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Esportes

Ganso desistiu de sonhar. Preferiu enriquecer

O talentoso meia segue há dois anos como reserva dos reservas no Sevilla. Recusa voltar ao Brasil ou jogar em mercados menores

Redação Folha Vitória
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COSME RÍMOLI, DO R7

A conta é simples.

No dia 12 de outubro, ele completará 29 anos.

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Tem salário garantido de R$ 700 mil livres, sem impostos, a cada 30 dias. Fora luvas, bônus. Isso até julho de 2021. O que dá cerca de 11 milhões de euros, cerca de R$ 51 milhões de euros.

Aos 31 anos, terá todo esse dinheiro.

E poderá jogar onde quiser.

Sua única obrigação é treinar.

Entrar em campo, ele entrou apenas 28 vezes, desde julho de 2016.

A média é assustadora.

1,2 jogo por mês.

Marcou sete gols e deu seis assistências.

E promete ser pior, porque em 2018, vestiu apenas uma vez a camisa do Sevilla. Saiu do banco, atuou por 18 minutos contra o Zalgiris Vilnius, da Lituânia, pelas eliminatórias da Liga Europa. Há duas semanas, no partida de ida. Na volta, quando o time espanhol goleou por 5 a 0, meia não entrou.

Faltam sete dias para fechar a janela de transferências na Espanha.

E Paulo Henrique Ganso não se abala.

Segue treinando, vendo sua carreira estagnada.

Ele sabe que foi um fracasso sua ida para o Sevilla, em julho de 2016. Deixou a idolatria do São Paulo, a pressão que tivesse novas chances pela Seleção Brasileira.

Preferiu apostar, seguir o sonho de jogar na Europa. Usando um clube médio, o Sevilla, como trampolim, para um gigante. Real Madrid, Juventus, Bayern, Barcelona...

Só que deu tudo errado.

Embora siga com enorme talento com a bola no seu pé esquerdo, a falta de competitividade, de explosão muscular, de vibração, de atitude, defeitos que o perseguiam ainda no Brasil, se tornaram insuportáveis já para o Sevilla. Ganso caiu no ostracismo. Muitas vezes na reserva dos reservas.

Não adiantou preparador físico especial.

Nem reuniões com treinadores, dirigentes, capitães, companheiros de time.

O estilo de jogo de Ganso é vistoso, mas improdutivo para o Sevilla.

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O investimento foi altíssimo, 9,5 milhões de euros, R$ 44,6 milhões ao São Paulo. E mais 15 milhões de euros por um contrato de cinco anos. Nada menos do que atuais R$ 70,4 milhões.

A compra foi feita diante da insistência do treinador argentino Jorge Sampaoli, que prometeu à cúpula do Sevilla que transformaria o brasileiro em uma nova versão do excelente volante italiano Pirlo.

Deu absolutamente tudo errado.

O meia não se adaptou atuando mais recuado. Sampaoli logo desistiu do jogador. Ele seguiu, impávido na reserva, treinando. E recusando propostas.

São Paulo, Santos, Grêmio, Internacional, Flamengo foram os clubes brasileiros que tentaram seu retorno. Fora clubes pequenos de Portugal, Itália e da França. Mais equipes mexicanas, turcas, norte-americanas. A esmagadora maioria o queria por empréstimo. E com o Sevilla bancando pelo menos a metade dos salários.

Ganso não quis 'regredir'.

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E nem a direção do Sevilla admitir o grande erro, insistia em que apenas venderia Ganso. E por uma quantia semelhante ao que investiu, os 9,5 milhões de euros.

O jogador e seu estafe decidiram uma cartada no início deste ano. Abririam mão de R$ 61 milhões que o jogador ainda teria a receber até 2021. Mas queria a liberação imediata do clube. Ganso ficaria livre para escolher seu destino.

Os dirigentes disseram não.

E Ganso está há mais de oito meses seguindo sua rotina de treinamento e receber.

Só fez uma partida oficial neste ano inteiro.

"O Paulo Henrique tem um talento enorme. É impressionante. Mas fica incoerente, quase impossível pensar na sua convocação. Ele não joga", lamentou Tite antes da Copa de 2018. O treinador lamentou durante a competição não ter um meia talentoso, capaz de ditar o ritmo do Brasil no Mundial.

"É um craque", resume Neymar em entrevistas e nas redes sociais, sobre o jogador que é seu grande amigo. O pai de Neymar tentou colocar Ganso em alguma equipe importante europeia. Não conseguiu. Por causa do estilo lento, incompatível ao moderno futebol europeu.

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Nestes últimos dias de janela na Espanha, Ganso está em todas as listas como jogador dispensável pelo Sevilla. Como acontece desde o final de 2016. É o quarto período seguido de transferências que ele é oferecido por empresários ligados ao clube.

Ganso fechado no mundo que criou.

Com sua família e amigos.

Foge de jornalistas.

Sabe que fracassou.

Mas não quer admitir publicamente.

Poderia voltar a ter a admiração, ser tratado como um ídolo.

Renato Gaúcho o queria como camisa 10 do Grêmio nesta Liberadores.

A diretoria santista o desejava de volta, esquecendo a 'traição' de ter ido para o São Paulo.

Raí insiste que o Morumbi tem a preferência quanto quiser voltar ao Brasil.

A janela brasileira fechou outra vez e o meia não quis nem pensar no retorno.

Os grandes europeus nem pensam no brasileiro.

Os médios já desistiram com seu pífio desempenho no Sevilla.

A situação do brasileiro é cômoda.

Está enriquecendo apenas treinando.

Trabalhando, sendo honesto.

Exercendo seu direito.

Mas sem entrar em campo, jogar.

Assistindo tudo de longe, sendo esquecido.

Triste fim de um dos últimos meias talentosos deste país.

Deprimente escolha para o ser humano.

Desistiu de sonhar.

Preferiu enriquecer...

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