'Ele me agradeceu após o draft da NBA', revela 1º técnico do capixaba Didi em Cachoeiro
Professor de Educação Física e treinador em projeto social, Nilson Batistin celebra o resultado de seu pupilo
Formado pelo projeto social Liga Urbana de Basquete (LUSB) em Cachoeiro de Itapemirim, Marcos Louzada da Silva, o Didi, é o segundo capixaba na história dos brasileiros selecionados pelo NBA Draft. Agora, o jovem de 19 anos vai vestir a camisa do New Orleans Pelicans. Primeiro técnico do ala, Nilson Batistin revela: "Ele me agradeceu após o draft da NBA".
Nascido em 02 de julho de 1999, Didi tem 1,95m e pesa 84 kg. O cachoeirense estava no Sesi/Franca, de São Paulo desde a temporada 2016/12017, quando saiu da LUSB direto para a equipe paulista. Ano passado, venceu o Sul-Americano Sub-21 pela seleção brasileira. Ele entra no hall dos atletas nascidos no Brasil que passaram pelo Draft, como Oscar Schmidt e Leandro Barbosa, o Leandrinho.
"Se não fosse o projeto, ele não estaria jogando basquete. A gente fica orgulhoso, sabe que dá certo se fizermos as coisas direito. A missão foi cumprida, fizemos o que a gente pode e deu certo, suficiente e vai ser bom também para outros garotos. A gente não vive só de resultado esportivo, mas de resultado social. Quanto mais cidadãos a gente conseguir formar, melhor para o futuro dos jovens", afirmou Nilson Batistin.
Como profissional, foram 58 jogos com 883 minutos jogados, 394 pontos realizados, 129 rebotes, 46 assistências, 71 lances livres acertados, 31 bolas recuperadas, cinco tocos, e na última temporada chegou ao vice-campeonato pelo Sesi/Franca.
Em agosto do ano passado, Didi foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira adulta de basquete, onde teve a oportunidade de atuar ao lado do capixaba Anderson Varejão. Atualmente no Flamengo, o ala/pivô se manifestou em sua rede social:
"Parabéns, Didi! Estou muito feliz por você e sua família. Você entrou na NBA por seu talento, qualidade e humildade, mas agora vai precisar mostrar mais e mais a cada dia. Tenho certeza de que vai vencer na liga pela sua dedicação e caráter. Nada veio fácil e nada vai ser fácil. Tô torcendo por você! Conte comigo para o que precisar! Sucesso e sorte, conterrâneo!", disse Anderson Varejão, que nasceu em Colatina e foi criado em Vitória.
Formação em projeto social
No projeto LUSB Cachoeiro, o ala Didi permaneceu por oito anos. Sob o comando do professor Nilson Batistin, se descobriu na modalidade e é uma a maior promessa do basquete brasileiro atualmente. Em entrevista ao Folha Vitória, o treinador contou a trajetória do novo atleta brasileiro a disputar a NBA.
Quando foi seu primeiro contato com o Didi?
"Não conhecia o Didi antes do projeto. Meu primeiro contato com ele foi lá durante as aulas. Ele chegou quando tinha 8 anos, com o irmão dele. Na verdade, o irmão dele estava fazendo basquete há algumas semanas. Logo que a gente iniciou o projeto, em 2008, o irmão dele foi um dos primeiros alunos que a gente teve. Então, algumas semanas depois, o Didi apareceu com tênis de futsal, parece que ele fazia futsal no mesmo horário, algo assim".
A primeira vez que o viu jogar, o que pensou?
"A primeira vez que eu vi ele jogar foi em coletivo na LUSB, durante os treinamentos. Jogo oficial só fui ver quando ele tinha uns 10 anos, quando a gente fez alguns amistosos, mas dos 8 até os 10 anos ele participou das escolinhas e dos treinos enquanto a gente estava formando equipes para disputar campeonato".
Quais conselhos deu a ele?
"Pude observar que era um menino muito talentoso, pegava muito fácil as coisas, tinha um talento natural. Eu passava um drible, um movimento diferente do basquete, ele rapidamente pegava com facilidade. Ele tinha muito interesse em aprender as coisas. Muito concentrado, muito focado e não faltava os treinos. No primeiro jogo, dava para ver que ele tinha talento, era acima da média e se sobressaía diante dos meninos. Era muito rápido, ágil, tinha coordenação motora muito boa e a parte técnica foi aprimorando com o tempo. Ele já tinha uma qualidade natural. Ele sempre foi muito habilidoso e a gente falava: 'cara, acredita no seu potencial, vai para cima da cesta e tenta finalizar mais próximo. Se não der, você tem um arremesso bom de média distância também'".
Como foi o momento da escolha dele no draft para você?
"Tinha conversado com ele alguns dias atrás. A gente teve a oportunidade de se ver em Cachoeiro. Falei que ia dar tudo certo, que ele tinha todas as qualidades que os americanos gostam em atletas da NBA. O biotipo, a qualidade técnica dele é bem parecida com a dos americanos. Falei que ele era muito talentoso e com certeza ele teria uma vaga. A gente estava muito confiante quanto à escolha dele. Houve especulações que ele seria escolhido entre o 56º lugar e acabou ficando em 35º. A gente lembra de tudo o que a gente passou, da avó que faleceu há cerca de um mês. Ela sempre acompanhava os jogos e me ligava para pedir a ele que fizesse o dever de casa, então, passa muita coisa na nossa cabeça. É um sentimento de felicidade, não tem como explicar".
Vocês conversaram depois que ele foi selecionado?
"Quando deu 2h e alguma coisa da manhã, comecei a escrever um texto para publicar nas redes sociais e aí ele mandou uma mensagem para mim. Eu nem esperava por conta de toda a correria que ia ficar o dia dele depois do draft. Fiquei surpreso. Ele mandou mensagem para mim falando assim: 'Nilsinho, eu consegui, cara. Muito obrigado'. Agradeceu, me elogiou, disse que me ama e se para ele é uma vitória, para mim é mais ainda. Tenho muito orgulho de ter recebido essa mensagem. O Didi é um garoto muito humilde, sempre entra em contato com a gente em Cachoeiro, bate bola com os meninos aqui, não esqueceu as origens".