Após execução, Indonésia pede "respeito às leis"; embaixador do Brasil deixa país
O presidente da Indonésia, Joko Widodo publicou ontem uma mensagem em uma rede social na qual defende a pena de morte contra o tráfico de drogas na Indonésia
Brasília - Após a execução por fuzilamento do brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, o governo indonésio pediu "respeito às leis do país" e o presidente Joko Widodo afirmou que não há "meias medidas" na guerra contra o tráfico de drogas. No domingo, 18, o embaixador do Brasil em Jacarta, Paulo Alberto da Silveira Soares, embarcou para Brasília - na noite de sábado, 17, a presidente Dilma Rousseff o convocou para consultas. Agora, o Itamaraty tenta reverter a condenação à pena de morte de Rodrigo Muxfeldt Gularte, de 41 anos.
Widodo publicou ontem uma mensagem em uma rede social na qual defende a pena de morte contra o tráfico de drogas na Indonésia. Gularte foi preso em 2004 no Aeroporto Internacional de Jacarta, quando tentou entrar com 6 quilos de cocaína escondidos em pranchas de surfe. Archer levou ao país 13 quilos de cocaína em 2003.
"A guerra contra a máfia da droga não pode ser feita com meias medidas, porque as drogas têm verdadeiramente arruinado a vida dos usuários e das suas famílias", escreveu o presidente indonésio. "O país deve estar presente e lutar contra os cartéis das drogas de cabeça erguida", disse Widodo. No cargo desde outubro, o presidente indonésio prevê mais 14 execuções neste ano, após o país não ter realizado nenhum fuzilamento no ano passado.
O procurador-geral indonésio, Muhammad Prasetyo, também rebateu as críticas dos países que tiveram cidadãos executados - além do brasileiro, foram mortos presos da Holanda, Nigéria, do Malauí e Vietnã e também um indonésio. "Podemos entender a reação do mundo e dos países que têm cidadãos que foram executados. No entanto, cada país deve respeitar as leis que se aplicam em nosso país", afirmou ele, segundo o jornal The Jakarta Globe.
Prasetyo reiterou a defesa da pena capital como medida para combater o tráfico de drogas. Ele afirmou que as penas serão cumpridas. "Acho que se compreenderá que a pena de morte está vigente na Indonésia", afirmou. O governo Widodo optou pela linha-dura e anunciou que não haveria clemência para os condenados. Na sexta-feira, 16, a presidente Dilma tentou reverter a execução de Archer, mas não obteve sucesso.
Esperança
Apesar das relações estremecidas com a Indonésia, o Itamaraty reinicia nesta segunda-feira, 19, novas gestões para evitar o fuzilamento de mais um brasileiro. No entanto, trazer de volta o embaixador de um país "para esclarecimentos", como fez o Brasil, é um gesto forte nas relações diplomáticas, sinal de que as relações entre os dois Estados estão "gravemente abaladas". O pedido de clemência para Gularte já foi negado em telefonema entre Dilma e Widodo.
O Itamaraty está oferecendo assistência psicológica a Gularte e confirmou que levou às autoridades indonésias pedido da família do paranaense para que seja analisada a sua grave situação de saúde.
Diplomatas
O tempo regular de serviço do embaixador Silveira Soares em Jacarta está terminando, e o Brasil estava em processo de troca de diplomatas. O episódio do fuzilamento de Archer fez com que o governo brasileiro suspendesse, ao menos por enquanto, a nomeação de um novo embaixador. É outro sinal de agravamento das relações entre os dois países.