Oriente Médio volta a preocupar clubes brasileiros em janela de transferência
Para recuperar a credibilidade do país no esporte, mudanças estruturais ocorreram, acarretando a prisão de alguns políticos corruptos e a mudança de postura dos dirigentes
O grande terror dos clubes brasileiros durante as últimas semanas da janela de transferência não foi o dinheiro chinês, o poderio dos tradicionais times europeus ou a procura dos japoneses. O antigo fantasma do Oriente Médio voltou a bater à porta das diretorias em busca de reforços. Levou vários atletas e ainda pode levar mais. O futebol do Oriente Médio parece ser o destino de alguns bons jogadores do País.
Equipes da Arábia Saudita e um novo clube do Egito foram os principais responsáveis pela debandada de brasileiros. Os times chegaram sem economizar nas contratações. Após temporadas com investimentos tímidos, sauditas e egípcios voltaram a colocar a mão no bolso. Querem formar equipes fortes e bandeiras competitivas.
Na Arábia Saudita, o investimento é distribuído. O governo ajuda os clubes a quitar suas dívidas e, assim, ter reforços. Tanto que o Al-Wehda, que levou o técnico Fábio Carille, do Corinthians, é um clube mediano, da segunda divisão em 2017.
Para recuperar a credibilidade do país no esporte, mudanças estruturais ocorreram, acarretando a prisão de alguns políticos corruptos e a mudança de postura dos dirigentes.
Já no Egito o investimento pesado veio de apenas um clube, o Pyramids. O curioso é que o dono do time egípcio é Turki bin Abdulmohsen Al-Sheikh, que também dita as regras no futebol da confederação saudita.
O investimento coincide com um momento de revitalização do futebol egípcio. Em fevereiro de 2012, 74 pessoas morreram e mais de mil ficaram feridas durante conflito de torcidas em jogo do Al Ahly e Al Masry. Na sequência, em 2015, um conflito entre policiais e torcedores do Zamalek terminou com 20 mortos. Os episódios fizeram as autoridades a restringir a presença de público nos estádios, regra agora afrouxada.
NOVA CHINA - "A Arábia Saudita é a nova China". A declaração dada pelo presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, após perder Carille e parte da comissão técnica para o Al Wehda, acaba sendo, em parte, uma grande verdade.
Os sauditas voltaram a investir pesado no futebol e desta vez querem se tornar referência. Para isso, alimentam planos ambiciosos. A ordem é investir em atletas estrangeiros bons de bola e fazer com que o Campeonato Saudita se torne um dos mais importantes da região.
A Arábia voltou a ver futebol com mais interesse desde o ano passado, quando o príncipe herdeiro, Mohammad bin Salman, passou a atuar de forma mais direta na transformação econômica e social do país. O ministro Turki bin Abdulmohsen Al-Sheikh assumiu o comando do futebol saudita e todas as contratações de estrangeiros passam por sua aprovação. Foi assim com Carille, Petros, Valdivia, Anselmo e alguns outros.
O poder de Al-Sheikh, que tem o cargo de Presidente da Autoridade Esportiva Geral e do Comitê Olímpico da Arábia Saudita, é tão grande que ele gosta de assistir pessoalmente aos jogos da seleção saudita. E quando vê um atleta do rival que o interessa, age nos bastidores para tentar sua contratação para o futebol do país. Ele também deu aval para que agentes rodassem o mundo atrás de opções de qualidade que possam ser contratadas.
A meta é quitar todas as dívidas dos clubes e, assim, fazer com que o futebol saudita volte a ser uma referência no Oriente Médio. Alguns times chegaram a ser suspensos de torneios internacionais por atraso de salários.
A culpa pela inadimplência é do petróleo. A Arábia sempre foi dependente do produto de origem mineral, que possui grande variação de preço. Assim, era comum ver times contratando por valores exorbitantes e pouco depois não honrando o combinado, justamente por causa da desvalorização do petróleo. Hoje, as transações são bastante altas, mas dentro do orçamento dos clubes.
Outro motivo que incentiva o investimento no futebol local é a ideia de fortalecer o torneio mostrando-se ao mundo e, quem sabe lá na frente, também receber uma Copa do Mundo, como fará o vizinho Catar em 2022.