Receita Federal pretende usar drones subaquáticos para flagrar drogas em navios no ES
Uso do equipamento tem o objetivo de fechar ainda mais o cerco contra a passagem de entorpecentes pelo Porto de Vitória com destino a outros países
A Receita Federal (RF) é responsável pela administração dos tributos federais, cadastro de pessoas físicas e jurídicas (CPF e CNPJ respectivamente) e controle da zona portuária do país. É também papel da instituição o combate ao tráfico internacional de drogas e ao contrabando e descaminho por meio dos portos brasileiros.
No Espírito Santo, a RF monitora este tipo de crime através da Alfândega do Porto de Vitória, órgão responsável por, em conjunto com a Polícia Federal (PF), realizar operações que miram, principalmente, o crime organizado e o tráfico de entorpecentes que passam pelo Brasil por via marítima, vindo dos países onde os entorpecentes são produzidos.
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Com o objetivo de fechar ainda mais o cerco contra a passagem de drogas pelos portos do país, entre eles o de Vitória, a Receita pretende fazer uso de drones subaquáticos durante suas operações. A Alfândega da Capital está na lista de pretensões da RF para receber o equipamento.
Em conversa com a reportagem do Folha Vitória na quarta-feira (24), no gabinete da delegada da Alfândega de Vitória, Adriana Junger, a coordenadora-geral de Combate ao Contrabando e Descaminho do Ministério da Fazenda (MF), Karen Yonamine Fujimoto, confirmou que os drones subaquáticos podem ser, sim, mais uma ferramenta aliada no combate ao tráfico de drogas por meio dos portos brasileiros.
Ela ainda ressaltou que o uso do equipamento em território brasileiro ainda está em fase de testes, devido principalmente à diversidade da água dos mares, que muda de acordo com cada região do país.
"Ainda estamos em teste porque a água, de Norte a Sul do país é muito diferente. A do sul é muito mais turva e escura, por exemplo. Já no nordeste ela é mais clara e mais tranquila. Então, às vezes um drone submarino atende a um lugar, mas não atende a outro, em função dessas características", ressaltou Karen Yonamine.
A coordenadora-geral também destacou que praticamente todas as aduanas do mundo têm tentado o uso dos drones subaquáticos como aliados no enfrentamento ao tráfico de entorpecentes e contrabando. Como exemplo ela cita o Canadá e a Holanda como países que já dispõem dessa tecnologia.
Drones subaquáticos fazem raio-x de cascos de navios
Uma das principais funções dos drones subaquáticos, ainda segundo explicou karen Yonamine, juntamente com a delegada Adriana Junger, é fazer uma espécie de raio-x no casco dos navios, com intuito de identificar alguma alteração suspeita neste compartimento da embarcação, que é onde geralmente drogas e mercadorias contrabandeadas são transportadas.
O equipamento desliza pela superfície e escaneia as imagens registradas durante a inspeção realizada.
A imagem abaixo ilustra um modelo de drone subaquático:
A representante do Ministério da Fazenda, no entanto, adianta que não se trata apenas de adquirir os drones para auxiliar nas operações.
Ela alerta que é preciso, também, pensar na mão de obra que a adesão dos equipamentos ocasionará, já que além do investimento financeiro, será necessária a aplicação de recursos visando à formação dos profissionais que deverão operar os drones.
Drogas que passam pelo Porto de Vitória saem de países produtores
Mapeamento feito pela Receita Federal, em conjunto a PF e demais órgão de segurança e inteligência, aponta que a maioria da droga, neste a caso a cocaína, que passa pelos portos brasileiros, entre eles o de Vitória, sai de países produtores, como, por exemplo, Bolívia, Colômbia e Peru.
Já no caso da maconha ela sai do Paraguai para ser distribuída em outros países. As drogas sintéticas, por sua vez, têm como origem os países europeus, sendo a Holanda um deles.
"Os Estados Unidos agora também estão começando a produzir maconha, entrando na lista de países de onde a droga sai e passa pelos portos brasileiros com destino à Europa", contou Karen Yonamine.
Confira o caminho da droga:
Cerco fechado contra o tráfico de drogas pelos portos
Antes de detalharem parte das iniciativas tomadas pela Receita para combater o tráfico de internacional de drogas por meio dos portos brasileiros, Karen Yonamine e Adriana Junger, afirmaram ser importante entender, primeiro, como é feita a divisão do território a ser monitorado pelas autoridades competente.
Segundo elas, o combate ao tráfico de drogas no Brasil por parte da RF é dividido em duas zonas:
- Zona primária: que são portos, aeroportos e pontos de fronteiras alfandegários.
- Zona secundária: que é o que sobra do território do país.
Na zona primária é feita uma análise de risco, onde normalmente são realizadas abordagens, em conjunto com outras polícias, para a retenção e recolhimento da droga apreendida. Atuação acontece em conjunto com a PF. Há operações que contam com a participação da Marinha, especialmente as visam encontrar droga transportada em navios.
"Um das principais dificuldades para combater o tráfico de drogas por meio dos portos é questão geográfica. É um território imenso, que exige muito esforço e constante monitoramento. No entanto, a Receita Federal tem investido cada vez mais ferramentas que parcerias que ajudam nesse trabalho que é feito diariamente", ressaltou a delegada da Alfândega de Vitória.
Atualmente, a Receita Federal tem, em seu arsenal de "armas" utilizadas no enfrentamento ao tráfico internacional de drogas por meio dos portos, de cães a helicópteros, conforme o mostra o gráfico abaixo:
Mesmo a Receita Federal dispondo de mecanismos cada vez mais sofisticados, tanto Adriana Junger quanto Karen Yonamine defenderam, na conversa com a reportagem, que o combate ao tráfico internacional de drogas, uma das principais bandeiras da instituição, se torna ainda mais eficiente com o apoio do Poder público, das polícias e da sociedade como um todo.
Apreensão de 1,5 tonelada de cocaína em navio foi a maior do ES
Em novembro do ano passado, 1,5 tonelada de cocaína foi apreendida em um navio atracado no cais da VPorts, antigo Porto de Vitória, considerada a maior apreensão de drogas em portos realizada no Estado.
A apreensão ocorreu por meio de uma ação da PF em conjunto com a Receita Federal, após informações recebidas pelo Serviço de Inteligência, as quais indicavam que a embarcação seria usada para transportar drogas para a Europa.
Ao todo, foram encontrados e apreendidos 1.594 quilos de cocaína dentro do navio, divididos em 52 fardos.
O navio teria partido de Hamburgo, na Alemanha, passando por portos de Buenos Aires, na Argentina, Santos, em São Paulo, e Rio de Janeiro.