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Entretenimento e Cultura

Balé da Cidade de São Paulo faz releitura de 'Sagração da Primavera'

Estadão Conteudo

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Os tradicionais ensaios que antecedem as temporadas do Balé da Cidade de São Paulo ganharam novas sedes nesta semana: parques municipais. O linóleo e o piso de madeira deram lugar à terra molhada e a vegetações fechadas. O figurino dos bailarinos se misturou com repelente de insetos. No lugar da iluminação dos canhões de luz, o sol e a chuva.

Para comemorar os 50 anos da companhia, o Balé da Cidade apresentará a partir da semana que vem uma releitura da obra A Sagração da Primavera, uma das mais importantes do século 20. "Acredito que a dança tem a função de ser um espelho da nossa cidade. Chamo de 'corpocidade'. Por isso a ida aos parques. A dança tem a função de ser um documento da nossa época. Cada corpo, cada bailarino, é uma obra de arte que tem de ser apurada tecnicamente, estimulada em nível de ideias e sensibilizada para criar o futuro de novas visões", explica o diretor artístico da companhia Ismael Ivo.

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Para o diretor, é essencial que os bailarinos se reinventem e ele cita o exemplo pessoal de convivência com a bailarina Márcia Haydée. "Fui o último parceiro dela de palco. Ela tinha dançado tudo que era possível e veio trabalhar comigo. Coreografando para ela encontrei uma menina que me olhava com olhos curiosos e queria saber cada detalhe, movimento das minhas mãos, como quem descobria um novo mundo".

Nos ensaios, ou laboratórios como a companhia chama, os bailarinos se moviam e seguiam as orientações de Ivo: se aproximem da natureza, lavem a alma, o espírito, a criatividade.

Seja se pendurando em árvores ou se arrastando pelo chão de grama, os bailarinos despertavam a curiosidade dos frequentadores do Parque Santo Dias, na manhã de terça-feira.

"O que é isso? O que essas pessoas estão fazendo aqui? Malho sempre aqui, mas eles são elite", comenta Roberto. A poucos metros do ensaio, as pessoas que malhavam em uma área de academia do parque oscilavam os exercícios com as pausas para filmar os movimentos dos bailarinos.

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"Foi uma imersão. Normalmente apenas grupos experimentais se dão ao luxo de realizar uma investigação e um aprofundamento dentro do tema em que estão se propondo a traduzir artisticamente", conta Ivo, orgulhoso de ter realizado ensaios. Além do Santo Dias, o Trianon-Masp e o Parque do Carmo receberam a companhia.

Futuro

A escolha da natureza tem relação direta com o tema da Sagração da Primavera, mas vai além e tem a intenção de retratar uma preocupação com o futuro do ambiente. Durante as apresentações, pétalas de rosas cairão e, no prólogo, os bailarinos farão uma performance por 15 minutos que permitirá ouvir sons que remetem a atividades vulcânicas e degelo.

A própria releitura da Sagração da Primavera retrata a preocupação com o ambiente. "A ideia original da obra mais dançada do balé fala da mitologia, quando se sacrificava uma virgem, para espalhar o seu sangue na vegetação, agradar aos deuses e ter a próxima colheita abundante", explica Ivo, que questiona justamente se a próxima colheita vai existir.

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"Estamos certos de que vem a próxima primavera? Não é só celebrar a primavera, precisamos pensar no planeta. Estamos destruindo a nossa capacidade de sobrevivência no planeta. Vemos uma onda de terremotos, furacões, queimadas em florestas. Nós como humanos somos talvez os últimos dinossauros preparados para a extinção. Outras civilizações também sumiram de um dia para o outro. Levei essa reflexão aos bailarinos."

Durante os ensaios abertos, a principal intenção do diretor artístico era justamente levar a percepção da natureza aos palcos. Enquanto os bailarinos caminhavam pela mata ou dançavam na terra molhada pela chuva no Parque Santo Dias, fechavam os olhos, sentiam os odores e tentavam tatear os elementos que servirão de base para o espetáculo no Teatro Municipal.

A escolha de parques municipais, segundo Ivo, também reflete a necessidade de se olhar para a cidade de São Paulo de uma forma diferente. "Tradicionalmente, temos a São Paulo cinza, a selva de pedras. Mas atenção, existe um verde. O que chamo de 'verdenovo' - de ver e de verde. Aqui existem porções da Mata Atlântica que não valorizamos e não vemos."

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As imagens capturadas nesses ensaios serão transformadas em painéis que vão ser exibidos pela cidade durante a temporada do balé. "Por meio do corpo, do Balé da Cidade, podemos começar a viver São Paulo dentro de uma outra imagem", acrescenta Ismael Ivo, que define a própria trajetória na dança como um bom antropófago. "Quero manter o nível de qualidade do Balé da Cidade, mas também priorizar minha gestão, como um lugar que pode inspirar e criar novos intérpretes, novos criadores."

SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA

Teatro Municipal. Pça. Ramos de Azevedo, s/nº. Dias 15, 18, 19, 21 e 22/9, às 20h; e dia 16/9, às 18h R$ 40 / R$ 80. Até 22/9.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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