'O mercado estava com excesso de otimismo', diz professor da PUC-Rio
Rio de Janeiro - A decepção na atividade econômica em agosto apontada pelos indicadores tanto do Banco Central quando da Fundação Getúlio Vargas já era esperada, e a frustração de expectativas deu-se por um excesso de otimismo entre agentes do mercado financeiro, avaliou José Márcio Camargo, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e economista-chefe da Opus Investimentos. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,91% em agosto ante julho, enquanto o Monitor do PIB da FGV teve retração de 1,61% no período. Segundo Camargo, a retomada do PIB do País só ocorrerá a partir do primeiro trimestre de 2017. A seguir, trechos da entrevista.
Dois indicadores diferentes trouxeram decepção com a atividade econômica em agosto. É um soluço? Ainda se pode dizer que há recuperação em curso?
Acho que principalmente o mercado financeiro ficou muito otimista. Para mim, não foi nenhuma surpresa. Existe uma correlação muito grande entre expectativas e crescimento da economia. A razão pela qual as expectativas melhoraram nos últimos meses foi porque teve mudança de governo. Mas isso não faz as pessoas voltarem a investir. As pessoas só vão voltar a investir quando tiverem alguma certeza de que a economia vai retomar.
Em agosto, indústria, varejo e serviços mostraram perdas, depois de aparente melhora. O que falta para que essa melhora de fato se concretize?
Falta ter mais certeza do que vai acontecer com a economia. A aprovação da PEC 241 vai tornar a situação fiscal mais sustentável. Uma vez aprovada, o horizonte vai ficar mais longo. Se além disso aprovar a reforma da Previdência, o horizonte vai ficar mais longo ainda. À medida que vai aprovando o necessário para organizar o sistema econômico, vai aumentando a confiança das empresas e dos trabalhadores. Isso vai fazer com que as pessoas consumam mais, tenha mais demanda, mais investimentos, e a economia retoma a trajetória de crescimento. Isso deve acontecer só no começo do ano que vem. Acho que houve erro das expectativas dos agentes e do mercado financeiro.
Após um jejum de quatro anos, o BC voltou a cortar os juros. Isso melhora as expectativas para uma retomada no ano que vem?
A minha avaliação é que vamos ter melhora na atividade a partir do primeiro trimestre do ano que vem. A taxa de desemprego deve continuar aumentando até o primeiro trimestre de 2017, e a partir do segundo deve começar a cair. Mas uma queda lenta. A redução dos juros vai ajudar, mas é fundamental que o BC tenha certeza que a redução da Selic não vai gerar pressão inflacionária. É muito importante que as expectativas para inflação de 2017 e 2018 estejam na meta para que redução da taxa de juros seja sustentável e gere efetivamente investimentos.
Numa situação como a do momento atual, com desdobramentos da Lava Jato, sempre existe risco de alguma paralisia política no meio do caminho. Mas minha avaliação é que esse risco é relativamente pequeno. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.