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Entretenimento e Cultura

O rock com açúcar e com afeto de Thiago Pethit

Estadão Conteudo

Redação Folha Vitória
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São Paulo - Cantor e compositor a serviço da própria obra, Thiago Pethit sempre pensou fora da caixinha. Enquadrado na cena que ficou conhecida como 'neo MPB' - ao lado de outros jovens nomes da música, como Tiê, Tulipa, Marcelo Jeneci, entre tantos outros - quando lançou o primeiro disco, Berlim, Texas, em 2010, Pethit aceitou a nomenclatura enquanto ela designava pluralidade. Rock, samba, pop, enfim, cabia de tudo ali. Hoje, sente que ela não o representa.

"O mercado funciona desse jeito: precisa ir engavetando as coisas, tornando-as cada vez mais chatas, mais caretas, mais quadradas para a gente poder vender", acredita ele. "Sinto agora uma similaridade nos trabalhos. Antes, o que era mais parecido era: eles são diferentes. Cada vez menos me identifico com essa 'neo MPB. Cada vez mais tenho vontade de dizer eu faço rock."

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Mas, claro, seu rock não cabe numa prateleira específica. E, em seu novo disco, o terceiro da carreira, Pethit faz o que chama de Rock’n’Roll Sugar Darling - título desse trabalho, que tem lançamento oficial nesta segunda, 10. Para ele, é um rock com açúcar e com afeto - ou com afetação. "Não é qualquer rock, não é o rock que é feito para o homem heterossexual, da cerveja. Você vai ao show de rock e só tem homens, É outra coisa: é o rock afetado, safado, cretino", define o cantor paulistano, de 29 anos.

Antes mesmo de seu disco entrar em pré-venda no iTunes e, agora, chegar a prateleiras indefinidas, Thiago Pethit já dava uma amostra de sua própria leitura para o ritmo que imortalizou artistas como Elvis Presley ao lançar o clipe do single Romeo, que foi rodado em Los Angeles, Estados Unidos. Com clima de roadmovie, ao estilo de Coração Selvagem e Thelma & Louise, a história de amor e tragédia do casal transgressor é 'roteirizada' pela letra da canção assinada por Thiago Pethit e Hélio Flanders, do Vanguart - um dos poucos com quem Pethit encontra afinidade para compor. "Esse teu jogo é sujo desde o começo/ Isso pouco importa, mas por isso eu te peço/ Quero entrar no teu carro e fugir com você/ Você foi o mais perto que cheguei de morrer", diz um trecho da música.

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Sensual, Romeo tem a mesma força de Moon, de seu disco anterior, Estrela Decadente, de 2012. Assim como Romeo e outras canções de Pethit, Moon tem uma letra 'visual' - talvez pela proximidade do compositor com o universo dramatúrgico, já que, antes de ir para a música, ele era ator - aliás, Pethit retorna às origens atuando no novo filme de Vera Egito, SP é Uma Festa. E, no ano passado, Moon ganhou clipe dirigido por Heitor Dhalia. Ali, de novo, Pethit desconstruiu o estereótipo do casal-apaixonado-que-quer-casar-e-ter-filhos. Em Romeo, amar está no limiar da morte. "Não suporto esse papinho que o amor vai salvar o mundo. Acho que amor é uma coisa muito de vida ou morte, é muito violento amar uma pessoa", justifica. "Talvez seja mais fácil lidar com a existência se a gente assumir esse ponto de vista, que é uma barra estar vivo. Conhecer pessoas, conviver, se relacionar são coisas difíceis. Prefiro refletir em cima desse assunto."

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No novo álbum, Thiago Pethit volta a reverenciar os ícones. Às vezes, de forma proposital, às vezes, não. A começar pela faixa de introdução, que traz a voz de Joe Dallesandro, ator-fetiche de Andy Warhol e o 'Hey Joe!', de Walk On The Wild Side, de Lou Reed. Little Joe, como é conhecido, assistiu ao clipe de Moon, apresentado a ele por um amigo em comum, e os dois passaram a se falar com frequência.

Preste atenção ainda em outros flertes, como no provocador Quero Ser Seu Cão, numa menção direta a I Wanna Be Your Dog, de Iggy Pop, com guitarra à la Bo Diddley. Na canção, cabe ainda uma espécie de resposta a Nancy Sinatra, em These Boots Are Made For Walking. Na música, ela sentencia: "Um dia desses essas botas andarão por cima de você". "É um pouco: 'anda com as botas em cima de mim, quero ser seu cão'", diz Pethit, comparando o clássico da filha de Frank Sinatra com a sua canção-homenagem. Há também, só para citar outros exemplos, uma mescla de anos 1960, clima 'fantasmagórico' de Twin Peaks, de David Lynch, e um quê da melancolia com jeito de Radiohead em Story in Blue, e a incursão pelo rock clássico em Voodoo.

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Assim como em seus discos anteriores, Pethit une, em suas composições, letras em português e inglês. O bilinguismo soa natural, sem pedantismo. "Acho que é muito geracional. Aquela história do mundo globalizado, sou de uma geração em que o mundo já estava resolvido desse jeito, não consigo nem entrar na lógica do 'imperialista'. As coisas mudaram muito, a internet trouxe outra relação com os idiomas."

A produção do álbum é compartilhada por Kassin e Adriano Cintra (ex-Cansei de Ser Sexy). Essa parceria resultou em um equilíbrio interessante de dois dos mais requisitados produtores da atualidade: de um lado, Kassin, que carrega consigo a experiência de ter trabalhado com diferentes nomes da música brasileira, de Caetano Veloso a Ana Carolina, passando por Nação Zumbi; de outro, toda a carga pop e certeira de Cintra. Nesse finalzinho de ano, Rock’n’ Roll Sugar Darling chega a tempo para entrar na lista dos melhores discos de 2014.

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