Apoio, confiança e suporte: além dos alunos, os professores também precisam de atenção
Por conta da pandemia do novo coronavírus os profissionais tiveram que, da noite para o dia, mudar o jeito de dar aula e a relação com a tecnologia
Os professores, dos mais novos aos mais experientes, dormiram com um plano de aula em mente e, literalmente, acordaram com tudo fora da ordem. Cheios de incertezas, se viram obrigados, em tempo recorde, a se reinventarem. O detalhe é que eles tiveram que mudar as metodologias de ensino sem modelo a seguir. Um início do zero e no escuro.
Para dar continuidade ao ano letivo, as instituições de ensino precisaram do empenho máximo dos seus professores. Mas como virar a "chave" assim, tão rápido? Além das habilidades, como ficaram as emoções desses profissionais diante de tantas mudanças?
Para o doutor em Economia Aplicada e professor da Fucape Business School, Gercione Dionizio Silva, a pandemia assustou e ainda assusta, mas trouxe também impactos positivos. Segundo ele, foi possível experimentar novas possibilidades de ensinar, com outras metodologias ainda não utilizadas com tanta frequência. Por outro lado, surgiram outras demandas e os trabalhos precisaram ser intensificados.
"A pandemia me afetou de várias maneiras, positivas e negativas. Se por um lado ela nos levou a inserir novas formas de ensino, como novas metodologias e tecnologias, ela também nos forçou a reinventar a forma de dar aula e a buscar novos métodos em um espaço de tempo curto. Então, enquanto professor por um lado foi bom, por permitir a inclusão de novas formas de ensino, também por possibilitar um ensino mais tecnológico e prático; por outro, a mudança repentina criou uma série de demandas, que antes não existiam, intensificando os trabalhos fora da sala de aula", contou.pp_amp_intext | /1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_03
Em tempos difíceis, onde todos ficaram fragilizados, receosos e com dúvidas, o cuidado precisou ser mútuo, a começar pelas instituições de ensino, que com diálogo e parceria, tentam dar o amparo necessário aos educadores, inclusive quando o assunto é o emocional.
O apoio foi necessário já no auge da pandemia, no momento de adaptação aos novos dispositivos de trabalho diante da aplicação do ensino híbrido. Embora muitos professores já estivessem familiarizados com a tecnologia, o suporte foi intensificado, juntamente com a realização de treinamentos para minimizar os impactos da transição do ensino presencial para o remoto.
O professor Gercione, da Fucape, ressaltou que o apoio que recebeu da instituição não foi só técnico, mas também emocional. Esse suporte, ainda de acordo com o docente, foi fundamental para o desempenho dele junto aos alunos.
“Nas primeiras semanas do “boom pandêmico” foram realizados diversos treinamentos sobre o formato de aula telepresencial, os cuidados referentes à covid-19, dentre outros. O suporte ao professor (via coordenação, gestão e TI) foi bastante intensificado, de modo a garantir o funcionamento pleno das aulas e possibilitar a adaptação e continuação das aulas. Notadamente, houve também uma grande preocupação com a situação física e psicológica do quadro de professores e funcionários”, afirmou.
Com a suspensão das atividades presenciais, a Fucape se adaptou de forma rápida ao telepresencial, modelo no qual as aulas acontecem ao vivo, nos mesmos dias e horários que deveriam acontecer as presenciais. Para a professora e doutora em Ciências Contábeis e Administração, Nadia Cardoso, o momento foi muito desafiador, mas também gratificante.
"Acho que no fim, foi um ano de muito aprendizado. As adversidades que encontramos, junto da vontade de continuar entregando uma aula de qualidade, fez com que descobríssemos novas formas de lecionar e deixar a aula mais interessante", ressaltou Nadia.
Para discutir as adversidades e buscar soluções para os problemas que surgiam, foram realizadas várias reuniões entre docentes e instituição. Várias ferramentas foram adquiridas para apoiar o ´professor. "Temos também uma equipe de TI que ficou disponível para o auxílio dos professores com relação às dificuldades e a utilização de novas tecnologias. Esse apoio é muito importante para nós".
A coordenadora executiva da graduação da Fucape e doutora em Contabilidade, Neyla Tardin, reforça que a instituição tem como foco a valorização de seu capital humano e que o espírito participativo da equipe de docentes, junto com experiência profissional do grupo, colaboraram para que o momento de transição fosse um sucesso.
"Inicialmente, a coordenação fez um mapeamento, junto aos professores, da estrutura necessária para a aula remota. Muitos deles levaram dispositivos, tablets, câmeras para casa, para uso durante as aulas e fizemos também treinamentos com os equipamentos. Além disso, foi oferecido suporte necessário psicológico aos docentes, e realizamos palestras informativas, de prevenção à saúde", afirmou Neyla.
Rede de apoio
Ao mesmo tempo em que a pandemia exigiu o distanciamento social, ela também aproximou as pessoas de uma outra forma. Esse é o sentimento da Kelly Carraretto, professora do 5º ano da Escola Monteiro, em Vitória, que sentiu uma união maior entro os colegas de trabalho durante esse período difícil.
"Na escola temos uma rede de apoio grande. Além da coordenação e direção, nós, professores, nos acolhemos o tempo todo. A escola deu abertura de trocar horários, por exemplo, e se for o caso, uma cobrir a outra. Além disso, fazíamos reuniões online para nos encontrar e bater papo mesmo. Temos muita conversa, muito diálogo. Precisei ficar afastada por um período para cuidar da minha filha e a escola me deu todo suporte. Tudo isso é muito importante", conta.
A professora tem duas filhas, a Elis, de 6 anos e a Lara, de 4 anos. Ao mesmo tempo em que ela precisou se reinventar profissionalmente, também foi necessário acostumar-se com a nova rotina, de modo que pudesse acompanhar as crianças nas atividades escolares também.
"Foi preciso dominar a tecnologia, todas as ferramentas utilizadas pela escola, além de ir testando as estratégias que funcionavam. Paralelo a isso, eu tinha em casa minhas duas filhas, que também estavam estudando de forma remota. Foram meses de adaptação e no início foi tudo muito difícil", conta.
O sentimento da Kelly também compartilhado pela professora alfabetizadora, também da Escola Monteiro, Mônica Pretti. Ela dá aula para alunos da educação infantil, com faixa etária entre 5 e 7 anos de idade, e destaca o quanto foi importante para ela o cuidado e a atenção da instituição com os profissionais.
"A pandemia afetou minha vida profissional, principalmente pelo fato de dar aula para um público de uma faixa etária tão pequena. Costumo dizer que 2020 foi o ano das invenções e criatividade. E a escola teve um olhar para mim, para cada aluno, cada funcionário... fomos recebidos com toda atenção e cuidado"
O ensino infantil demanda ainda mais atenção e cuidado por parte dos professores. Para oferecer isso aos alunos, a professora Mônica se dedicou ao máximo, e apesar de todos os obstáculos, ela conta que foi recompensada ao ver o crescimento dos pequenos.
“O processo ensino- aprendizagem acontecia durante todo o tempo. Eu dei aulas coletivas, em grupos menores e mantive o atendimento individual. Cada aluno recebeu toda a atenção que merecia e desafios conceituais que necessitava. Não foi fácil! Tivemos carga horária estendida, desgaste emocional, físico... Mas valeu a pena. No final do ano, perceber o crescimento de cada um, fez toda a diferença”, afirmou.
A orientadora Educacional da instituição, Tatiani Svacina, contou que, em um momento cheio de incertezas, o principal objetivo da escola foi minimizar o estresse. "Percebendo que os planos de ação não poderiam estar engessados e que mudanças seriam constantes, mantivemos um diálogo aberto. Compartilhávamos todas as mudanças necessárias, tanto com o corpo docente, como com o grupo de representantes de pais, pensando em minimizar os estresse".
Confiança faz a diferença
Além da transparência, a relação de confiança entre a instituição e os professores é um outro ponto importante, que faz muita diferença e reflete também na conexão e transmissão de conhecimento para os alunos.
O Weverton Silva, professor de Matemática do Centro Educacional Vinícius de Moraes (Cevim), afirma que o momento foi um divisor de água e destaca a importância da instituição confiar no professor e vice-versa.
"Houve um suporte tecnológico e psicológico, no sentido de deixar o professor à vontade, minimizar o máximo de estresse, confiar, conseguir delegar de uma forma ainda mais abrangente o que o professor está para transmitir para o aluno. Com todas essas mudanças que aconteceram, foi um divisor de águas ter esse apoio das instituições. Se o professor confia na instituição e a instituição confia no professor, o resultado vai ser muito positivo e vai passar toda essa motivação para o aluno em forma de conhecimento", afirma.
A professora Creuza Cleste Messias da Silva, que dá aula para alunos do 4º e 5º ano do Cevim, conta que no primeiro momento encarou as mudanças como um simples “remanejamento”. Depois, no entanto, deparou-se com uma situação que, segundo ela, foi um dos maiores desafios de sua profissão: realizar o processo de ensino-aprendizagem à distância de modo eficaz.
“A escola sempre buscou ferramentas possíveis para vencermos esse momento de desafio. Com isso, cada professor realizava as adequações necessárias e elementos que auxiliavam no processo. Com a troca de experiências estamos vencendo os desafios, mas continuamos sendo desafiados a cada dia.
O diretor administrativo financeiro do Cevim, Leandro Quiuqui Juliao, reconhece a importância de apoiar e ouvir as demandas dos professores. Segundo ele, o principal objetivo da diretoria é passar tranquilidade, de modo que os profissionais sintam que não estão sozinhos.
"A gente estava muito junto, vendo quais as demandas que eles teriam, então deixamos bem à vontade essa questão, se queriam voltar ou não. Mas todo mundo queria muito voltar, eles agarraram esse processo de volta e voltaram com muita força. A escola, a todo tempo, ficou do lado deles para que, justamente, eles ficassem tranquilos. Queríamos passar para eles o seguinte: 'fiquem tranquilos, estamos com vocês e vamos segurar essa barra", destacou Leandro Quiuqui.pp_amp_intext | /1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_12
Apoio psicológico
A psicóloga e psicopedagoga Camila Nogueira, que atua no Cevim, explicou como funciona o atendimento e suporte aos professores na instituição. O psicólogo escolar, segundo ela, atua também no atendimento às famílias e alunos.
"Nossos professores possuem apoio psicológico, quando necessário, e direcionado em sala de aula para o trabalho com os alunos. Qualquer dúvida que tenha em relação à algum aluno, ele pode conversar com o pedagogo ou com o psicólogo para, juntos, conseguirmos lidar melhor com as situações que acontecem em sala de aula.
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