Economista comenta expectativas para o ES em 2015 e alerta sobre racionamento de energia
O economista Clóvis Vieira integra o Grupo Permanente de Acompanhamento Empresarial do Espírito Santo, que completou 25 anos de atuação no mercado no mês de novembro
Folha Vitória: Em recente reunião, o Grupo Permanente de Acompanhamento Empresarial do Espírito Santo projetou o resultado para o PIB próximo a zero, em 2015. Quais seriam os principais fatores responsáveis por este índice?
Clóvis Vieira: Podemos dizer que o ano de 2014 não existiu. Tivemos eleições, Copa do Mundo e outros eventos que, em seus momentos, paralisaram a atividade econômica e a política econômica nacional ficou frouxa. O governo não tomou as medidas necessárias. Imaginávamos um PIB de 2,5%, e chegamos ao final do ano com 0,2 ou 0,3%, um sinal de desaquecimento econômico. Chegamos ainda a uma taxa de inflação de 6,5%, e enquanto houver inflação elevada, não é possível baixar as taxas de juros. Temos um final de ano de elevado risco. Após o resultado das eleições, com a vitória de Dilma, a gente observa o seguinte: uma equipe econômica que mostra comprometimento com a austeridade. E precisamos de um controle da política fiscal. Temos que aplaudir a escolha, mas saber que a austeridade implica em cortes de despesas, e compromete ganhos sociais, como o “Minha Casa, Minha Vida”. A Dilma ainda terá que sanear a ação dos bancos públicos, analisar a recomposição do CID, que é o imposto sobre a gasolina, e rever a questão do IPI para automóveis, e ainda temos o risco de racionamento de energia. Então, o ano de 2015 dependerá da equação dessas questões. Não será um ano totalmente perdido, mas vai ser muito difícil. A gente não vê crescimento e, por isso, esse resultado próximo de zero.
FV: E o que podemos esperar para a economia capixaba ao longo do próximo ano?
CV: De forma geral, o Brasil teve poucos investimentos. Mesmo assim, o PIB do Espírito Santo cresceu um pouco mais, em comparação com o PIB nacional. Isso se deve às arrecadações de impostos portuários e industriais, por exemplo. Agora, o país está em baixa e o Espírito Santo depende de recursos federais. Se o Brasil não cresce, a transferência é reduzida. Há ainda riscos de o Estado perder incentivos como o ICMS no próximo ano, por conta da política fiscal.
CV: O governador eleito está ciente do cenário econômico nacional, e acho muito acertado a política de atração de investimentos que ele está propondo. É uma política muito forte, que já é desenvolvida em outros estados, como é o caso de São Paulo. Ele também está pensando numa secretaria de Desenvolvimento forte. Isso é uma forma de colocar o Estado no contexto nacional, além de driblar as dificuldades internas da política nacional. Vejo esse tipo de atitude como algo muito positivo. Agora, essas questões de déficit estão muito polêmicas, e prefiro não comentar sobre isso.
FV: Anteriormente o senhor falou da possibilidade de enfrentarmos racionamento de energia. Quais os riscos para o Espírito Santo? Existem saídas para as indústrias capixabas?
CV: Há muito tempo a gente já alertava para este risco. Aqui no Estado, tínhamos a Aspe (Agência de Serviços Públicos de Energia do Espírito Santo), que tratava dessas questões, mas há algum tempo parece que está parada. A energia eólica, e também a energia do etanol seriam algumas das fontes para equacionar isso. Mas o Espírito Santo e o Brasil vão perder por não terem feito o exercício de casa no tempo certo. Não temos condições para suprir a demanda do mercado produtivo.
CV: As obras do Aeroporto de Vitória, se realmente forem finalizadas, vão suprir grande parte da demanda do Espírito Santo. O lado comercial terá mais linhas de atuação. Hoje, por exemplo, enfrentamos muitas dificuldades para exportar o mamão papaia. Somos um dos maiores produtores do país, e o fruto só pode ser exportado via aérea. Para isso, temos que mandá-lo para o Rio de Janeiro, para que de lá seja feita a exportação. O mesmo problema é enfrentado pelos exportadores de mármore. Então, as obras devem melhorar o comércio, além de oferecer mais conforto aos turistas. Mas, destaco ainda a importância do desenvolvimento dos aeroportos regionais. Temos quatro no Estado, que não saíram do papel. São aeroportos fundamentais para a atividade do petróleo, e também ajudariam a não sobrecarregar o Aeroporto de Vitória. Outra coisa que precisamos discutir são as ferrovias. Recentemente vi que o governador eleito, Paulo Hartung, foi ao Rio de Janeiro para buscar soluções logísticas para o Estado, e brigar por uma rodovia ligando o Estado ao Rio. Essa integração tem mesmo que ser discutida, e vejo isso com muita objetividade.
FV: Como o senhor analisa o cenário do Espírito Santo para o turismo de negócios? Em quais aspectos ainda é preciso avançar?
CV: O turismo no Espírito Santo é algo complexo. Muitos não conhecem bem. É preciso de uma divulgação maior. Temos hotéis e restaurantes muito bons, o que falta é vender essa imagem e motivar as pessoas. A gente tem tudo para dar certo. Temos grandes centros de eventos, e já conseguimos trazer shows internacionais, ou seja, um tabu que foi rompido. A Copa do Mundo foi uma grande oportunidade para nós, mas aproveitamos pouco. Poderíamos ter divulgado muito mais. O Espírito Santo tem que tirar mais proveito de sua imagem, criando uma mensagem forte.