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Geral

Preconceito e violência! Transexual capixaba fala sobre dificuldades e falta de oportunidade

O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Entre janeiro de 2008 e março de 2014, foram registradas 604 mortes no país, segundo pesquisa

Redação Folha Vitória
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Flavia Ravache tem 35 anos e mora em São Mateus Foto: ​Reprodução/ Facebook
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As discussões acerca da transexualidade, caracterizada por uma condição em que a pessoa não se identifica psicologicamente com o sexo biológico e sente que deveria pertencer ao sexo oposto, têm chamado cada vez mais a atenção da sociedade.

O sentimento conhecido como transexualismo é um tipo de distúrbio de identidade de gênero. Os transexuais desejam viver como o gênero oposto e podem transformar seus corpos por meio de uma cirurgia de redesignação de gênero, um conjunto de procedimentos conhecido como "mudança de sexo". 

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Além de todo o procedimento cirúrgico, os 'trans' convivem com as dificuldades do dia a dia que implicam no preconceito da sociedade, já que o transexualismo ainda é considerado verdadeiro tabu.
“Somos assassinadas desde que nascemos. Na escola, você já começa a ser rotulada e as pessoas te ‘empurram’ para o mundo das drogas e da prostituição. A sociedade não está preparada para aceitar os transexuais”, disse Flavia Ravache, de 35 anos, uma das representantes da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) no Espírito Santo. 

 "Somos assassinadas desde que nascemos. A sociedade não está preparada para aceitar os transexuais..."

Os conflitos de identidade sexual geralmente começam na primeira infância, mas têm sido identificados em pessoas de todas as idades. Uma pessoa biologicamente nascida homem que se identifica como sendo uma mulher é conhecida como mulher transexual. Uma pessoa biologicamente nascida mulher que se identifica como sendo um homem é conhecida como homem transexual.

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“As pessoas acham que a gente escolhe ser assim, mas nós já nascemos desse jeito. Sou transexual porque o meu sistema biológico não está de acordo com o psicológico e as pessoas não entendem isso”, disse Flavia.  

Flavia disse que na maioria das vezes, os transexuais sofrem com o preconceito dentro de casa. “No início foi difícil. Quem comprou a briga foi minha mãe. Ela conseguiu me compreender, mas houve uma resistência muito grande por parte do meu pai. Mas para não ter a família destruída, ele me aceitou e com o tempo foi me compreendendo", contou. 

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A transexualidade ainda é um verdadeiro tabu e para Flávia a sociedade mostra que não está preparada para compreender a insatisfação de uma pessoa com o próprio gênero. Isso gera preconceito, ofensas e até mesmo violência. “Os 'assassinatos' acontecem porque você foge da normativa e automaticamente já é condenada por parte de pessoas da própria família. Na maioria das vezes, os familiares expulsam a pessoa de casa, o que é muito cruel”, disse Flavia. 

Mercado de trabalho

Além das dificuldades em permanecer nas escolas e faculdades, as transexuais enfrentam outro grande desafio: conseguir um emprego. De acordo com Flavia, conseguir uma vaga no mercado de trabalho tem sido cada vez mais difícil e isso não se deve à crise econômica que o Brasil enfrenta. “Chego a passar nos processos, e quando chega na parte da documentação e eles vêem que sou transexual falam que no momento não vai ser possível a contratação, que não há vagas disponíveis”. 

Em muitos casos, os transexuais não conseguem emprego por causa de 'achismos'. "As pessoas acreditam que a transexualidade está ligada ao sexo. É difícil conseguirmos emprego porque eles acham que vamos dar em cima de alguém. Nós ganhamos esse rótulo e precisamos mudar isso. Nós temos capacidade para estudar, trabalhar e ter família", disse Flavia. 

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Os dados são de um relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil, publicado pela Secretaria de Direitos Humanos em 2012 Foto: ​Reprodução/ Agência Brasil

Violência no Brasil

O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Entre janeiro de 2008 e março de 2014, foram registradas 604 mortes no país, segundo pesquisa da organização não governamental (ONG) Transgender Europe (TGEU), rede europeia de organizações que apoiam os direitos da população transgênero.

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Segundo um relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil, publicado, em 2012 pelo Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, houve o recebimento pelo Disque 100 de 3.084 denúncias de violações que estavam relacionadas à população lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros (LGBT), envolvendo 4.851 vítimas. Em relação ao ano anterior, houve um aumento de 166% no número de denúncias, em 2011, foram contabilizadas 1.159 denúncias envolvendo 1.713 vítimas.

Segundo o relatório, esses números apontam para um grave quadro de violência homofóbica no Brasil.

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O relatório mostra que, em 2012, 71% das vítimas eram do sexo masculino e 20% do sexo feminino. Algumas vítimas não declararam sexo. As violências psicológicas foram as mais reportadas, com 83,2% do total, seguidas de discriminação, com 74,01%; e violências físicas, com 32,68%.

Entre as violências físicas, as lesões corporais foram as mais reportadas, com 59,35%, seguidas por maus-tratos, com 33,54%. As tentativas de homicídios totalizaram 3,1%, com 41 ocorrências, enquanto assassinatos contabilizaram 1,44% das denúncias, com 19 ocorrências. Além dos dados coletados no Disque 100, o relatório também incluiu informações sobre violações publicadas em veículos de comunicação.

Em 2012, foram divulgadas na mídia 511 violações contra a população LGBT, destas 310 foram homicídios. De acordo com o documento, as travestis foram as maiores vítimas de violência homofóbica, sendo 51,68% do total; seguidas por gays (36,79%), lésbicas (9,78%), heterossexuais e bissexuais (1,17% e 0,39% respectivamente). De acordo com o documento, 54,19% das vítimas eram do sexo masculino e 40% eram travestis.

Mitos e verdades

Crianças podem se submeter ao tratamento

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 Mito. De acordo com o Ministério da Saúde, é preciso ter pelo menos 18 anos para poder se submeter às intervenções cirúrgicas na rede pública. O tratamento psicológico e hormonal pode começar mais cedo, a partir dos 16 anos.

É preciso um acompanhamento prévio

 Verdade. Não basta apenas decidir se submeter à troca de sexo, é preciso, por lei, passar por uma avaliação multiprofissional e seguir o acompanhamento com especialistas por pelo menos 2 anos, antes de realizar a cirurgia de troca de sexo. Na equipe estão inclusos psiquiatras, psicólogos, urologistas, ginecologistas, endocrinologistas, cirurgiões plásticos, mastologistas, fonoaudiologistas, otorrinolaringologistas, assistentes sociais, equipe de enfermagem e equipe ética e jurídica.

Tornar-se “mulher” é mais fácil

 Verdade. A cirurgia de redesignação sexual do gênero masculino para o feminino é muito mais simples e pode ser feita em praticamente uma única intervenção, onde é retirado o pênis e reconstruído o canal vaginal. Já no caso de mulheres que desejam adquirir as características físicas masculinas o processo é mais demorado e delicado, necessitando de cerca de cinco cirurgias para completar o processo. O primeiro passo é a retirada das mamas, o segundo é a retirada do útero, trompas, ovários e estrutura vaginal. O pênis é formado na terceira cirurgia, aproveitando a pele do antebraço. Na quarta intervenção o pênis é posicionado em seu devido lugar e, finalmente, na quinta cirurgia são colocadas próteses penianas e escrotais.

É difícil mudar a documentação

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 Mito. Depois que a cirurgia de redesignação sexual já foi feita, as alterações nos documentos oficiais ocorrem de forma bastante simples. Basta apresentar laudos médicos, que comprovem as mudanças físicas. Já nos casos em que a cirurgia ainda não ocorreu, o processo é muito mais demorado e as chances de conseguir as mudanças são menores, apesar de existirem casos nacionais de sucesso.

O SUS oferece cirurgia de mudança de sexo

 Verdade. O Sistema Único de Saúde já realiza a cirurgia de troca de sexo gratuitamente, contemplando tanto transexuais masculinos como também femininos. Além do procedimento cirúrgico, os pacientes também realizam tratamento hormonal sem qualquer tipo de custo.

Será que o órgão masculino 'funciona' após a cirurgia? E o da mulher? Eles conseguem ter relação sexual normalmente? Tire algumas dúvidas abaixo! Foto: ​Reprodução

Dúvidas que todo mundo têm!

Há muitas dúvidas a respeito do procedimento cirúrgico que transforma um homem em mulher e vice-versa. 

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A cirurgia para mudar a forma física de pessoas que já se consideram do sexo oposto é uma intervenção que tem aumentado de frequência, apesar de ainda ser um tipo de cirurgia não muito popular. 

Faloplastia – feminino para masculino

Primeiro são feitas cirurgias para a retirada de mamas, útero e ovários. Então inicia-se uma terapia hormonal para o crescimento do clitóris. Quando este atinge um tamanho médio de 4 a 5 cm, ele é “despregado” da posição original (na vulva) e movido para a frente, ficando em uma posição que lembra a de um pênis. 

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A uretra (canal do xixi) é alongada, com tecido extraído da antiga vagina, para que termine na ponta desse novo pênis. A vulva então é “fechada” para formar o escroto e os testículos são formados com o tecido dos grandes lábios vaginais, que recebem próteses esféricas de silicone. Como nem sempre esse novo pênis possui qualidade estética e funcional satisfatória, em alguns casos é feita uma cirurgia complementar (após a recuperação da primeira), na qual é colocada uma prótese em seu interior, possibilitando a ereção e a penetração sexual.

Vaginoplastia – masculino para feminino

Com muito cuidado para não comprometer o aparelho urinário, é feito um corte no comprimento do pênis e no saco escrotal, que em seguida são “esvaziados” – sem os testículos, os hormônios masculinos deixam de ser produzidos. Desta forma, o que sobra são pele, tecidos nervosos e a uretra. 

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Com o que sobrou do saco escrotal são moldados lábios vaginais. A pele do antigo pênis é utilizada para moldar o canal vaginal, garantindo sensibilidade à região, que chega a ter de 12 a 15 cm de profundidade – para que o buraco não feche, é preciso usar com frequência um alargador ou praticar muito sexo com penetração. A glande é conservada e “encaixada” como um clitóris

Thammy Miranda,  Thalita Zampirolli, Adriadna e Roberta Close fizeram a cirurgia de mudança de gênero Foto: ​Reprodução

Conheça alguns exemplos de famosos que adotaram um novo gênero sexual

No Brasil, Rogéria foi pioneira em adotar um novo gênero sexual. Ela começou a carreira como maquiadora da TV Rio, mas não se identificava como homem e também tinha o desejo de atuar como atriz. Logo, adotou a nova identidade e se transformou em um ícone de coragem, pois passou por um período em que a aceitação para esse tipo de decisão ainda era alvo de muito preconceito. Embora tenha vivido como mulher a maior parte da vida, Rogéria nunca sentiu necessidade de realizar operação para mudança de sexo.

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Thammy Miranda é sempre notícia. O corpo da atriz tem passado por várias transformações que, claro, chamam a atenção de todo mundo. A filha de Gretchen, que fez recentemente a cirurgia para retirada dos seios, também realizou tratamento para inserir barba no rosto e realiza tratamento para mudança completa de sexo com hormônios e cirurgia.

A capixaba Thalita Zampirolli sempre afirma que nasceu mulher, porém no corpo errado. A modelo transexual fez cirurgia para mudança de sexo aos 18 anos e é legalmente uma mulher. Já o f

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ilho de um dos maiores ícones da comunidade gay, a cantora Cher, Chaz Bono passou por um grande processo para se transformar em homem. Ele contou em diversas entrevistas que nunca se sentiu bem no corpo feminino. Em seu processo de transição, Chaz até lançou um livro, A História de Como me Tornei Homem e um documentário sobre o assunto. Ele, que antes se chamava Chastity, conseguiu mudar seu nome em 2010. 

Filho do ex-jogador Toninho Cerezo, Leandro não se sentia homem. Ele, indo contra todos, consolidou uma carreira como modelo em Milão graças ao amigo Ricardo Tisci, estilista renomado, e passou a se chamar Lea T.

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Queridinha no mundo da moda, Lea, que ficou famosa mesmo com o órgão sexual masculino, demorou para conseguir realizar a cirurgia de mudança de sexo, que aconteceu em 2012, na Tailândia.

Famosa por entrar no Big Brother 11, Ariadna nasceu como Thiago Arantes. Ela, que já se vestia como mulher, realizou a cirurgia em 2008, na Tailândia, lugar popular para o procedimento, já que é mais barato e de simples acesso. Depois do BBB, ela resolveu "consertar" a operação e entrou na faca novamente. Nascida Luiz Roberto Gambine Moreira, teve seu nome, bem como gênero, alterados legalmente em 10 de março de 2005. Porém, não foi fácil para Roberta ser reconhecida como mulher. A cirurgia para mudança de sexo aconteceu em 1989 na Inglaterra, mas só após 16 anos ela foi reconhecida pela Justiça brasileira como mulher.

O filme A Garota Dinamarquesa emocionou milhões de pessoas Foto: ​Reprodução/ Facebook

A Garota Dinamarquesa

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A história do pintor dinamarquês Einar Wegener que, em 1931, foi uma das primeiras pessoas a se submeter a uma cirurgia de mudança de sexo, tornando-se uma mulher e passando a se chamar Lili Elbe.

Na trama, o casal de pintores Gerda e Einar vive uma vida relativamente tranquila na Dinamarca dos anos 1920, ainda que não seja nada fácil viver de arte. Gerda, principalmente, só vai conseguir sucesso com seus retratos quando pede que o marido pose para ela com um vestido. A pintura vira um sucesso e novos quadros são encomendados para uma exposição em um museu de arte de Copenhague. Só que a experiência de posar como mulher mexe com a cabeça de Einar, que percebe de imediato, ao usar um vestido, o quanto sua feminilidade estava prestes a aflorar.

“A frustração do personagem, o que ele sente, acaba fazendo com a gente se identifique. É emocionante quando ele se sente realizado com a transição”, disse Flavia sobre a trama polêmica que ficou em cartaz em alguns cinemas do ES. 

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De 1% a 2% da população mundial, em diferentes níveis, sofre de algum problema de identidade de gênero. Sem contar os intersexuais (mais uns 2%) e os com orientação sexual homossexual, sem disforias de gênero e sem intersexo, mais uns 5% a 10%). Um estudo da Holanda mostrou que há um transexual para 7.500 ou 10.000 pessoas, isso daria para o Brasil, numa população de 200 milhões de homens e mulheres mais ou menos 100 mil mulheres transexuais e 30 mil homens transexuais, aproximadamente.

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“A Garota Dinamarquesa” acaba sendo o diálogo final entre o casal. Quem não teve a oportunidade de assistir ao filme, se emociona até mesmo com o trailer. O que muitos ainda não sabem, é que parte da população no mundo vive o que o filme retrata, mas nem sempre tem um final feliz. 

Veja o trailer e se emocione

A matéria foi escrita com base em dados publicados pela Agência Brasil e Portal R7!

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