Armada anuncia novo disco "Tales of Treason" e lança o single "São Paulo City"
Quatro dos membros fundadores são também remanescentes de outra banda, aliás, banda não, quase uma entidade do estilo no Brasil: o Blind Pigs
No início de abril, a banda paulistana Armada pegou fãs pela goela com o lançamento de um novo single "São Paulo City". Inesperada e bem-vinda, a faixa faz o abre-alas do novo álbum do grupo, programado para debutar em 10 de maio.
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Para algumas pessoas, o nome ainda pode não ligar os alertas, afinal o Armada conta com "apenas" 8 anos de estrada. Acontece que olhando mais de perto, é fácil reconhecer que quem compõe a banda é um pessoal nada virgem quando se trata de punk rock.
Quatro dos membros fundadores são também remanescentes de outra banda, aliás, banda não, quase uma entidade do estilo no Brasil: o Blind Pigs, que ano passado comemorou 30 anos navegando os mares bravios do underground nacional.
Henrike Baliú no vocal, Alexandre Galindo na guitarra, Mauro Tracco no baixo e Arnaldo Rogano na bateria, acompanhados pelo guitarrista da banda Não Há Mais Volta, Ricardo Galano.
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São Paulo City surfa em uma antiga influência dos músicos: o street punk e Oi! Acompanhada de um clipe, a música mostra as míticas noites paulistas em um clima perfeito para ouvir de moicano erguido e cerveja em punho.
O single é a primeira degustação do disco "Tales of Treason", cantado inteiramente em inglês que chega em breve às prateleiras de todo o mundo por meio da Pirates Press Records.
O álbum segue "Bandeira Negra" lançado em 2018 e o EP "Ditadura Assassina", que saiu em 2019.
O vocalista Henrike Baliú conversou com o Folha Vitória e falou sobre o processo de composição do álbum, a decisão por cantar em inglês e muito mais. E para quem quiser encontrá-lo, é fácil: ele sempre vai estar no bar, bebendo com a banda
Cara, em primeiro lugar a decisão de cantar em inglês com as duas bandas é bem diferente. Com o Armada o que rolou foi o seguinte: a gente lançou o Bandeira Negra pela Pirates Press Records. O dono da gravadora o Eric trocou uma ideia comigo e disse "Cara, o disco foi tão bem recebido por aqui, já pensou em fazer o Armada em inglês?" Eu disse que nunca tinha pensado, mas ele deixou a ideia no ar.
Eu falei com a banda e disse "olha, o Eric me ligou e deu a ideia da gente gravar em inglês" A banda toda adorou, aí não teve jeito (risos).
Quando a gente escreve em inglês, a coisa vem muito para o meu lado (Henrike é professor de inglês). Em português todo mundo da banda dá uma ideia aqui, outra ali, nem que seja uma palavra. "Escrevi uma frase para isso estrofe" ou "escrevi um verso aqui". É isso que amo no Armada, cada um coloca sua influência. Quando é em inglês, preciso ficar traduzindo.
E cara, tem coisas que você traduz e soa idiota, não fica legal a tradução. Foi a maior doideira, tinha coisa que eu escrevia e ficava animal, precisava traduzir para os caras e eles: hum, sei lá, ficou esquisito (risos). Muita coisa se perdeu na tradução, eu tive uma certa resistência, mas como o Armada é uma grande democracia, fizemos tudo juntos.
E outra coisa, a gente montou o Armada falando: não tenha expectativas, o segundo disco pode ser muito diferente do primeiro, então fizemos para ver o que ia acontecer. Fiquei super feliz com o resultado.
O Mauro contribuiu comigo nas letras. Ele foi meu aluno há 30 anos, quando ele tinha tipo uns 14, quando estávamos montando o Blind Pigs. Uma vez, durante uma aula, eu falei para ele: quer saber? Vamos um ouvir um punk rock, vai na minha (risos). Colocava os clássicos: Stiff Little Fingers, Forgotten Rebels, os 77, tipo Clash.
Quando a gente estava montando o Blind Pigs, eu falei para ele "Já que você curtiu, a gente está montando uma banda, estamos precisando de um guitarrista base. Eu não sei tocar, mas o Gordo pode te ensinar.
No primeiro show ele estava na plateia, no segundo estava na plateia, no terceiro ele já estava no palco com a gente.
Mas a ideia de cantar em inglês não foi "ah, vamos mirar no mercado externo". Foi mais para ver o que ia rolar, e já que está em inglês, vamos cantar um pouco sobre o Brasil para o gringo ver.
Vocês têm música sobre "London", "New York, New York" "Califórnia", aqui está uma música sobre São Paulo (risos).
Você falou sobre o Mauro, ele co-dirigiu o clipe, certo? Como foi essa experiência com ele?
Ele co-dirigiu com o Raphael e foi uma grande surpresa para mim, porque eu sabia que o Mauro trabalhava com audiovisual e tinha feito um curta, mas no Blind Pigs era mais difícil ele conseguir fazer algo.
Então ele disse para mim que ia dirigir o clipe de São Paulo City e eu disse: mano, por favor! Fui com zero expectativas, nem sabia o que ele queria filmar e aí me contou: vamos gravar para fora do carro, teto solar, cantando. Confiei 100%, assim como ele confia em mim para as artes dos discos.
Meu irmão, me surpreendeu de uma maneira absurda, eu assisti e fiquei de queixo caído com o resultado. Tudo bem "Do It Yourself".
O título do disco "Tales of Treason", traz bastante ainda esta questão da pirataria assim como o "Bandeira Negra", certo?
Acho que todo disco vai ter uma musiquinha com tema pirata. É aquela coisa, um tema pirata por estar por fora da lei. No "Bandeira Negra", só a música título fala sobre pirataria.
Para esse, quando sentei para fazer a capa fiquei bem perdido, então pensei: cara, vou puxar o tema pirata de novo. Tem uma música chamada "Battle Drums", que é sobre os tambores de batalha.
E "Tales of Treason", que é a faixa título, tem um porquê. "Treason" é o tipo mais alto de traição política, não é traição entre um casal, os crimes de traição em inglês são "crimes of treason".
Eu quis trazer algo subliminar com o Bolsonaro e a traição dele à democracia, os golpes contra a democracia.
O que gosto no Armada é porque ouço algumas músicas de vocês e penso "O Blind Pigs nunca faria isso".
Nunca, cara, porque o Blind Pigs tem uma fórmula, não pode fugir daquela fórmula. O Armada, quando montei junto com os caras, foi feito para ser uma banda para nunca mais ninguém precisar ter um projeto paralelo.
Você pode ir para o Armada e tocar o que quiser. Se o Galindo me disser "Henrike, fiz um rockabilly estilo anos 50 ou fiz um dub, algo meio Clash, anos 70", nós vamos tentar fazer. Esse disco específico quando a gente sentou para compor, ele veio de uma forma muito orgânica.
"São Paulo City" é uma música bem puxada para o street punk, né? Essa é mesmo a pegada do disco?
Cara, não adianta, o street punk está sim no disco, mas não tem muita música parecida com ela, é um disco mais punk rock. O próximo single, por exemplo, vai ser uma crítica à ditadura.
A música é super bonita, uma super crítica em inglês para o gringo ver o que aquela galera passou, porque o gringo não entende isso, essas duas décadas de trevas que o Brasil passou.
Também tem uma música "Wrong Side of America", sobre como é crescer do "lado errado da América", já que para muita gente gringa o sul da América é o lado errado, né?
E como foi fazer a tour de 30 anos do Blind Pigs?
Cara, foi mágico, tem uma coisa que rolou comigo nesses shows de 30 anos do Blind Pigs. No Armada é aquela coisa de eu entregar minha alma, coloco meu coração na banda. Com o Blind Pigs é uma coisa muito física, de tesão, de vir aquela fúria. Foi legal sentir essa fúria de novo em cima do palco.
A galera cantando "O Idiota", "Fuzis e Refrões", "7 de Setembro", dá uma pilha de energia muito louca, é muito diferente do Armada, que é uma coisa que a gente faz que é mais pessoal.
Tem letras que são bem pessoais, esse disco novo é um passeio pela história da minha vida, são coisas que eu não conseguia fazer com o Blind Pigs.
Mas na turnê a gente se divertiu demais com banda, vendeu demais como banda, pela primeira vez a gente conseguiu levantar um dinheiro legal com o Blind Pigs, principalmente com merchan.
Na verdade, principalmente com merchan, não foi nem com cachê. Muita gente depois dos shows vinha conversar com a gente e falar: foi incrível, pensei que nunca mais fosse ver o Blind Pigs, ou que nunca ia ver. Foi uma experiência muito legal, única.
E há planos para uma turnê gringa? Já que o disco vai ser lançado mundialmente
Cara, ainda não. A gente ainda está lançando o disco, sai por uma gravadora internacional, vamos ver o que vai rolar, não tem como criar muitos sonhos, expectativas, no Brasil. Vamos lançar o segundo single, o álbum sai dia 10 de maio.
Aos poucos o gringo ouve, a gravadora manda o disco, óbvio que eu gostaria muito de levar o som da banda para lá.
E no Espírito Santo?
Cara, vou te falar uma coisa, mesmo com a turnê do Blind Pigs, foi muito difícil conseguir shows em várias cidades, foi uma coisa que até me surpreendeu eu pensei que ia ser muito fácil e não foi.
Eu falei para a agência que queria tocar em Vitória, deixei claro que Vitória a gente tinha que tocar, mas não rolou. E a gente não estava pedindo um cachê de R$ 1 milhão, era um cachê ridículo.
Uma coisa que eu notei é que o público mudou muito, não é mais o mesmo público. Muita gente está em outra, desencanou da banda. Então, a gente queria muito tocar com o Armada, mas está difícil.
Eu estou com 50 anos, não dá mais para sair por aí numa aventura, sem lugar para ficar, para comer. A gente não conseguia van para você ter ideia.
Para fazer a turnê de 30 anos a gente alugou dois carros, os preços das vans estão proibitivos, vai todo seu cachê para a van. Eu dirigi 12 horas para o sul, depois fiquei duas semanas de cama.
Fui no quiroprata e ele falou: também, né? Dirigir durante 12 horas seguidas. Eu estou percebendo que está muito difícil conseguir shows bacanas fora de São Paulo.
E por fim, Henrike, moicano voltou para ficar?
Mano, como vou fazer uma turnê de 30 anos do Blind Pigs sem moicano? Blind Pigs com Henrike sem moicano não é Blind Pigs (risos). A turnê acabou e já estou com o moicano há alguns meses.
Daqui a pouco a gente começa a fazer coisas com o Armada e quer saber, cara? Eu acho legal, gostei de estar de moicano de novo, vou ficar com ele por um tempo.