'Trend do palavrão': veja por que você não deve fazer vídeos com o seu filho xingando
A 'trend' em que os responsáveis autorizam as crianças a falar qualquer tipo de palavrão durante um minuto viralizou nas redes sociais nesta semana
Nos últimos dias, um desafio chamado "Trend do Palavrão" vem ganhando destaque nas redes sociais, dividindo opiniões e causando preocupação, principalmente entre educadores e especialistas em desenvolvimento infantil.
Trata-se de uma 'brincadeira' em que os responsáveis autorizam as crianças a falar qualquer tipo de palavrão durante um minuto em um ambiente isolado, como banheiro, por exemplo, e registram o momento através de um celular.
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Durante o período em que estão sozinhas, as crianças aproveitam para proferir uma série de xingamentos sem qualquer tipo de censura. Posteriormente, o vídeo é compartilhado nas redes sociais e alguns chegam a ter milhares de curtidas.
Um dos vídeos é o do Jake, filho do hipnólogo e influenciador digital Pyong Lee, juntamente com a influenciadora digital Sammy Sampaio. A criança é deixada sozinha para falar livremente, mas diferentemente de outros vídeos que circulam nas redes sociais, ele não sabe dizer palavrões.
Os pais que participam da trend do momento afirmam que a prática é uma forma de "liberar o estresse" e "permitir que as crianças expressem suas emoções", independentemente do que vão falar. Para especialistas, no entanto, autorizar e até mesmo encorajar os pequenos a falar palavrões pode ter sérias consequências.
Quais os riscos da 'Trend do Palavrão' para as crianças?
Para a psicopedagoga e mestre em tecnologias educacionais, Alessandra Poleze, a brincadeira causa preocupação, considerando que as crianças, especialmente na fase até os 12 anos, estão em pleno desenvolvimento e necessitam de estímulos positivos para seu crescimento saudável.
"Temos observado uma trend que ganhou grande popularidade nos últimos dias, de crianças falando palavrões, usando palavras ofensivas, além de expressão corporal, e isso nos preocupa muito. Especialmente até os 12 anos, a criança está em seu desenvolvimento, recebendo estímulos para compreender as questões de convivência, de comunicação, e precisa receber estímulos positivos, de como se comunicar bem e de como tratar as pessoas", destaca.
Segundo Alessandra, nas escolas há um grande enfoque na comunicação não violenta, na qual a criança aprende a falar e ouvir, levando em consideração a atenção, os sentimentos e as necessidades do outro. Quando a criança é estimulada ao contrário, a expressar-se de forma violenta e ofensiva, isso prejudica sua formação humana.
"Nós, na área da educação, ficamos muito preocupados, pois o que acontece na escola é um retrato das vivências da criança em casa. Se em casa ela recebe estímulos para usar palavras ofensivas, ela dificilmente vai discernir isso quando estiver em outros ambientes. A família precisa estar junto da escola no desenvolvimento da criança. Quando isso não acontece, é muito difícil trabalhar a formação integral dela", explica a psicopedagoga.
Exposição x Estatuto da Criança e do Adolescente
A psicopedagoga ressalta ainda que o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que é dever da família cuidar da criança, protegendo-a de situações de vulnerabilidade e garantindo seu bem-estar.
"Quando a família faz essa escolha (de expor a criança), está ferindo o Estatuto e os deveres dela, enquanto responsável de sua tutoria. Temos que levar em consideração também o uso de redes sociais. Essas trends têm sido divulgadas pelo TikTok e o uso dele é aconselhável a partir de 13 anos de idade. Então, quando a criança usa o TikTok ou quando ela é exposta dentro de uma rede social que não está na sua faixa etária, é uma outra legislação que a família está ferindo."
Contradições podem confundir as crianças
Diante dos inúmeros vídeos que circulam pela internet, a terapeuta materno-infantil Natalia Ângelo também decidiu se manifestar através das redes sociais. Em um vídeo publicado na manhã desta terça-feira (20), ela fez um alerta aos pais e responsáveis.
"Na maioria dos vídeos que tenho visto dessa trend, os pais começam de uma forma bem animada, com semblante muito feliz e falando: 'sabe aquele monte de palavrão que você nunca pode falar e que a mamãe briga muito com você? Então, agora você vai poder falar'. Isso não soa um pouquinho contraditório daquilo tudo que você passou anos tentando ensinando para o seu filho?", questiona a especialista.
Ela destaca ainda que uma das questões mais importantes na educação e na criação de um hábito é a repetição e a constância.
"Como fica isso para o seu filho? Você chegar e falar com ele que ele pode falar. Isso não é uma brincadeira, não é legal. Expor uma criança dessa forma não é legal. Além de todas as dúvidas que você está plantando na cabeça do seu filho", conclui.
Veja o vídeo abaixo: