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Entretenimento e Cultura

Arte popular encontra arte erudita em mostra

Estadão Conteudo

Redação Folha Vitória
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São Paulo - A "tarefa delicada" que o crítico e curador Lorenzo Mammì se impôs com a exposição Quase Figura, Quase Forma, aberta nesta quinta-feira, 21, na Galeria Estação, vai além de colocar lado a lado obras produzidas por artistas de formação erudita e criadores populares. A mostra reúne não apenas obras de tendências distintas, mas duas galerias que trabalham em diferentes direções - a Estação, mais ligada aos populares, e a Millan, concentrada nos contemporâneos eruditos. O risco, no caso, seria o de criar uma incômoda hierarquia entre eles ou mesmo uma escala de valores por vezes injusta. Por esse motivo, ao aceitar o convite das galerias para escolher as obras, Lorenzo Mammì pensou mais na convergência entre as duas vertentes do que nas diferenças.

Para Mammì, a volta à figuração nas três últimas décadas aproximou os contemporâneos eruditos dos artistas de matriz popular. A geração de pintores hoje na faixa dos 50 anos, representada na mostra por artistas como Fábio Miguez (52), Paulo Pasta (54) e outros, dialoga tanto com seus discípulos - Ana Prata (34), Marina Rheingantz (31) - como com sensíveis pintores e escultores populares, entre eles Neves Torres, dono de uma paleta clara, renascentista, e Ranchinho (1923-2003), filho de agricultores e autodidata, que participou de bienais.

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Após a ressaca da arte conceitual nos anos 1970, a pintura retomou sua força nos anos 1980 com a emergência dos neoexpressionistas, que marcaram a geração de Miguez, Pasta e do pintor Sergio Sister (66). A fotografia e o vídeo ajudaram a retomar a ligação com a imagem nos anos 1980, segundo Mammì. "Talvez seja possível dizer que o século 20 foi tendencialmente o da abstração, enquanto o século 21 começa como século figurativo", observa o curador, citando Pasta, um pintor que fica no limiar entre a abstração e a figuração. "Ele prepara o cenário para que algo como uma figura apareça, mas não deixa que ela se cristalize." As formas que surgem da superfície das telas de Pasta podem sugerir vigas e colunas, observa Mammì, mas apenas "sugerem". São quase pretextos para a pintura, como as garrafas e vasos de Morandi.

A valorização da arte popular no Brasil, lembra o curador, já era uma preocupação dos modernistas de 1922, particularmente de Mário de Andrade, passando por uma sucessão de movimentos cujos mentores (Mario Pedrosa, por exemplo) tinham o compromisso ideológico de legitimar uma arte (como a dos doentes mentais) rejeitada pelo sistema de arte. Ranchinho, por exemplo, sofria de transtornos graves, assim como Bispo do Rosário, mas deixaram um legado hoje reconhecido pelo mundo erudito.

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"A arte popular também evolui", observa Mammì, citando dois artistas de uma sofisticação formal rara, Véio (Cícero Alves dos Santos) e José Bezerra, que reciclam troncos e criam criaturas fantásticas. Sobre os contemporâneos eruditos da geração mais nova, o curador nota uma tendência a valorizar mais a questão formal, ainda que "desconfiando de formas muito assertivas". O curador cita a pintura de Marina Rheingantz como exemplo - uma dela em particular, a tela Sigmar, deste ano, em que manchas vermelhas sugerem uma revoada de insetos. Nela, "cada traço remete a alguma coisa, embora nunca de maneira unívoca" .

Um artista que oscila entre o popular e o erudito na mostra é o mineiro Lorenzato (1990- 1995) que, apesar da origem modesta, conheceu museus e trabalhou como restaurador em Roma. "Ele, no entanto, é um caso atípico", conclui o curador da exposição. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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