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Arctic Monkeys e a conexão entre Lô Borges e Serge Gainsbourg em novo disco

Estadão Conteudo

Redação Folha Vitória
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Alex Turner, vocalista do Arctic Monkeys, é aquele rapaz sabichão, espertinho e de respostas rápidas, como se elas já estivessem ali, na ponta da sua língua, antes mesmo que ele soubesse que iria usá-las. Assim são seus versos, de métricas próprias e palavras que se juntam, por vezes, em um flow único e contínuo. Molecote de tudo, ele cantou a juventude como podia, com hits dançantes e que funcionavam, com guitarras energéticas e bateria pulsante, muito bem nas pistinhas de dança mais descoladas do planeta. Pouco mais de dez anos depois, o sexto disco da banda, Tranquility Base Hotel & Casino, a ser lançado nesta sexta-feira, 11, segue para a direção oposta. Das pistas de dança quentes, ele segue para um piano bar a meia luz. Os cigarros vagabundos são trocados pela fumaça dos charutos. A cerveja quente dá lugar a um drinque servido em uma taça e decorado com uma azeitona.

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A partir de agora, Turner cria um ambiente burlesco e jazzístico para soltar sua verborragia, sem a preocupação com refrãos, pontes com volume crescente, riffs de guitarra pegajosos e viradas pulsantes de bateria. O Arctic Monkeys, uma das únicas bandas da geração de garage rock revival surgida no início dos anos 2000 a se manter na ativa (e no topo), agora, aposta no mínimo.

É uma jogada corajosa, inclusive. Porque AM, o disco anterior, lançado cinco anos atrás, lavou com alvejante o ar de moleques que Turner e companhia carregavam consigo desde os discos mais espevitados, como Whatever People Say, I’m Not e Favorite Worst Nighmare, de 2006 e 2007, respectivamente. Suas canções ganharam a maturidade trazida com a chegada dos 30 anos e, espertamente, o quinteto bebeu das referências roqueiras certas. O quinto e musculoso disco do Monkeys levou o grupo ao patamar dos grandes, com shows em estádios e arenas ao redor do mundo.

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Na casa onde mora, em Los Angeles, o rapaz natural de Sheffield, na Inglaterra, decidiu amassar a estética sonora da banda construída até ali e criar, do zero, seu novo som. Com um piano Vertegrand recém-adquirido, tentou compor canções a partir dele e não da guitarra ou do violão. O resultado está em Tranquility Base Hotel & Casino, o mais provocativo disco do Monkeys e, principalmente, um álbum a partir do qual a banda está, enfim, liberta. Podem seguir, a partir de agora, para a direção que quiserem - se é que querem, de fato, alguma direção.

A liberdade cobra seu preço, é claro. Há quem vá torcer o nariz para as influências jazzísticas de Tranquility, evidentemente. Vão existir aqueles incapazes de captar a referência bastante clara, ao longo do álbum do Monkeys, da música Aos Barões, uma balada de piano energizado de Lô Borges, o garoto gênio que, aos 20 anos de idade, já tinha composto o disco Clube da Esquina, com o amigo Milton Nascimento, e o lançado sua estreia solo, o chamado Disco do Tênis. Provavelmente, muita gente se incomodará com o modo de "contador de histórias" adotado por Turner durante as 11 canções, como uma espécie de Serge Gainsbourg do nosso tempo. Quer refrãos? Esqueça. Não vai encontrar.

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Mas há uma boa parcela de fãs que vai ouvir Star Treatment, a música de abertura, e vai sentir o cérebro em expansão, se mexendo e se contorcendo para entender a nova direção da banda. Gente que vai chegar ao fim do álbum, com The Ultracheese, sem muita certeza de gostou ou não do resultado final, mas vai entender o caminho percorrido por Turner e companhia para chegar até ali.

Arctic Monkeys no Brooklyn

Na noite desta quarta-feira, 9, dois dias antes da chegada do disco às lojas - embora ele já tenha vazado e possa ser encontrado para download ilegal pela web há alguns dias - o Monkeys viveu seu primeiro teste com Tranquility. Com um show no Brooklyn, bairro nova-iorquino onde o hype em torno todas das bandas da geração do garage rock liderada pelos Strokes se estabeleceu antes de ganhar o mundo, o grupo tinha diante de si um público de 1,8 mil pessoas, que encheram o espaço e esgotaram os ingressos em minutos. O valor da entrada, na venda normal, era U$ 55. A procura era tamanha que, em sites de revenda, o mesmo bilhete já custava US$ 250, ou mais.

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A imprensa local dizia ser um "show intimista" - e, para uma banda que está acostumada a tocar diante de milhares de pessoas até então, de fato, foi. Mas embora Tranquility Base Hotel & Casino não fosse o real protagonista da noite (dele, foram tocadas apenas quatro canções), é possível perceber que ele funciona muito bem em lugares fechados, provavelmente melhor do que em apresentações em arenas abertas.

A frente de olhares desconfiados - era o Brooklyn, afinal, bairro conhecido por frequentadores "entendidos" de música -, o Monkeys entregou uma apresentação segura. Do novo disco, vieram a jazzy One Point Perspective, a sonhadora American Sports, a arisca Four Out Five e She Looks Life Fun, mais roqueira, que ao vivo ganhou a participação de Cameron Avery, ex-integrante da banda australiana de rock psicodélico Tame Impala. As estrelas do repertório ainda são músicas do AM, responsáveis, por exemplo, por abrir o show (com Do You Wanna Know?), e encerrá-lo (com R U Mine?). Why'd You Only Call Me When You're High?, faixa que, despretensiosamente, recria toda a problemática dos relacionamentos modernos, foi o ponto de virada da apresentação.

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A partir dela (a quinta do show), e desse vazio embriagado sobre o qual ela canta, Turner estabelece seu transe. Vestido com calças vermelhas e justas e uma blusa de linho branca, o vocalista exibe o penteado novo, a cabeleira longa e solta. Ele, sozinho, vagueia entre a pose de rock star de outrora e de boêmio europeu dos anos 1950. Viaja, com saltos no tempo e no espaço, como suas canções executadas ali. É o fim da juventude, da inocência e das pistinhas mais fervidas e manhãs seguintes sem ressaca. As atitudes, agora, têm consequências. Bem-vindos à vida adulta, Monkeys. Ela é terrível, adoravelmente terrível.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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