urbano."

Ele diz que vai ser lançado, durante o fórum, um programa, com financiamento da Organização das Nações Unidas (ONU) Meio Ambiente, para avaliar como pode ser feita essa recuperação. "A ideia é identificar ações estratégicas que precisam ser tomadas para garantir a manutenção da produção hídrica: regularização fundiária, novas tecnologias de irrigação para reduzir o consumo e recuperação das nascentes. E dizer quanto isso vai custar e quais são formas possíveis de pagar."

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Lima lembra, porém, que a saída que vem sendo buscada para a crise é a construção do reservatório Corumbá 4, em Goiás, a cerca de 100 km da capital. "Vamos gastar cerca de R$ 1 bilhão para buscar água longe, quando ainda há espaço para reduzir a demanda de água e conter a degradação do entorno do reservatório", afirma ele. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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