Agência é acusada de preconceito na venda de show de Thiaguinho
Fãs alegam que a empresa responsável pela festa "Tardezinha" escolhe as pessoas que podem comprar os convites; caso foi denunciado no MP
Camila Juliotti, do R7
O famoso show promovido por Thiaguinho, conhecido como Tardezinha, virou alvo de denúncia do Ministério Público. Fãs do cantor acusam a CB Produções, empresa responsável pela organização do evento, de segregação e racismo. Segundo relatos de pessoas ouvidas pelo R7, a agência escolhe aqueles que terão acesso à compra dos ingressos por meio de um código fornecido pelo perfil privado da empresa nas redes sociais.
A publicitária Nathalia Bernardes Batista da Silva, de 25 anos, conta que tentou comprar o convite para a festa (realizada neste sábado, 4, em Campinas) mas foi ignorada pelos organizadores, sem entender o motivo.
— Quando fui realizar a compra no site, eles informaram que precisava de um código e que pra conseguir era necessário seguir a página [da agência] no Instagram. Tentei por duas vezes, nas duas tive a solicitação cancelada e, por fim, me bloquearam. Minhas amigas também tentaram seguir a página e eles também recusaram a solicitação. Tentei contato com a CB, mandei e-mail, mandei mensagem em um site de reclamações, mas nunca obtive resposta.
Procurada para esclarecer a situação, a CB Produções encaminhou uma nota oficial onde informa que a comercialização dos ingressos está encerrada e explica que a política de vendas praticada pela empresa "é amplamente divulgada e pontualmente explicada em todos os meios de comunicação disponibilizados".
Nathalia, que é negra, assim como as amigas, diz que uma delas recebeu uma mensagem de um dos organizadores que negou que elas tivessem sido bloqueadas, mas não explicou porque elas não foram aceitas. A publicitária conta que algumas fotos com críticas de internautas foram apagadas do perfil oficial da agência nas redes sociais.
Luisa Helena Silva de Souza, consultora comercial de 26 anos, também negra, relata que nunca havia passado por uma situação dessa e demorou pra entender o que estava acontecendo. Ela e as amigas ficaram de fora do evento, com apenas a justificativa de que a empresa "recebe inúmeras solicitações diárias e que muitas vezes não consegue dar conta de verificar todas".
— A ficha foi cair depois que tentamos por diversas vezes solicitar a amizade no Instagram e fomos negadas. Já achamos estranho o fato de precisarmos de um código para comprar um ingresso de uma festa divulgada como pública. Eles direcionam para o Instagram, mas a conta é privada, não tem lógica nenhuma. Nós já sabíamos que Tardezinha é uma festa elitizada, até pelo valor do convite, mas nunca iriamos imaginar que seriamos impedidas de comprar um ingresso, por classe social, cor da pele ou até por estarmos fora do padrão de beleza que a CB considera ideal.
A consultora, que assim como as amigas é negra, ainda afirma que um conhecido que é loiro e mora em Londres foi aceito em minutos pela página da agência. Para ela, "talvez ele seja um perfil interessante para o evento".
Nós também tentamos seguir a CB Produções no Instagram, como relataram as jovens, mas não tivemos a solicitação atendida na rede social.
Por conta de toda situação, as quatro fizeram uma denúncia no Ministério Público e também acionaram o Procon. Luisa afirma que não pretende mais ir à festa e espera uma retratação da agência.
— Gostaríamos de alguma forma de obter respostas e gostaríamos ainda mais, que o próprio Thiaguinho se posicionasse quanto ao caso. Se nada for feito, a CB irá continuar praticando essa segregação absurda. Nosso intuito não é mais ir nessa festa e, sim, que a CB se retrate com todos os clientes que não foram "favorecidos" por não estarem dentro dos padrões que eles consideram aceitáveis. A gente quer que eles não possam mais organizar nenhum tipo de festa.
Por meio de sua assessoria de imprensa, Thiaguinho, que sobe ao palco neste sábado, se manifestou sobre o ocorrido.
— Quando tomei conhecimento sobre estas acusações, solicitei a minha produção e a produção da Tardezinha que acompanhassem de perto o atendimento ao público.