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Em 'Green Book' dupla tem de vencer diferenças de raça e classe para se entender

Estadão Conteudo

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Um drama que fala de um tema sério - o racismo - com humor e humanismo e dirigido por Peter Farrelly, conhecido por comédias como Débi & Lóide - Dois Idiotas em Apuros (1994), Quem Vai Ficar com Mary? (1998) e Ligado em Você (2003), em parceria com seu irmão Bobby, está despontando como uma das prováveis surpresas do próximo Oscar. Green Book, que ganhou o prêmio do público no Festival de Toronto, concorrendo com candidatos certos à estatueta, como Nasce uma Estrela, de Bradley Cooper, e O Primeiro Homem, de Damien Chazelle, abriu o Festival de Zurique na noite de sexta-feira, 28. O diretor Peter Farrelly e o ator Viggo Mortensen participaram da estreia mundial do longa na cidade suíça. "O filme é sobre como, se nos juntarmos, acabamos nos entendendo apesar das diferenças", disse o cineasta em entrevista.

Estreia de Peter como diretor solo, Green Book baseia-se numa história real dos anos 1960 nos EUA, quando leis de segregação racial ainda estavam em vigor no sul do país. O celebrado pianista Don Shirley (Mahershala Ali, ganhador do Oscar de coadjuvante por Moonlight - Sob a Luz do Luar), negro, contrata o leão de chácara ítalo-americano Tony Lip (Viggo Mortensen) para ser seu motorista e segurança numa turnê pela região. Os dois não poderiam ser mais diferentes: Shirley é refinado, rico, solitário e extremamente reservado, enquanto Tony fala tudo o que passa por sua cabeça e coração, come uma pizza inteira dobrada ao meio, tem uma família grande, é da classe trabalhadora e um bocado racista. No início, parece que a viagem vai ser uma tortura. Mas aos poucos Shirley vai se abrindo para o jeito despachado de Tony, que, por sua vez, descobre as razões do jeito retraído do músico. Ele também vê, com os próprios olhos, a injustiça extrema do racismo - o "green book" ("livro verde", na tradução livre) era um guia com os poucos hotéis que aceitavam negros no sul.

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Farrelly disse que achou que estava fazendo um drama puro, mas, durante as filmagens, pegou-se rindo em várias cenas, o que ele credita aos seus dois atores principais. "Mas o humor não é de piada, é da situação de ter duas pessoas tão contrastantes juntas", disse Mortensen. O ator confessou ter tido receio de aceitar o papel. Achou que era muito difícil comprarem a ideia de ele ser italiano, apesar de ter vivido um russo em Senhores do Crime, de David Cronenberg, pelo qual teve sua primeira indicação para o Oscar - a segunda foi ano passado, por Capitão Fantástico. O diretor nunca teve dúvida nenhuma. "Viggo pode fazer qualquer coisa", afirmou. "Grandes atores podem fazer qualquer coisa. Foi como quando escalei o Jeff Daniels para Débi & Lóide. Me falaram que ele era ator de drama. E eu respondi: 'Não, ele é um grande ator e pode fazer comédia também'." Em muitas cenas, Mortensen, interpretando o motorista, teve de atuar sem ver a reação de Mahershala Ali, sentado no banco de trás do carro. "Estava atuando no vácuo", contou o ator. Para o papel de Don Shirley, Farrelly buscou um ator que não tivesse feito nada parecido antes. "Viggo e Mahershala não poderiam ser mais diferentes de seus personagens." Ali até toca piano, mas não no nível de Don Shirley, que sonhava ser pianista clássico, algo quase impossível para um negro na época. Por isso, o filme usa o pianista e compositor Kris Bowers.

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Durante a viagem, Shirley e Lip superam as diferenças de raça e classe e mudam - e Peter Farrelly realmente acredita ser possível. "George Wallace, ex-governador de Alabama, era um homem extremamente racista, mas depois viu que estava errado. Não quis fazer um filme de mensagem, mas no fim há uma mensagem: que, se a gente se colocar no lugar do outro, a empatia é inevitável. Precisamos reunir pessoas diferentes na mesma sala para conversar." Peter Farrelly espera que o filme contribua para isso.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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