Negócio Delas: roupas doadas geram renda em bazar para mulheres em Vitória
Participantes do projeto social podem pegar os itens, de forma consignada, para vender e ficar com o lucro. Elas também passam por capacitação como empreendedoras
Desenvolver o empreendedorismo feminino, capacitando mulheres para terem seu próprio negócio e uma renda extra. Tudo isso tendo como pano de fundo a sustentabilidade por meio da moda circular, que aproveita roupas em ótimo estado, mas que já não vinham sendo usadas, aumentando seu tempo de vida útil.
Essa é a ideia de um projeto social que vem sendo desenvolvido há cerca de um ano pelo Instituto João XXIII, localizado no bairro Consolação, em Vitória.
Trata-se do bazar Negócio Delas, que beneficia mulheres do chamado "Território do Bem", que engloba nove bairros da região, mas também conta com a participação de moradoras de outras partes da Grande Vitória.
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Basicamente, o Negócio Delas consiste na venda, por parte dessas mulheres, de peças de roupas, calçados e acessórios que são doados à instituição. Antes de começarem a vender, elas são cadastradas no projeto.
Em seguida, as participantes podem pegar essas peças, de forma consignada, para tentar comercializá-las. Elas mesmas escolhem o que vão levar.
Caso consiga fazer a venda, ela paga pela peça e fica com o lucro — que é definido pela própria empreendedora. Mas se não conseguir, pode trocar por uma outra, sem pagar nada por isso.
As doações são recebidas em diversos pontos na Grande Vitória. As caixas de coletas são disponibilizadas em condomínios localizados em bairros nobres e também em centros comerciais.
Toda peça doada é encaminhada ao instituto, para que as participantes do projeto façam uma triagem. Em seguida, os itens são catalogados.
Os que estiverem em melhor estado e tiverem maior qualidade são separados para venda ao público. Já os de qualidade inferior ou mais desgastados são repassados para nova doação ou vendidos em saldões.
O depósito das roupas, calçados e acessórios fica na sede do Instituto João XXIII e hoje conta com mais de 500 itens, que ficam à disposição do bazar.
Ao final de todo mês, todas as participantes do projeto social prestam contas, informando sobre o que venderam e o que devolveram ao estoque.
De acordo com o coordenador do projeto, Gustavo Pacheco, a ideia do bazar, que teve início em novembro do ano passado, foi possibilitar uma renda extra para as mães das crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social atendidas pelo instituto, além de capacitá-las como empreendedoras.
Com o passar do tempo, algumas obtiveram tanto sucesso com as vendas que o negócio passou a ser sua fonte principal de renda.
"Teve uma participante do projeto que tinha renda familiar de R$ 800 e conseguiu passar para R$ 1,8 mil. Ou seja, as vendas aumentaram em R$ 1 mil sua renda", frisou Gustavo.
A forma como as peças são vendidas é variada. A maioria das empreendedoras opta por comercializar os itens de casa ou criar um negócio online, especialmente por meio das redes sociais ou grupos de mensagens.
Mas há também aquelas que criam sua própria lojinha física. É o caso de Andréa Marcelino, que decidiu transformar a iniciativa em seu próprio negócio.
Ela conta que trabalhava como diarista e, no tempo livre, começou a vender roupas de casa. Só que as vendas deram tão certo que ela decidiu abrir a loja e se dedicar exclusivamente ao negócio.
"Fiquei trabalhando como diarista durante um ano e meio. Estava com dois dias livres na semana, que eu precisava estar fazendo alguma coisa. Comecei com bazar, com algumas peças que eu já tinha em casa e dei continuidade. Fui trabalhando e depois vi que o negócio poderia dar tão certo, que eu decidi que era hora de eu parar com as minhas faxinas. Aí eu saí do serviço e estou tocando só a lojinha hoje em dia", conta.
Já a dona de casa Katiuscia Bastos da Silva, outra empreendedora cadastrada no bazar, optou por vender suas roupas pela internet ou diretamente para familiares, amigos e vizinhos. Além disso, comercializa suas peças em feirinhas no bairro.
Ela conta que também faz trabalhos com MDF, mas tem tido mais lucros com o Negócio Delas, onde já conseguiu lucrar mais de R$ 1 mil.
"As pessoas têm um conceito sobre bazar, mas quando fui conhecer, vi que era totalmente diferente do que imaginava. As peças são de ótima qualidade, nada de roupa velha, suja e rasgada. Não precisamos gastar para vendermos roupas de marca. É uma excelente fonte de renda, que tem ajudado muito no orçamento familiar".
Outra participante do projeto é a autônoma Eliete Barbosa Rodrigues. Ela destaca que o bazar, além de ser uma ótima fonte de renda, tem melhorado bastante o seu aspecto emocional.
"Minha mãe fraturou o fêmur e eu precisei sair do serviço, pedir demissão. Foi uma fase bem complicada para mim. Eu cheguei a ter ansiedade, depressão. E aqui no projeto você tem várias oficinas que te treinam emocionalmente. Não é só uma coisa de dinheiro. Eles cuidam também do emocional da gente".
Como participar do projeto
Para fazer parte do projeto, a interessada pode entrar em contato diretamente com o coordenador do projeto, Gustavo Pacheco, pelo telefone (27) 99647-4246.
Ao se cadastrar no Negócio Delas, a participante recebe um kit, chamado Kit Delas, contendo uma bolsa para carregarem seus produtos, uma camiseta do projeto, caneta, um caderno para anotações, adesivos e um talão de recibo, para entrega aos clientes e controle das vendas.
As peças podem ser retiradas para venda toda terça e quinta-feira pela manhã, das 8 às 11 horas. Além de irem ao local escolherem as peças que serão vendidas, as mulheres podem tirar qualquer tipo de dúvida.
O bazar Negócio Delas conta com parcerias com o Sebrae-ES, Bem Comum e Acacci, e é financiado pelo Fundo Comunitário Capixaba (FIC) da Federação das Fundações e Associações do Espírito Santo (Fundaes).
Além disso, conta com o apoio do Instituto Americo Buaiz (IAB), para a divulgação do trabalho.
O IAB tem apoiado a moda circular e, durante os meses de outubro e novembro, tem concentrado seus esforços no apoio ao bazar Negócio Delas e em outros dois projetos: o "Fazendo Arte", do Instituto Bem Brasil, e a loja "Cabide do Bem", do Asilo de Idosos de Vitória.
Já o Sebrae-ES é o responsável pela capacitação técnica em empreendedorismo social das mulheres que participam do projeto. Pacheco destaca que, atualmente, cerca de dez mulheres participam ativamente do bazar, mas muitas outras já procuraram o projeto para se qualificar em outras áreas.
"Algumas, por exemplo, trabalham vendendo salgados, outra com unha. Então elas se capacitam com o Sebrae para aplicarem aquele conhecimento em seu negócio. Para participar do bazar, é necessário frequentar os encontros e as capacitações que são feitas".
A coordenadora de projetos sociais do Instituto João XXIII, Mônica Boiteux, destaca que o projeto social também é uma excelente oportunidade de confraternização e troca de experiências entre as moradoras do Território do Bem.
"Além dessa parte financeira, desse empoderamento de gerir melhor as despesas da sua família, levando mais dinheiro para dentro de casa, elas também têm esse encontro com outras mulheres. É um espaço delas também, onde elas trocam experiências. É um bem-estar social, tanto na parte financeira quanto na parte emocional delas. Ver que a gente não está sozinha em algumas questões que a gente imagina que esteja".
Mônica Boiteux também ressalta a importância ambiental do projeto, pautado, entre outros pilares, na sustentabilidade.
"A moda, o vestuário trazem sempre uma novidade, uma beleza. A gente une aqui esse prazer de trabalhar com coisas bonitas com a questão da sustentabilidade, porque a gente trabalha com moda circular, evitando descartes e prolongando a vida dessa roupa. É um projeto que só tende a crescer, com todos esses benefícios que essa proposta trouxe a essas mulheres".