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Beatriz Segall exibia um talento múltiplo ao representar

Estadão Conteudo

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Beatriz Segall exibia um talento múltiplo ao representar. "Ela disseca cada papel que interpreta", disse o diretor Eduardo Tolentino em 2009, quando estreou Retratos Falantes. "Tem consciência das nuances de cada personagem", completou Charles Möeller, que a dirigiu no musical Nine, em 2015. Mas, mesmo com talento reconhecido, Beatriz era sempre lembrada pelos papéis de mulheres dominadoras, implacáveis, eternamente mal humoradas. Em outras palavras, Odete Roitman.

A inesquecível vilã que interpretou na novela Vale Tudo, exibida em 1988 pela Rede Globo, e cuja morte atraiu audiência até o último capítulo quando foi revelado quem foi seu assassino, tornou-se uma incômoda marca. Beatriz passou a ser a rainha das vilãs. Só era lembrada para esse tipo de papel. Com isso, irritava-se e reagia como... Odete Roitman. A personagem que serviu como exemplo de sua vasta capacidade interpretativa assumiu o protagonismo artístico e deixou a própria Beatriz Segall na sombra.

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Uma injustiça que, com o tempo, diminuiu mas não aplacou. Afinal, desde sempre, Beatriz tornou-se célebre em peças que tratavam de mulheres que enfrentavam a vida com sensibilidade sem autocomiseração e autodisciplina severa. Por trás da aparente rispidez daquela, havia um toque de solidão. Basta lembrar de sua delicada interpretação em Emily, peça baseada na vida da poetisa americana Emily Dickinson e dirigida pelo então pouco conhecido Miguel Falabella.

Sua disposição em trabalhar com jovens talentos ainda desconhecidos, aliás, tornou-a uma espécie de madrinha de importantes grupos, como o Tapa, dirigido por Tolentino e que a comandou na maravilhosa montagem de O Tempo e os Conways, de J. B. Priestley. Sabia também ser poderosa diante de uma novata (Marisa Orth) e outra colega igualmente veterana e tão grande como (Nathalia Timberg), na enigmática Três Mulheres Altas, de Edward Albee, dirigida por José Possi Neto em 1995.

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Ciente de seu talento, Beatriz não convivia bem com defeitos, especialmente durante suas apresentações. Chegou a interromper uma representação para encarar um homem que atendia o celular. "Vamos esperar que ele termine a conversa", disse ao público. Em outra oportunidade, presenciada por este repórter, também parou a encenação para reclamar do operador de luz. Para alguns, um ataque de estrelismo. Mas, quem conhecia um pouco daquela mulher, que largou momentaneamente a carreira em seu início para cuidar dos filhos, que abrigou perseguidos pela ditadura em sua casa, que estabeleceu uma programação de rara qualidade quando dirigiu o Teatro São Pedro ao lado do marido Maurício (período marcada por encenações memoráveis de Marta Saré, de Gianfrancesco Guarnieri e Edu Lobo, Frank V, de Friedrich Dürrenmatt, e À Margem da Vida, de Tennessee Williams), enfim, quem conheceu um pouco de Beatriz Segall sabia estar diante de uma senhora do palco.

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