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Entretenimento e Cultura

Aos 92 anos, cantor e compositor Charles Aznavour vem ao Brasil para shows

Aznavour é para a canção francesa aquilo que Frank Sinatra foi para a americana: um mito. E, como Blue Eyes, sua vida pessoal fascinou tanto quanto provocou polêmica

Estadão Conteudo

Redação Folha Vitória
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Aznavour é para a canção francesa aquilo que Frank Sinatra foi para a americana Foto: ​Divulgação
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Charles Aznavour não esquece de nada. Aos 92 anos, ativo como poucos, lúcido como tem sido cada vez mais raro encontrar, o compositor e intérprete francês de origem armênia se prepara para levar ao Brasil sua mais recente turnê oferecendo ao público o que dele se espera: nostalgia, em pequenas doses de poesia. A reportagem acompanhou em Paris o show que o autor de La Bohème e Formidable apresentará em São Paulo, em 16 de março, e no Rio, dois dias depois, e comprovou a vitalidade de um dos mestres da palavra cantada - um dos últimos de sua estirpe na música mundial.

Aznavour é para a canção francesa aquilo que Frank Sinatra foi para a americana: um mito. E, como Blue Eyes, sua vida pessoal fascinou tanto quanto provocou polêmica.

Nascido em 22 de maio de 1924 em Paris, filho de pais armênios em fuga da violência e do genocídio, recém-chegados e abrigados na França, o jovem Charles Arzanourian jamais deixou de lembrar sua origem e a influência da cultura de seus antepassados na sua arte. Talvez em parte por isso tenha sido tão agredido no início de sua carreira pela crítica francesa, incansável na reprovação à sua voz rouca, em que poucos apostavam. Ao longo de décadas, Aznavour conviveu com a desconfiança de uma certa crítica, mas pouco a pouco o público acabou conquistado. O resultado de uma carreira vitoriosa se vê hoje, quando o cantor sobe ao palco ao lado de sua orquestra, Formidable, dirigida por Eric Wilms e composta por nove músicos, dentre os quais a corista Katia, sua filha. Em mais de duas horas de espetáculo, Aznavour hipnotiza pouco a pouco sua audiência em direção a um final apoteótico, que emociona os fãs de carteirinha e não deixa nenhum de seus espectadores indiferente.

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A receita de sucesso desse show passa não só pela encenação sóbria e elegante, nem apenas pela voz rouca e fascinante do cantor, mas sobretudo por sua personalidade fascinante. Aznavour canta sobre o tempo passado, mas suas letras dizem muito sobre o presente. Em Paris, a abertura de seu concerto aconteceu com Les Emigrants, um de seus clássicos, que após a crise dos refugiados enfrentada pela Europa em 2015 ganhou um teor político inegável: "Comment crois-tu qu’ils sont venus?", interpela, respondendo a seguir: "Ils sont venus, les poches vides et les mains nues". (Em tradução livre "Como você acha que eles vieram", interpela, respondendo a seguir: Eles vieram, os bolsos vazios e as mãos nuas.")

À reportagem, Aznavour disse ter escolhido a canção "antes de mais nada porque é boa", mas também pela mensagem que sua letra porta em um momento de crescimento do populismo. "Eu sou um homem livre. Digo palavras que os outros não ousam", argumentou.

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Mesmo para os fãs mais apaixonados, o concerto terá surpresas. Entre mais de 20 canções que Aznavour entoa, uma dezena faz parte das preferidas do próprio cantor, e não necessariamente as mais populares. "O público brasileiro terá direito ao que eu chamo de descida ao inferno. É obrigatório", brinca, referindo-se ao set list. "Eu faço as pessoas me acompanharem lentamente. Não espero uma recepção calorosíssima, porque cabe a mim aquecer o espetáculo e acabar o show em alta", diz também.

Para tanto, o repertório partirá de músicas como Je n’Ai Pas Vu le Temps Passer, T’espero, Aspetto te, Paris au Mois d’Août, Nostalgies, La Vie Est Faite de Hasards e Avec Un Brin de Nostalgie, antes de chegar a clássicos como Mes Emmerdes, Hier Encore, Comme Ils Disent, Emmenez-Moi e La Bohême. Com um pouco de sorte, o público brasileiro terá direito a Formidable, que não entrou na lista em Paris.

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Amante da palavra escrita - está encantado pelo Nobel de Literatura a Bob Dylan -, apaixonado pela língua francesa e seus poetas, Aznavour compôs mais de 1,4 mil canções, transformadas em mais de 60 dias - um manancial infinito para escolher um set list. A seleção que apresentará, diz, reúne não só as letras que ele próprio considera mais refinadas, inteligentes e poéticas. "Eu não sou um poeta, sou um escritor de canções. Mas há um gosto de poesia nessas composições", afirma, lembrando de outros que se inspiraram do mesmo modo. "Eu não sou o único. Nas músicas de George Brassens ou de Vinicius de Moraes não se poderia mudar uma vírgula", entende, tecendo elogios "ao peso, ao sabor, ao ritmo e à cor" da música brasileira.

Os públicos paulistano e carioca verão um Aznavour em ótima forma, elegante, espirituoso, brincalhão, franco e carismático. Uma bela oportunidade para testemunhar o trabalho do astro que não esquece o passado - e que o futuro não vai esquecer.

CHARLES AZNAVOUR

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Espaço das Américas. Rua Tagipuru, 795, Barra Funda. Informações: 4003-1212. Dia 16 de março, às 22h. De R$ 150 a R$ 1.000.

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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