O plantio de Eucalipto estraga ou recupera o solo?
Nas décadas de 70 e 80 houve um plantio desordenado no Brasil, por isso, as plantações de eucalipto acabaram ganhando o apelido de "deserto verde"
Quem nunca ouviu falar que o eucalipto estraga o solo e impede o plantio de outra cultura? Esse é um dos maiores mitos em torno desse cultivo e até hoje muita gente acredita nisso.
Há sete anos a dona Maria das Graça aceitou o desafio e viu literalmente o tal mito "cair por terra". Ela recebeu cerca de um hectare de terra na região de Aracruz, norte do Espírito Santo, em forma de comodato. Era uma solo que recebeu plantio de eucalipto por 30 anos.
Sabe o que hoje tem na terra da dona Maria das Graças? Nada menos que acerola, limão banana, café, goiaba, abacaxi e pimenta do reino.
"Cada momento que eu chego aqui, eu sinto mais vida, é um prazer cultivar tudo isso. Há sete anos isso aqui não tinha nada. É uma satisfação muito grande. Os engenheiros e agrônomos ensinaram as técnicas pra gente e foi um casamento perfeito", comemora.
A família da dona Graça é uma das 264 da região que fazem parte do programa de desenvolvimento rural territorial da Suzano- Papel e Celulose. A empresa faz a seleção por meio das associações de produtores e busca justamente quem pratica a agricultura familiar. Depois ajuda com o comodato, insumo e assistência técnica.
"Esse programa busca autonomia das comunidades e famílias que estão em torno da empresa. Hoje essas famílias conseguiram fundar cooperativas para ter acesso a políticas públicas e editais. Assim se desenvolvem e se tornam independentes", conta o engenheiro agrônomo, Gerson Peixoto.
De onde vem os mitos sobre eucalipto?
Desde a década de 60 começaram os mitos sobre o eucalipto, de que a plantação estragava a terra e consumia muita água. Estudiosos acreditam que isso surgiu por causa do insucesso das primeiras das florestas plantadas.
Não havia conhecimento técnico sobre essa cultura que na época era nova. E as notícias se espalhavam. Nas décadas de 70 e 80 houve também um plantio desordenado no Brasil e as plantações de eucalipto acabaram ganhando o apelido de "deserto verde".
Por incrível que pareça algumas dessas crenças persistem até hoje, mas com o grande avanço tecnológico e as regras ambientais para o plantio, não é difícil desconstruir os mitos.
Recuperação de áreas degradadas
O Espírito Santo tem hoje quase 400 mil hectares de áreas degradadas. Mas o que significa isso? Quer dizer que ao longo dos anos aquele solo perdeu mais da metade da camada superficial, justamente aquela que é mais produtiva. E como isso acontece? Com o pisoteio do gado e com a erosão, por exemplo. Um estudo do Cedagro (Centro de Desenvolvimento do Agronegócio) mostra que 17% da área agrícola do Estado está degradada.
O que muita gente não sabe é que o plantio de eucalipto ajuda a recuperar essas áreas danificadas. O solo é preparado para o plantio e depois de seis ou sete anos, quando a colheita é feita, cascas, folhas e galhos (que tem 70% de nutrientes da árvore) permanecem no local e incorporam-se ao solo como matéria orgânica.
"Nós temos estudos que mostram que 19 anos depois do cultivo do eucalipto em terra que estava degradada, a camada superficial do solo cresceu 18 centímetros e isso é muita coisa. A erosão diminuiu com o plantio e o solo se recuperou. Em 1992, o Estado tinha 600 mil hectares degradados, hoje são 400 mil e ainda temos muito a fazer", afirma o presidente do Cedagro, Gilmar Dadalto.
O subsecretário de agricultura do Estado, Michel Tesh Simon, acredita que a recuperação das áreas degradadas com a plantação de eucalipto pode alavancar ainda mais o desenvolvimento do Estado no setor:
"A celulose é um produto que está atrelado ao mercado mundial, mas temos áreas passíveis de produção e muita tecnologia para o plantio do eucalipto aqui no Espírito Santo. Essa cultura evoluiu muito nos últimos anos, temos o cuidado ambiental nos grandes cultivos, através do licenciamento ambiental, então podemos crescer ainda mais, caso o mercado absorva"
Consome mais ou menos água?
Sabia que o eucalipto s´ó precisa ser irrigado na época do plantio? Com os melhoramentos genéticos feitos na planta, ela ganhou mais tolerância a condições adversas de solo e clima, e consegue ser mais eficiente no consumo de água. Na comparação abaixo é possível entender bem.
“Numa plantação bem manejada, as raízes retiram os nutrientes do solo e os devolvem como matéria orgânica: as folhas secas. Isso recupera a fertilidade da terra, fazendo com que absorva mais água e contribua para o lençol freático”, afirma o engenheiro florestal Walter de Paula Lima, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, SP, autor do livro O Impacto Ambiental do Eucalipto.
Plantio correto
O planejamento e o plantio correto são o segredo para que o eucalipto não prejudique o meio ambiente e garanta todas as vantagens ao solo.
"É preciso conhecer bem a terra, ficar atento ás áreas de preservação, não plantar perto de cursos de água e nascentes e fazer um bom preparo do solo. Plantar eucalipto com diferentes idades também é recomendado", explica o engenheiro florestal, Guilherme Christo.
Veja mais no vídeo abaixo:
Mosaico e policultivo
Pra quem ainda imagina aquelas áreas enormes apenas com eucalipto não conhece duas modalidades que estão sendo cada vez mais usadas: o mosaico e o policultivo com agroecologia.
O mosaico florestal é quando há plantação de eucalipto e de florestas nativas, como a Mata Altântica. É uma técnica que considera a paisagem florestal como um “quebra-cabeça” de diferentes culturas, para conciliar desenvolvimento econômico e conservação ambiental.
A Suzano utiliza o método nas plantações. Entre a vegetação nativa e as florestas de eucalipto, ficam corredores ecológicos para que a fauna e a flora possam circular livremente. O manejo promove uma convivência harmoniosa que reflete em ganhos para a biodiversidade e para a produtividade.
E não é só isso:
"O plantio em mosaico ajudou a aumentar a floresta natural no Espírito Santo. Os pássaros disseminam as sementes dessas áreas para terras próximas e acontece uma regeneração natural da área", comemora o presidente do Cedagro, Gilmar Dadalto.
Já o policultivo acontece quando, ao lado da plantação de eucalipto, acontece o cultivo de outras culturas como café, mandioca, abacaxi e banana, por exemplo. A técnica é usada no programa de desenvolvimento territorial rural (PDRT) feito em parceria pelo Cedagro e pela Suzano.