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Economia

Fundos reduzem à metade exposição a setor de construção

Estadão Conteudo

Redação Folha Vitória
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São Paulo - O peso do setor de construção nos fundos de investimentos em ações livres caiu pela metade nos últimos três anos, de acordo com estudo da consultoria financeira Risk Office feito a pedido do Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Dados compilados ao fim de cada quadrimestre entre abril de 2010 e agosto de 2014 mostraram que a exposição dos fundos às ações de empresas de construção atingiu um pico de 10,6% do patrimônio líquido em agosto de 2011, recuando continuamente até atingir 4% em agosto deste ano.

O levantamento englobou 51 fundos de ações livres com patrimônio líquido mínimo de R$ 100 milhões. Juntos, eles totalizam R$ 9,35 bilhões em recursos geridos. Esses fundos não têm os índices da bolsa como referência e, portanto, possuem maior liberdade para alocação dos papéis.

No Índice Bovespa, o peso do setor de construção aumentou de 6,5% em abril de 2010 para um pico de 10,6% em agosto de 2012 e depois recuou continuamente, atingindo 1% em agosto deste ano. É preciso ponderar, no entanto, que a queda foi intensificada pela mudança de metodologia na formação do Índice Bovespa.

Cenário

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O corte na participação dos papéis de incorporadoras e construtoras nos fundos de ações pode ser explicado, em boa parte, pelos problemas operacionais das empresas e pela debandada de investidores estrangeiros, segundo Jorge Simino, diretor de Investimentos e Patrimônio da Fundação Cesp. "As companhias cresceram muito rapidamente a partir de 2005 (quando começaram as aberturas de capital), mas não estavam preparadas para esse processo e logo passaram a enfrentar problemas de coordenação do trabalho nos canteiros de obra", afirmou.

Após a capitalização, as companhias decidiram aumentar o volume de lançamentos de novos projetos imobiliários, partindo para cidades onde não tinham experiência de atuação, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Ao mesmo tempo, optaram por produzir imóveis de padrões diferentes, desde apartamentos de luxo até aqueles para compradores de baixa renda, enquadrados no Minha Casa, Minha Vida.

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Esse crescimento acelerado das empresas causou descontrole na gestão dos canteiros e superaquecimento do mercado imobiliário, agravado pela falta de mão de obra e insumos. O resultado é conhecido: estouros nos orçamentos das obras, atrasos na entrega dos imóveis e cancelamentos de vendas, fatores que até hoje corroem a lucratividade das incorporadoras. Diante disso, muitos estrangeiros deixaram de investir no setor, conforme observa Simino.

A rápida expansão da atividade também gerou problemas de governança corporativa. Um dos motivos é que as grandes incorporadoras fizeram parcerias com empresas terceirizadas locais, que passaram a coordenar trabalhos nos canteiros de obras. A prática se mostrou ineficaz pela falta de padronização dos trabalhos e dificuldades de acompanhamento. Hoje, as parcerias são mantidas apenas em uma pequena parte dos projetos.

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O analista da Gradual Investimentos, Flávio Conde, acredita que os bancos e corretoras também tiveram sua dose de culpa ao avaliar as ações das empresas de construção acima do preço justo após os IPOs. "Lá trás, a precificação estava muito pra cima", disse. "Quando uma empresa ou um setor novo entra na bolsa, o mercado demora um pouco para entender qual a precificação certa", observou.

Conde explicou que as demonstrações de resultados das incorporadoras têm muitas particularidades que dificultam o valuation. Um dos problemas é o reconhecimento de receita à medida que a obra evolui, e não segundo as vendas. "No balanço, é grande a diferença entre o que se contabiliza de receita no período e o quanto entra no caixa de fato."

Isso distorce outras linhas contábeis, como é o Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) e inviabiliza o valuation feito pelo múltiplo EV/Ebitda (razão entre valor da firma e Ebitda), amplamente utilizado em outros setores. Segundo Conde, analistas de construção penam até hoje para achar a metodologia ideal para o cálculo do valor justo da ação.

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"Parte da culpa por essa precificação errada é da própria contabilidade do setor, e parte é do discurso das empresas por projeções que não se concretizaram", completou o analista da Gradual, referindo-se à discrepância entre a geração de caixa, com oscilações recorrentes, e as estimativas anunciadas pelos executivos.

Ações preferidas

O estudo feito pela consultoria financeira Risk Office para o Broadcast mostrou que, em abril de 2010, os papéis com maior alocação nos fundos de ações livres eram da Brookfield, com 1,37% do patrimônio líquido dos fundos, e Gafisa, com 1,11%. A preferência por Brookfield atingiu um pico de 1,85% em dezembro de 2010, enquanto Gafisa teve seu auge em agosto de 2011, com 1,92%.

A partir desses patamares máximos, essas duas companhias começaram a perder terreno. Em agosto deste ano, Brookfield caiu para 0,10%, e Gafisa, 0,01%.

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Em paralelo, Direcional e EZtec avançaram. Em agosto, os papéis do setor de construção com maior alocação dos fundos de ações livres eram Direcional, com 0,59%, e EZtec, com 0,45%. No mesmo mês de 2010 Eztec tinha peso de 0,41%, e Direcional, 0,37%.

A diminuição de Brookfield e Gafisa está relacionada aos problemas operacionais das duas, que reportaram prejuízo por diversas vezes e entraram em processo de reestruturação, assim como outras concorrentes. Para Brookfield, a situação foi ainda pior porque a empresa esteve envolvida nas investigações em 2013 sobre o pagamento de propina a membros da Prefeitura de São Paulo para liberação de obras. Neste ano, ela anunciou que fechará o capital.

Para Celson Plácido, da XP Investimentos, a preferência pela Direcional se deve ao trabalho da incorporadora com a renda mais baixa do programa de financiamento habitacional Minha Casa, Minha Vida. "É a faixa mais beneficiada pelo governo", afirmou. "Diversas companhias do setor tentaram trabalhar com essa faixa e não tiveram esse êxito."

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Já a EZtec ganhou espaço em função de seus números positivos. "É a empresa com os melhores resultados do setor", afirmou Conde, da Gradual Investimentos. A incorporadora foi muito criticada por optar por um ritmo de crescimento mais moderado anos atrás, enquanto as concorrentes dobravam de tamanho. A estratégia mais cautelosa se mostrou acertada e a companhia não passou pelos mesmos atrasos de obras e estouros de orçamentos que as demais. Com isso, a EZtec tem hoje as maiores margens do segmento. "É a queridinha", resumiu Conde.

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