/1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_TOPO |
Entretenimento e Cultura

'Onde Está Você, João Gilberto?' abre 10º In-Edit

Estadão Conteudo

Redação Folha Vitória
audima
audima
pp_amp_intext | /1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_02

O filme que abre nesta quarta-feira, 6, no Cinesesc o 10º In-Edit tem por título uma pergunta irrespondível: Onde Está Você, João Gilberto? A localização física do mitológico fundador da bossa nova até pode ser encontrada. Mas saber onde, de fato, estará João Gilberto necessitaria de um GPS espiritual dos mais afinados. É mais ou menos essa busca do impossível e do inefável que motiva o documentarista francês Georges Gachot, homenageado na abertura do festival.

Justo tributo, por sinal. Gachot é um apaixonado pelo Brasil através da vertente cultural mais forte do País - a sua música popular. Onde Está Você, João Gilberto? é o quarto filme dedicado aos músicos e à música do Brasil. Maria Bethânia - Música É Perfume (2005), Nana Caymmi em Rio Sonata (2010) e O Samba (2014) também serão apresentados no quadro do festival.

Com Onde Está Você, João Gilberto?, Gachot encara seu personagem mais desafiador. Afinal, Bethânia, Nana e Martinho da Vila, mestre de cerimônias de O Samba, estão por aí, disponíveis para entrevistas e muito contentes de serem lembrados por um estrangeiro. João é arredio. Mais que isso: é um eremita contemporâneo, um anacoreta em tempos de redes sociais e autopromoção. Isolou-se do mundo e pouca gente consegue falar com ele.

pp_amp_intext | /1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_03

O filme de Gachot tem origem no livro Ho-Ba-La-Lá - À Procura de João Gilberto, de Marc Fisher, editado no Brasil em 2011 pela Companhia das Letras. O texto é a história da busca obsessiva por um personagem que não deseja ser encontrado. E que trouxe ao Brasil o alemão que, até uma iluminadora viagem ao Japão, de João Gilberto sabia apenas ser intérprete de Garota de Ipanema.

"Um japonês me transmitiu o vírus", conta Fischer em seu livro. Em Tóquio ele conheceu um certo Toshimitsu Aono, que mantinha em sua casa uma espécie de relicário de João Gilberto, com objetos, discos e fotografias. Um fanático.

No centro do altar, erguia-se um LP, um velho bolachão de 33 rotações, com a foto de um homem com pulôver branco e mão no queixo - João. A capa é do seu primeiro álbum, Chega de Saudade. Mas o japonês não colocou na vitrola (sim, vitrola…) a faixa-título, de Tom Jobim & Vinicius de Moraes. Avançou com o braço do toca-discos até a faixa quatro do lado um: Ho-ba-la-lá, a onomatopeia que dá nome a uma das poucas composições de João Gilberto. A voz, o ritmo, o violão, a simplicidade cheia de sofisticação conquistaram o alemão. Teve uma epifania. E esta o trouxe ao Brasil e à busca desse alguém que não quer ser encontrado. O livro é o encantador relato dessa busca impossível. O cineasta segue os rastros deixados pelo escritor alemão, que se suicidou em 2011, aos 40 anos, sem ter ouvido João cantar para ele, como desejava.

pp_amp_intext | /1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_04

Gachot segue as pistas deixadas por Fischer, talvez na ilusão de ser mais bem-sucedido que o alemão. Entra em contato até mesmo com Raquel Balassiano, a intérprete que havia ajudado Fischer e que ele chamava de "Watson" porque se considerava um Sherlock Holmes na pista de João Gilberto.

Fala com músicos como João Donato, Roberto Menescal e Marcos Valle. Conversa com Otávio Terceiro, amigo e empresário de João Gilberto. Ouve "Garrincha", o cozinheiro da churrascaria Plataforma, que preparava e mandava entregar o prato favorito de João, um filé grelhado no sal grosso, com arroz maluco e farofa. Conversa com o barbeiro que corta o cabelo de João. E se diverte com Miúcha, ex-mulher de João e mãe da filha dos dois, a também cantora Bebel. Na conversa, Miúcha atende o celular e fala com o interlocutor de maneira animada. Desliga e diz para um perplexo Gachot: "Era o João, ele tem uma antena, sabe quando estão falando dele".

pp_amp_intext | /1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_05

As entrevistas de Gachot com João Donato, Marcos Valle e Roberto Menescal não são menos interessantes. Donato conta como os dois compuseram Minha Saudade. E, aproveitando o título da canção, diz sentir muita falta de João, refletindo sobre a vida que separa amigos e pessoas queridas.

Marcos Valle conta uma história interessante. Estava numa festa quando Almir Chediak o chamou ao telefone e disse que João Gilberto queria falar com ele. O compositor de Samba de Verão ouviu, encantado, João dizer do outro lado da linha que era seu fã e se podia cantar para ele algumas músicas do próprio Valle. "A festa para mim acabou ali. Fiquei só ouvindo o João cantar no telefone", recorda.

Menescal conta que João lhe pediu umas camisas emprestadas para fazer a foto de capa de um dos seus discos e nunca mais as devolveu. "Era muito envolvente, precisei me afastar dele para poder seguir o meu próprio caminho", diz o autor de canções fundamentais da bossa nova como O Barquinho, Você, Nós e o Mar e tantas outras.

pp_amp_intext | /1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_06

Mas será o produtor Otávio Terceiro o guia seguro a conduzir Gachot a João Gilberto e assim realizar de maneira póstuma o sonho de Marc Fischer. Bom, pelo menos era o que Gachot esperava. O filme é delicioso e emocionante. Revela um amor estrangeiro pelas coisas do País como já não se observa no próprio Brasil.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

/1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_FINAL_DA_MATERIA |
/1034847/FOLHA_VITORIA_AMP_FINAL_DA_MATERIA |

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Saiba mais sobre nossa Política de Privacidade.